quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

FIC - BORBOLETAS NO CORAÇÃO - CAPÍTULO 8 - AUTORA: SÔNIA FINARDI

VIII

Até que a risada virou um silêncio perturbador...
- Estou começando a achar que minha tia tem razon...  Você mexe com a química do meu corpo, gatinha! – E a ajeita ainda mais sobre si - Isso tem que acontecer, Rosa...
- Eu sei...
Foi tudo que ela disse antes de sentir os lábios de Claude forçando os seus a se abrirem e invadir a sua boca...
- Misericórdia! – Escutam a voz de Dadi, parada na porta da casa – Eu ouvi o barulho, vim correndo... é... acho melhor ir embora...
- Não, Dadi! Espera, não é nada do que você está pensando! - Fala Rosa, saindo abruptamente de cima de Claude – A escada tombou e eu caí sobre o Claude...
- D. Rosa, vocês não precisam me dar explicação nenhuma, visse? Eu vou voltar pra minha cozinha...
- Dadi, não! Espera... – Mas Dadi já estava distante.
- Droga!  O que ela vai pensar agora?
- Que interrompeu a nossa diverson talvez?
- Diversão? Estava apenas se “divertindo” comigo?– Pergunta indignada.
- Você sabe que non foi com essa conotaçon que eu quis dizer, gatinha...
- Oras, seu...  seu grosso, estúpido e... aproveitador de mulheres indefesas!
- Você está longe de ser indefesa! – E admita, se aproveitou da situaçon tanto quanto eu!
Um intenso rubor atingiu as faces de Rosa. No fundo, sabia que ele tinha razão. O que mais teria acontecido se Dadi não tivesse aparecido ali?
- Isso não vai mais acontecer, tenha certeza! – Falou Rosa, zangada.
- Perto de você non existe certeza, gatinha!  E por que está tentando se enganar? Nós sabemos que isso vai se repetir! Mais cedo ou mais tarde, vai acontecer de novo...
- Não se eu puder evitar!
- Rosa, nenhum de nós quer, mas non conseguimos evitar,  já reparou nisso?- Diz, fazendo uma careta de dor, tentando levantar-se.
Sem saber por que, Rosa se ouviu dizendo:
- Quer que eu o ajude a levantar-se?  - E aproxima-se dele estendendo a mão.
- Non! Quero distância de você, d’accord? Dis-tân-cia! Você é muito perigosa!
- Pelo jeito, você não está tão mal quanto me fez pensar! – Fala secamente.
- Depende o que você entende por “mal” nesse momento... – Diz num tom que não deixava dúvidas ao que se referia.
- Você é desprezível! Insuportável!  E eu achando que tinha se machucado seriamente... Quer saber? Dane-se!
Rosa não espera pela resposta de Claude e sai praticamente voando dali. Sabia que se ficasse, acabariam um nos braços do outro. E isso era algo que ela não permitiria novamente! O que estava acontecendo com ela? Nunca fora assim com ninguém! Nem mesmo com Júlio! 
Ele nunca lhe proporcionara nem um décimo das sensações que Claude provocava em seu corpo.
Cruzou o pátio da piscina, sentindo o olhar dele sobre seu corpo. Desde o começo sabia que Claude era o problema. Um problema para o seu coração. Mas com ele seria apenas aventura, tinha certeza disso!E não estava preparada para ser uma simples aventura de alguém... Ou estaria?! Ele não parecia o tipo de homem que se casaria por amor!
- “Mas quem está falando de amor?” – Pensou – “É como ele diz, apenas uma reação física! Que poderia ser resolvida se nós... Deus o que estou pensando?”
Claude a seguiu com o olhar até que ela entrasse na casa sede. O traseiro lhe doía. Havia caído sentado em cima de uma caixa de garfos! Por sorte, nenhum penetrara sua pele devido à calça jeans... Estava confuso. Até onde teria ido se Dadi não tivesse aparecido?
E sabia a resposta, teria ido até o fim! Mas havia algo mais naquele desejo que sentia por Serafina Rosa... Desde o começo, sabia que ela seria um problema. Um problema para o qual não estava preparado. Porque com ela, não seria apenas uma aventura. Com ela seria casamento e filhos e... amor!
- Non! É somente desejo!
Rosa entrou na casa sede pela porta da sala.  Ao cruzar a sala de jantar, encontrou a tia de Claude. Pode notar que Elisabeth olhava para cartas de tarô sobre a mesa e sorria.
Sorriu também. Elisabeth era uma figura!  Estava vestida a caráter, ou seja,  com uma saia estilo cigano, blusa com mangas fofas e um lenço mega colorido na cabeça todo bordado com pedrarias.
- Aonde vai assim tão apressada, fugindo do destino? Que foi que Claude fez pra você agora, darling?
- Como sabe que ele fez alguma coisa?
- Então estou certa, não é? Estou lendo seu corpo: sua aparência, rosto corado, olhos brilhantes e... seus gestos, seu sorriso, influenciam na maneira como uma pessoa reage a você. Mas o modo como você diz alguma coisa é três vezes mais importante do que as palavras que usa... Acabou de fazer isso, chérie.
- Seu sobrinho é um insuportável, Ms. Smith! Toda vez que ele está por perto, acontece alguma coisa e a gente cai, geralmente, de uma forma muito... muito constrangedora e pra ele eu sou sempre a culpada!
- Hummmm... acidentes constantes... Isso é acúmulo de energia, mon cher! E só tem uma maneira de resolver: na cama. E non fique com essa carinha envergonhada, meu bem. Isso é a coisa mais natural entre um homem e uma mulher!
- A senhora é sempre tão direta! Admiro isso! – Fala, sentando-se na  cadeira em frente à Elisabeth.
- Darling, senhora está no céu, como vocês brasileiros dizem, hã? Me chame de você, de  tia Elisabeth... Afinal é o que vou ser mesmo! Você e Claude ainda vão se entender!
- Com certeza, no dia que eu entregar a obra.
- Non... As cartas non mentem, Rosa! E aqui mostra você e ele juntos...
- A senhora acredita nisso mesmo? – Pergunta, apontando para as cartas sobre a mesa.
- Minha tia acredita até em duendes, elfos e fadas. Por que non acreditaria em cartas de tarô? – A voz de Claude é levemente irônica.
- Sente-se aqui, Claude Antoine, e escute bem o que vou falar. – O tom de Elisabeth era o tom de quem dava uma ordem e mesmo contra sua vontade, ele sentou-se ao lado de Rosa.
- Para sua informação, o tarô é um jogo de cartas jogado na França, inclusive com regras próprias. Mas, desde o século XVIII essas cartas passaram a ser usadas para a previsão do futuro  e atualmente elas são o centro  do esoterismo moderno ao lado da Cabala, da astrologia e da alquimia medieval.
- Particularmente, acho o pôquer mais interessante, titia!
- Sempre com sua ironia e descrença, non é, Claude Antoine?  Pois bem, eu lhe digo que aqui – E aponta para as cartas - eu vejo o seu fim: casamento. E por amor, d’accord? Nada de conveniências como você queria fazer...
- Só falta dizer que será com dona Serafina Rosa!
- Ohhh! Parece que você já sabe disso! Maravilha!
- Mon Dieu, titia, non confunda as coisas, hã? E pare de querer adivinhar o meu futuro! Ele non pode ser ao lado dessa pessoa!
- E não pode por quê? – Rosa sente-se ofendida pela maneira que Claude fala- Não tenho nenhuma doença contagiosa, sabia?
- A non ser me derrubar!  Exatamente o que acabou de fazer! E sabe onde eu caí? Sobre uma caixa de talheres, garfos para ser mais preciso. Nem quero pensar se um deles tivesse atingido o meu... amiguinho. Você parece ter prazer nisso! Já o acertou por duas vezes...
As palavras saíram naturalmente, mas não foram as mais adequadas para o momento. Rosa fica extremamente vermelha, enquanto Elisabeth, que ouvia tudo de camarote, solta uma exclamação:
- Ulalá!
- Como se eu tivesse culpa! As duas vezes foi você que atravessou o meu caminho!  E pode ter certeza não senti  nenhum prazer nisso! – Ela fica em pé, agitada.
- Non mesmo? Non foi isso que senti na sua reaçon enquanto nos beijamos! – Ele acompanha o movimento de Rosa.
Os dois ficam frente a frente, numa batalha pessoal.
- Fui pega de surpresa, apenas isso. Não tive tempo de prevenir meu corpo contra suas investidas...
- Ah é? Enton tente se prevenir agora! – Diz, segurando-lhe a cabeça entre as mãos e beijando-a ardentemente. Isso bastou para que Rosa ficasse trêmula e assim que tomou consciência disso, empurrou-o com toda sua força, dizendo: 
- Chega! Você não tem o direito de fazer isso comigo! - E sai correndo, sem ver o que acontece...
Claude cai sobre cadeira que cede ao impacto e acaba no chão.
- Mon Dieu, ela conseguiu de novo! – Exclama apoiando-se na mesa para levantar e encontrando o olhar de satisfação de tia Elisabeth - Eu a proíbo de fazer qualquer comentário, muito menos que isso estava escrito nas cartas!
E sobe a escada, rumo ao seu quarto, de cara amarrada.
-Well... Um bom tarólogo é aquele que integra conhecimento com intuição.E eu conheço quando um coração está pronto e aberto para o amor...  O meu radar está captando esses sinais e as cartas confirmam... Ainda teremos muita confusão! Rsrsrsrrs!
Uma semana depois, Rosa, aos poucos e com a ajuda de Milton, nas horas de folga, havia retirado quase todos os móveis da casa da piscina. Claude não tinha mais se aproximado dela, mas vigiara de longe essa ajuda.
O sábado chegara e a equipe havia voltado para a cidade. Há quinze dias fora de casa e na solidão noturna da fazenda, foram dispensados por um fim de semana. Até porque as obras estavam adiantadas.
François e Joanna haviam viajado para Campo Grande para encontrar Janete e Frazão e trazê-los para a fazenda.
Claude estava fora o dia todo. Apenas Rosa e Elisabeth na casa.
- Darling, non é saudável uma jovem como você ficar isolada nessa fazenda o tempo todo!
- Eu estou bem, tia Elisabeth. – Ela insistira tanto que Rosa acabara cedendo em chamá-la de tia.
- Non está nada! Você emagreceu nesses quinze dias! Non tem parado um só instante de trabalhar. Quando non é com os empreiteiros, que, aliás, são a visão do paraíso, está enfiada naquela casa da piscina. François não devia ter dado essa tarefa a você!
- Eu me sinto ótima! Adoro fazer esse tipo de trabalho: reformar ambientes.
- Mas precisa se distrair,  ver gente da sua idade e deixar  meu sobrinho com aquela pulguinha atrás da orelha, chérie!
- Tia Elisabeth, eu não...
- Você precisa dar uma lição nele, querida! Que tal irmos até a cidade curtir a noite?
- Não acho uma boa ideia sairmos sozinhas por essa estrada deserta, nessa escuridão. E eu nem trouxe roupa apropriada para isso...
- Roupa non é desculpa. Tenho certeza que encontraremos uma que sirva em você em uma de minhas malas!  E quem disse que iremos sozinhas?

Continua...

SESSÃO LEITURA - CRÔNICA DO MANDIOCAL - DINAH SILVEIRA DE QUEIROZ

A crônica que reproduzimos abaixo foi escrita por Dinah Silveira de Queiroz.
Para maiores informações sobre a autora, favor acessar: http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=459&sid=131.
Boa leitura!

CRÔNICA DO MANDIOCAL

Quem me contou esta é o primo muito querido, Rodrigo de Queiroz Lima. Aconteceu em Belo Horizonte, com um padre que trouxe das profundezas de Goiás um índio bem pequeno, jamais saído de sua taba ('village'). Dentro dela, a vida era sempre igual: a pesca dos homens, a caça e o cuidado geral de todos os membros da tribo com a mandioca. A mandioca era o alimento, a fortuna, o bem-estar social de todo o grupo, significava o grande interesse da pequena coletividade. O índio viu a formosa Belo Horizonte, portanto, pela mão do bom padre. Conheceu até o Mineirão ('soccer stadium in Belo Horizonte'). Viu suas construções modernas, os cinemas, os bancos, as praças e tudo viu sem fazer perguntas, sem mostrar maior curiosidade. Ao sacerdote, aquela atitude do menino parecia incompreensível, pois esperava que o índio, que jamais havia saído de sua tribo, tivesse um choque. Por fim, tudo ficou monótono para o padre. Ele dizia:
"Nesta casa só há cento e vinte "malocas", isto é, cento e vinte apartamentos."
O índio olhava, prestava atenção naquela grande casa onde o homem "civilizado" agregava as suas malocas -- umas sobre outras. Não sorria, não se admirava. Parecia até mesmo que todo aquele mundo de edifícios, toda aquela deslumbrante e feérica realização que é Belo Horizonte, não despertasse no pequeno interesse senão de algo melhor para ver. Depois de mais de quarenta minutos pela cidade, vista de dentro de um carro -- o padre ia na direção ('was driving') - foi que o índio disse com impaciência:
"Meu padim (era assim que chamava o padre), quando é que a gente vai visitar o mandiocal deste povo? Você mostra tudo, mas onde é o mandiocal?"
Todo interesse é ligado à vida de cada um. A grande cidade não valia aos olhos do índio porque não tinha um mandiocal.

Fonte: http://blogdeportugues.blogspot.com.br/2004/09/cronica-do-mandiocal-por-dinah.html.

SESSÃO ABERTURA DE NOVELA - SERRAS AZUIS

A novela Serras Azuis foi apresentada pela Rede Bandeirantes de 22 de junho a 4 de dezembro de 1998 (não temos informação do horário).
Para maiores informações sobre essa novela, favor acessar: www.teledramaturgia.com.br/tele/serras.asp.
O tema musical de abertura era Canção dos Viajantes, interpretado por Marcus Viana.
Boa diversão!



LETRA

CANÇÃO DOS VIAJANTES

Pelos caminhos da Terra
Largas estradas no mar
Pego os atalhos do vento
Nas ondes de fogo do ar

Não há tempestade ou tormenta
Que quebre o casco do navio
Coração bom que navega
Nas ondas do mundo bravio

Verde esmeralda oceano
Inunda minha alma sedenta
Descubro mil ilhas de sonho
Sem dor, sem tristeza ou doença

Pra quem tem fé e resiste
Luz do amor acesa no peito
Nada é duro, nada é triste
Espanta a noite, toca o medo

Mãe natureza me ensina
A ser humilde a ser pequeno
Beber água pura da vida
Me afastar de todo o veneno

Abrir a porta, o celeiro
Os tesouros do coração
Vêm ver rolar cachoeira
Água limpa do ribeirão

Deixa encharcar a semente
Luz da vida no fundo do chão
Como o amor transforma a gente
Como o sol, a escuridão

Fonte: http://letras.mus.br/marcus-viana/1122231/

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

O INFERNO DE UM ANJO - SEGUNDA PARTE - CAPÍTULO 23 - PARTE 2 - COLABORAÇÃO: PAULO SENA

O INFERNO

DE UM ANJO

Romance-folhetim



Título original:
L’enfer d’un Ange




Henriette de Tremière/o inferno de um anjo

(Texto integral) digitalizado
e revisado por Paulo Sena

Rev. G.H.
BIBLIOTECA GRANDE HOTEL


Capítulo XXIII - Parte 2

O SACRIFÍCIO DE MARIA “FLOR DE AMOR”


- Sim, eu a amei, Maria "Flor de Amor" - prosseguiu o jovem barão de Rastignac, tentando em vão dominar a sua emoção - amei-a como o que há de mais belo e de mais puro no mundo.

- Luís Paulo!...
- Deixe-me falar!
- Mas você não sabe!
- Sei até demais! Você era a minha divindade e melhor seria que estivesse realmente morta e eu não soubesse de nada! Talvez continuasse adorando sua imaculada lembrança!
- Meu amor...
- Não pronuncie essa frase! Agora só poderei recordar-me de você com desprezo! A minha divindade ruiu e agora vejo claramente os pedaços do mísero barro de que você era feita!
Os olhos de Maria "Flor de Amor" fixaram-se no rapaz e Luís Paulo exigiu dela:
- E não me olhe dessa maneira! Houve um tempo em que eu não podia resistir ao seu olhar sem me sentir enfeitiçado!
Num gesto desesperado, Luís Paulo passou a mão nos cabelos, enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas.
- E eu desprezo a mim mesmo, desprezo a minha fraqueza passada!
Sentia que não poderia mais resistir ao olhar de Maria "Flor de Amor", mas não se retirava, não queria fazê-lo sem antes lhe dizer tudo o que tinha dentro de si.
A moça também se recobrara por um instante de seu terrível abatimento.
Sabia que estava em jogo a sua felicidade e, mais do que esta, a sua honestidade. Embora tendo que renunciar ao prazer sublime de ter Luís Paulo para si, sentia que não podia perder a estima que ele sempre tivera por ela, mesmo que a julgasse culpada.
Por um instante, sentiu a tentação de contar-lhe tudo, de esclarecer a situação... Mas, no momento em que ia pronunciar as palavras decisivas, avistou, atrás das costas de Luís Paulo e Ubaldo Duroi, o rosto de Denise, imóvel no corredor.
Foi questão de um segundo... Um segundo que lhe pareceu um século...
"Não me denuncie! Não revele a verdade!...", diziam os olhos de Denise.
Um arrepio percorreu o corpo de Maria "Flor de Amor". Uma luta terrível, demasiadamente grande para ser suportada impavidamente, travava-se dentro dela.
Devia desmascarar Denise, que pouco antes ela já salvara das mãos assassinas de Afonso Houdin? Tirara-a então de um perigo para jogá-la em um outro ainda maior? A que ficaria reduzida sua boa ação? Maria "Flor de Amor", vacilando, levou a mão ao coração.
Devia tomar uma decisão! Era questão de salvar a sua honra ou de arruinar para sempre a de Denise. Que representava aquela mulher para ela? Por que deveria salvá-la e sacrificar-se pela sua felicidade? Ela já não lhe roubara o amor de Luís Paulo? Não possuía direitos sobre o homem amado? Ela não era mais infeliz que Denise? Mesmo que aquela mulher perdesse o homem amado, não ficaria só no mundo, já que tinha um pai a quem recorrer, pelo qual era amada e que poderia consolar a sua dor...
Mas ela, Maria "Flor de Amor", o que possuía? Possuía por único bem, como única razão de viver, seu amor por Luís Paulo! Se perdesse tudo isso, se não pudesse esperar mais nada, que lhe restaria no mundo? Não, o sacrifício era demasiadamente grande! Não podia, não podia fazê-lo! A felicidade de Denise seria a sua própria e eterna infelicidade!...
Naquele instante, o barão Luís Paulo, talvez adivinhando que ainda havia incerteza na jovem, disse:
- Fale infeliz! Está tudo terminado entre nós, mas não quero condená-la antes de ouvi-la! Se existe alguma coisa que a desculpe, fale! Conte-me porque se aproximou de um homem como Afonso Houdin, que é um bandido! Seja sincera, pelo menos! Talvez, em lugar de ódio, possa sentir compaixão por você! "Mas tome cuidado, não se cale! Não se cale porque, depois de hoje, nunca mais nos tornaremos a ver! Nunca mais terá a oportunidade de justificar-se, de trocar uma só palavra comigo, eu que a amei mais do que tudo no mundo! Se as recordações ainda valerem alguma coisa para você, conte-me tudo!...
Maria "Flor de Amor" não tinha forças sequer para respirar.
Bastaria ir até o corredor, abrir a porta do quarto da marquesa Renata, na qual Denise se escondera novamente, e tudo estaria terminado para a tresloucada mulher de Luís Paulo. Seria suficiente que Maria "Flor de Amor" falasse para triunfar, para ter a felicidade!
Não havia dúvida alguma: o barão de Rastignac, convencendo-se da indignidade da esposa, abandoná-la-ia, cheio de desprezo. E, então, tornaria a amá-la... Atirar-se-ia novamente aos seus pés... E lhe pediria perdão, depois daquela prova terrível.
Finalmente, através das nuvens pesadas do seu futuro, tornaria a brilhar o sol prometedor de felicidade.
Uma palavra, uma única palavra, podia afastar aquelas nuvens, como um sopro de vento da primaveral... Maria "Flor de Amor", no entanto, pálida e aniquilada, não ousava pronunciar a palavra decisiva; nem sequer fazer o gesto que a salvaria.
Sentia a proximidade de Denise... Percebia que a infeliz e mentirosa mulher achava-se pertíssimo dela e mesmo que não a visse naquele instante, percebia a sua presença, o ar parecia ressoar com as suas preces, implorando piedade.
- Justifique-se! - gritou Luís Paulo com impaciência.
- Espere, pelo amor de Deus! - implorou Maria "Flor de Amor" no limite de suas forças. - Dê-me tempo para pensar.
- Não! Você quer tempo para inventar uma mentira! Deve falar agora! Imediatamente!...
- Mas eu...
O barão Luís Paulo, voltando-lhe as costas, disse à jovem, com acento de desprezo:
- Você não tem nada a dizer! Não tem sequer a coragem de afirmar que foi o acaso que a trouxe aqui e prove-me que não tem nada a ver com Afonso Houdin! Faça-o e eu retirarei tudo o que disse! Faça-o, pelo amor de Deus, caso contrário não responderei pelos meus atos!
- Não posso... Você me pede algo impossível.
Luís Paulo de Rastignac deu um passo à frente e sua mão correu novamente para o bolso, no qual havia enfiado o revólver.
- Olhe para mim, Maria "Flor de Amor"! Dou-lhe até a satisfação da minha ira! Admito até mesmo que estava certo de que você pudesse justificar-se! Dissesse o que dissesse!... Ainda confiava em você, mas é tão falsa que não sabe sequer o que dizer! Não é uma mulher, é um demônio, um réptil venenoso!...
Cada insulto feria o coração de Maria "Flor de Amor" como uma punhalada. Aniquilada, a jovem escondeu o rosto entre as mãos... Contudo, no seu grande abatimento, na sua dor, estava lindíssima.
Luís Paulo de Rastignac, malgrado tudo, teve que fazer força para vencer o desejo incontido de inclinar-se para ela e abraçá-la com ternura, esquecido do mal que julgava que ela lhe fizera.
Mas foi só questão de um instante. Recobrou-se em seguida. Não, ela não era digna de sua piedade e muito menos do seu amor!...
Daquele momento em diante, ele queria pertencer a uma só, àquela a quem estava ligado por um vínculo sagrado: Denise, a única mulher que, pelo menos ele acreditava, ficara-lhe fiel.
Maria "Flor de Amor" continuava muda e imóvel.
E a voz de Luís Paulo ressoou novamente, fraca, mas decidida:

  
- Vá para o mais longe possível! Não apareça mais em meu caminho! Não quero nem mesmo recordar que você está viva!... Pelo menos, se estivesse morta, eu poderia chorá-la como tal!
O rapaz fez menção de retirar-se, porém, dominado por uma ideia repentina, voltou-se outra vez e enfiou nervosamente a mão no bolso do paletó.
- Tome! - acrescentou, atirando com desprezo um maço de notas aos seus pés. - Não quero ter o remorso de deixá-la sozinha e sem meios! Dinheiro não me importa, contanto que você desapareça de minha vida para sempre!
Um soluço abafado saiu dos lábios pálidos de Maria "Flor de Amor".
- Não adianta chorar! - disse novamente o barão de Rastignac. - Agora é tarde!... Faça o que fizer, diga o que disser, só terei uma triste recordação de você! Adeus! Adeus para sempre!...
Maria "Flor de Amor" cobriu o rosto com as mãos, incapaz de resistir, incapaz de lutar.
Já se arrependia do que fizera.
A decisão de gritar a verdade apertava seu peito, contraía-lhe a garganta...
Porém, quando olhou em volta através do véu de lágrimas que lhe obscurecia a visão, não havia mais ninguém no aposento. 

SESSÃO SAUDADE - CONSUELO LEANDRO

A Sessão Saudade de hoje homenageia a humorista Consuelo Leandro.
Consuelo pertence ao time de humoristas que conseguem fazer rir até com a expressão facial, como o também saudoso Ronald Golias.
Artista de longa carreira, ela começou no teatro de revista e logo se encaminhou para a comédia, gênero em que deixou personagens inesquecíveis como a Cremilda, a “mulher do meu marido Oscar” e Lola, a repórter que distorcia tudo que os entrevistados diziam.
Para saber mais sobre a humorista, favor consultar: http://www.museudatv.com.br/biografias/Consuelo%20Leandro.htm.
Com o objetivo de homenageá-la, apresentamos dois vídeos. No primeiro, a humorista interpreta a personagem Cremilda no quadro da Praça da Alegria, que foi apresentado no programa Chico City, da Rede Globo, no ano de 1976. Já no segundo, aparece na pele da repórter Lola no programa A Praça é Nossa, do SBT, no ano de 1995.
Obrigado, Consuelo, por suas hilariantes interpretações que tanto nos fizeram rir!
Que descanse em paz!

PRIMEIRO VÍDEO



SEGUNDO VÍDEO


Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=vBywpcpGHH8



SESSÃO HUMOR - COLABORAÇÃO: MARI DO MURAL DA URCA

O esposo regressa da missa, entra correndo em casa e dirige-se à esposa com incomum alegria.
Abraça-a, levanta-a ternamente nos braços e vai dançando com ela suspensa no ar em volta de cada móvel de casa.
A esposa pergunta, bastante admirada com o gesto:
- O que foi que disse hoje o padre no sermão?  Será que disse que os maridos devem ser mais carinhosos com as suas esposas?
Responde o marido radiante:
- Não amor, o padre disse que temos que carregar a nossa cruz com alegria redobrada...

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

FIC - BORBOLETAS NO CORAÇÃO - CAPÍTULO 7 - AUTORA: SÔNIA FINARDI

VII

- Yes, querido! Ca-sa-men- to! Marriage ou nuptialité como preferir... Eu preciso da data para fazer as projeções! Vou precisar também da sua data de nascimento, hora e local, darling! – E olha para Rosa.
- “Céus! Ela realmente pensa que existe algo entre nós” – Pensa Rosa, mas antes que diga alguma coisa, Claude dispara a falar:
- Quanto tempo vai ficar desta vez? Uma semana? - Pergunta Claude sem cerimônias.
- Sinto desapontá-lo, dear... Meu último relacionamento deixou-me profundamente abalada e meu mentor sugeriu uma temporada de paz e sossego junto à natureza!
- Defina quanto é uma temporada em seu calendário, por favor, tia Elisabeth... – Pergunta, preocupado com a resposta.
- Well, honey... a príncipio uns seis meses, d’accord?
- Seis meses? Mon Dieu, eu...
- Claude, está sendo indelicado com sua tia, para não dizer mal educado! Peça desculpas e pare de se comportar como um adolescente! – François fala rispidamente.
- D’accord... Pardon titia. Eu non quis parecer indelicado. Apenas acho que descanso e sossego von ser a última coisa que conseguirá por aqui, agora que iremos iniciar as obras.
- Não precisa se desculpar, mon cher! Eu sei que debaixo de todo esse seu machismo, mau humor e casca grossa, se esconde um homem de verdade! Lá no fundo você non é tão mal quanto quer parecer... Bem lá no fundo! Agora, se non se importam, eu gostaria de repousar por algumas horas!
Rosa morde os lábios, tentando não rir da expressão desgostosa de Claude.
- Claro, querida. Vamos até seu quarto! - Joana fala, enquanto a enlaça pelo braço e saem do escritório junto com François
Depois que já estão fora da sala, Claude solta um palavrão.
- Francamente, Claude! Você sabe como ser grosseiro! Tia Elisabeth considera você o filho que nunca teve, poderia ter mais respeito com ela! – Janete fala duramente.
- Mas o que eu falei demais, hã? – E sustenta o olhar de Janete e Rosa, recriminando-o – Esperem o tempo passar.  Onde está Tia Elisabeth, está confuson!
Dois dias depois, como previsto, chega a equipe que Claude contratara, seguindo a sugestão de seu pai.
O empreiteiro Antoninho e seus dois irmãos Milton e Sérgio comandavam uma  equipe que parecia muito bem entrosada.
Antoninho gerenciava a parte civil das obras que faziam. Milton era especialista na parte hidráulica e Sérgio na elétrica. Juntos formavam a melhor equipe da região.
Ao contrário do que esperava, eram bastante jovens. Seguiam os passos do pai, que fora do ramo também. Só que, estavam sempre atentos às novidades e transformações da área, capacitando-se constantemente.
Não deixara de notar os olhares que a envolveram quando Claude os apresentou, muito menos a expressão sisuda dele. Nesses dois dias, nada acontecera entre eles. Claude parecia evitar sua presença. Na certa, temia outro desagradável incidente que para ele apenas ela era a culpada.
Repassaram com os irmãos empreiteiros a lista de todo material necessário. Confirmados todos os itens, restava a Claude e ela fazer o pedido. Resolveram ir na manhã seguinte até Aquidauana.
Depois de deixarem os empreiteiros instalados em uma das casas, seguiram de volta para a sede.
E Claude não teve como impedir tia Elisabeth de se convidar para ir também...
Na manhã seguinte, logo cedo eles partem para a cidade. Propositalmente, tia Elisabeth  faz Rosa entrar primeiro na camionete. Dessa maneira, Rosa ficou entre eles.
Uma leve tensão pairava dentro da cabine, pois, por várias vezes, Claude esbarrara em suas coxas ao mudar a marcha do veículo e como não tinha espaço suficiente para se afastar dele, tinha que se controlar muito primeiro para  não lhe dizer poucas e boas, segundo para não demonstrar o quanto esses toques a faziam se arrepiar...
Às vezes, arriscava olhar para o lado dele, como se estivesse admirando a paisagem, mas não conseguia definir aquela expressão. Parecia indiferente.
Até que numa nova troca de marcha, suas mãos se tocaram e seus olhares se cruzaram.  E foi como se nada mais existisse além deles.
Elisabeth que parecia alheia a tudo isso, fala algo, tirando-os daquela sintonia:
- Claude Antoine, você ainda tem vontade de realizar a construção de casas populares em áreas mais carentes? – Pergunta, parecendo interessada.
- Oui, titia! Mas isso demanda investimentos a longo prazo e ainda non encontrei parceiros ideais. Todos querem lucro rápido e criam juros exorbitantes. Até mesmo os bancos estatais que deviam ter programas mais acessíveis...
Rosa se surpreende.  Não sabia desse lado de Claude, preocupado com pessoas menos privilegiadas... Esse seria um projeto no qual teria orgulho de colaborar.  Mas com certeza, ele não precisaria da colaboração dela. Afinal, ela era apenas uma mulher na visão dele.
- Talvez eu tenha a solução para o seu problema – Continua Elisabeth – Mas não vou confirmar nada, por enquanto. Ainda falta uma resposta. Assim que eu a tiver, volto no assunto com você, dear!
- Non me diga que espera a resposta de alguma carta de tarô ou alguma outra fonte mística como fadas e duendes, por favor, hã? – Pergunta com velado sarcasmo.
- E se for?  Devolve carregando o “for” - Você não acredita no sobrenatural, Claude Antoine?
- Acredito no que vejo. Simples assim.  Nascemos e temos que sobreviver, fazer escolhas, decidir nosso destino.
- Nosso destino já está traçado antes de nascermos, querido! Todos eles!
- Todos eles? – Pergunta Rosa com curiosidade.
- Mon Dieu! Você non vai acreditar nisso, non é, Rosa?
- Eu quero apenas ouvir a explicação da sua tia. Posso?
- D’accord! Sa volonté, gatinha. Explique-nos tudo enton, titia.
- Primeiro tentem entender o que é misticismo. Ele é a prática, estudo e aplicação das leis que unem o homem à natureza e a Deus. Se distingue da religião por referir-se à experiência direta e pessoal com a divindade, com o transcendente, sem a necessidade de intermediários, dogmas ou de uma teologia. Entenderam?
- Acho que entendi – Responde Rosa – O místico não depende de religião, não precisa dela, pois comunica-se diretamente com Deus, sem esperar pela  intervenção de um padre, pastor ou afins. É isto?
- Oh!! Bravo, Rosa! Você entendeu perfeitamente!  Daria uma excelente aluna! 
- Sem chance, tia Elisabeth! – Fala Claude como se tivesse algum poder de impedir Rosa – Rosa non vai aderir a essa...  prática!
- Posso saber com que autoridade você toma decisões por mim?
Claude não sabe por que dissera aquilo tão categoricamente. Agora tinha que dar uma resposta à altura.
- Com a autoridade de ser o seu patron e responsável por tudo que lhe aconteça por aqui, hã? Já lhe disse isso, non se lembra?
- Infelizmente eu me lembro! Disse-me mais de uma vez. Mas eu volto a esclarecer: não sou sua escrava! Em minhas horas de folga, posso fazer o que me der na cabeça! Eu pensei ter deixado isso bem claro!
- E eu pensei que tivéssemos selado um acordo de paz! Por que está ton irritada?
- Oh, Lord! Cette parfaite! Eu sinto a energia da química que gira em torno de vocês! Isto é magnifique! Consigo entender perfeitamente, foi assim com John, quando nos conhecemos...
 - Isto é perfeitamente ridículo, dona Elisabeth! – Diz Rosa.
 - C' est tout à fait ridicule, tia Elisabeth! – Diz Claude.
 Ambos ao mesmo tempo. Então, se olham irritados.
 - Isto, porém – Diz indicando o que acontecera - é perfeitamente possível e lógico! Quando acordarem para suas verdades, vão ver o tempo que perderam tentando negá-la! E darling, me chame de Elisabeth, d’accord?
- Continue sua explicação, por favor. Eu me interessei muito por esse assunto. De repente... – Fala tentando atingir Claude.
- Pois bem... Correntes místicas já existiam muito antes de Platão! O místico procura na prática espiritual as bases para suas concepções de vida. Encontram-se tendências místicas na maioria das religiões do mundo. E essa força, essa energia com a qual nos conectamos poder ser entendida de diversas formas: Deus, espírito cósmico, universo, etc.
- Fascinante! – Exclama Rosa - Continue, por favor! – Pede ao ver a cara azeda de Claude.
- Alguns exemplos de misticismo: Budismo, Cabala, Yoga e até o famoso Santo Daime! Quando disse que temos vários destinos, é porque temos nossas escolhas ou livre arbítrio. E para cada uma delas, há consequências! Mas todas já estão previstas!
- Mon Dieu! Pardon, titia, mas nunca vi tanta sandice junto!
Ela nada responde.
Acabavam de chegar à loja e Claude estacionava o carro. Assim que começam a caminhar para a loja, Elisabeth diz:
- Você acredita em Deus, Claude? – Pergunta seriamente, não usando o Antoine como sempre fazia.
- Non da maneira que vocês acreditam! – Reponde, depois de pensar por alguns segundos.
- Pois devia, dear! Ele acredita em você, d’accord?
Depois de fecharem a compra, conseguindo um bom desconto, eles resolvem ir a uma sorveteria. O calor estava grande.
Por onde passavam, Elisabeth chamava a atenção. E não poderia ser diferente, pois ao contrário de Claude e Rosa que vestiam jeans e uma camiseta básica  com o nome da fazenda – ideia de Janete – ela usava um vestido indiano nas cores vermelho, amarelo e laranja, pois segundo a cromoterapia o laranja -  mistura do vermelho com amarelo -  seria a cor da prosperidade, além de serem  cores quentes,  ligadas à paixão...
Eles fazem os pedidos e enquanto aguardam, Elisabeth vai ao banheiro, deixando Claude e Rosa “sozinhos”.
- Entendeu agora porque falei que ela é uma louca, desvairada?
- Ela não é louca. Tudo bem que, aparentemente, ela respire misticismo! Mas acho que apenas faz o que tem vontade, sem se importar com a opinião dos outros!
- E você? Faz o que tem vontade ou se preocupa com a opinon alheia?
Seria uma pergunta fácil de responder, se não tivesse sido feita por ele daquela maneira sutil e tremendamente perturbadora que ele usara no tom de voz! Sabia perfeitamente a que ele se referia. Porém, preferiu fugir à resposta.
- Desculpe, eu não entendi a sua pergunta!
- Entendeu sim, gatinha! Eu acho que quando você quer ou decide alguma coisa, non dá a mínima para quem quer que seja!
- A recíproca é verdadeira!  Só que você tem o péssimo hábito de decidir pelos outros!
- Eu non decido pelos outros, chérie! Eu decido o que é melhor apenas, hã? Isso te incomoda? Ou eu a incomodo?
Procurou uma resposta adequada, mas o que falou, desconcertou-o mais do que qualquer palavra áspera que pensara:
- Rodrigo! Que coincidência nos encontrarmos aqui? Sente-se conosco! Você não se importa, não é, Claude?
Rodrigo aproxima-se da mesa ao mesmo tempo que Elisabeth.
- Como tem passado, Rosa?  Claude? – Ele o cumprimenta polidamente.
- Estamos todos bem – Responde Claude sem dar tempo à Rosa – Esta é minha tia Elisabeth, irmã de meu pai. Ela vai passar uma... temporada conosco, hã? Titia, esse é Rodrigo Bueno, nosso vizinho da fazenda.
- Muito prazer, senhora! – Rodrigo sorri, apertando-lhe a mão.
- O prazer é todo meu, Mr. Bueno! Mas por favor, my name is Elisabeth!
- Ok! E o meu é Rodrigo!  Por favor, sente-se! – E puxa a cadeira para ela.
- Oh! Quanta gentileza! Você é um gentleman, Rodrigo! Fale-me sobre você! O que gosta de fazer nas horas vagas?
Rosa dá um sorriso pra si mesma. Era evidente o interesse de tia Elisabeth por Rodrigo. E ele parecia gostar do assédio. Quem não gostou foi Claude, que passou o resto da tarde e o caminho de volta completamente calado, alheio à conversa entre Rosa e Elisabeth.
Na tarde do dia seguinte, todo o material comprado estava entregue e estocado no galpão, bem como os maquinários.
E na manhã do dia seguinte, finalmente as obras começam a todo vapor...
Um total de quinze homens divididos em turmas iniciava os trabalhos, sob o comando do trio de empreiteiros. Claude e Rosa estavam sempre supervisionando. Rosa, inclusive, quando necessário, “punha a mão na massa”, não se importando em ficar empoeirada ou em não sujar a roupa, o que deixou Claude satisfeito.
Sentia orgulho da maneira como havia conquistado o respeito dos trabalhadores: pela sua capacidade, pelo seu trabalho. Isso, Claude jamais poderia negar.
Alguns dias depois, Rosa conversa com Claude:
- Claude, seu pai me pediu para transformar a casa da piscina em um lugar confortável para sua tia. Ele acha que ela gostaria de ter maior privacidade e um local adequado para se dedicar às suas pinturas e esculturas. Dadi e Socorro andam super ocupadas, cozinhando para o pessoal. Além de nós. Janete viajou para se encontrar com Frazão. Será que eu posso pedir ajuda a um dos rapazes para retirar os móveis de lá?
- Por que tem que ser um dos rapazes? Non posso te ajudar?
- Você? – Espanta-se Rosa.
- Por que o espanto?
- Eu pensei que você...
- Pensou que eu não ajudaria, porque você falou que poderia fazer tudo o que um homem é capaz de fazer!
- Pra ser franca, foi isso mesmo...
- Enton, estamos esperando o quê?  Vamos até lá!
A casa da piscina parecia qualquer coisa menos uma casa de piscina. Caixas empilhadas, móveis encostados, adornos, utensílios... Parecia mais um depósito desorganizado.
- Mon Dieu... Tem certeza que consegue dar conta disso?
- Seu pai me deu carta branca! Disse que eu posso me desfazer do que achar desnecessário.  Pensei em doar para alguma instituição.
- D’accord!
- Eu acho que o mais difícil vai ser tirar esse papel de parede! Deixe-me fazer um teste! – Diz subindo em uma escada encostada na parede, na intenção de puxar uma ponta do papel que estava descolada.
- Rosa, o que pensa que está fazendo? Desça, essa escada non é segura...
Tarde demais! A escada cedeu ao peso de Rosa, inclinando-se na direção de Claude.
Escutou o grito abafado de Rosa e tentou socorrê-la. No instante seguinte, já tinha caído sentado com Rosa sobre sobre suas pernas, envoltos em uma tira do papel que ela havia puxado e numa proximidade bastante íntima...
Isso bastou para perder o controle que havia tido sobre seus pensamentos e hormônios nos últimos dias, mantendo-se longe de Serafina Rosa.
Mas o que mais o incomodava era a dor em seu traseiro! Havia caído em cima de uma caixa de talheres e ou muito se enganava ou algum talher tinha lhe machucado pra valer!
- Oh, meu Deus! Claude você se machucou? - Rosa começa a rir da situação.
- O que você acha, hã? Mon Dieu, espero non ter quebrado nenhum osso da... do meu... você sabe!  Quer parar de rir?
- Desculpe! Eu vou tentar!.... Rsrsrsrs. Não dá, eu não consigo! Rsrsrsrsr.
Apesar de toda a dor que sentia, alguma coisa na risada de Rosa o contagiou e de repente, ele também estava rindo.
Até que a risada virou um silêncio perturbador...
- Estou começando a achar que minha tia tem razon... Você mexe com a química do meu corpo, gatinha! – E a ajeita ainda mais sobre si - Isso tem que acontecer, Rosa...
- Eu sei...
Foi tudo que ela disse antes de sentir os lábios de Claude forçando os seus a se abrirem e invadir a sua boca...

Continua...