quinta-feira, 14 de março de 2013

FIC - BORBOLETAS NO CORAÇÃO - CAPÍTULO 12 - AUTORA: SÔNIA FINARDI

XII

Na manhã seguinte, durante o café da manhã.
- Rosa, my darling, essas fotos que você tirou são maravilhosas! Já pensou em tornar-se fotógrafa? Você leva jeito! Seu trabalho daria uma excelente vernissage!
- Tia Elisabeth! Fala, sério! Essas fotos são apenas um passatempo, algo que faço pra me distrair! Mas os seus quadros... São lindos! Verdadeiras obras-primas! Dariam incríveis capas de romances! – Diz olhando um catálogo de Elisabeth.
- Menos, darling! Só serviriam para romances do tipo água com açúcar!
- São os meus preferidos! Só acho que terminam rápido demais.  Depois de tanto sofrerem e, finalmente, descobrirem que é amor, normalmente, eles se beijam e tudo termina em tom de “viveram felizes para sempre”! 
Rosa leva à xícara de café à boca.
- É esse o seu desejo? Viver feliz para sempre ao lado do Claude? – Pergunta Elisabeth com uma boa dose de curiosidade e humor.
- Coff! Coff! Ahaanahn Coff! – Engasga-se com a bebida quente e doce - Ti-a Elisabeth! Coff!
- Rosa, esse é o sonho de toda mulher. E eu quero pintar um quadro de vocês... Estou tendo uma visão, muito interessante. No fundo, somos todas “programadas” para viver uma linda história de amor... Como será a de vocês, chérie!
- Como eu queria que fosse assim...
-Vai ser, meu bem, vai ser! Quando desejamos algo a alguém com fé e determinação, tal coisa “pega”. A palavra tem poder, a mente tem poder, desejo de madrinha tem poder!  E pra sua sorte, eu sou a madrinha dele!
- Pois a minha deve ter desejado que eu nunca fiz... Deixa pra lá! Então gostou mesmo das fotos?
- São perfeitas! Mas o vídeo é... fantástico!
- Vídeo? Que vídeo? Não me recordo de ter feito nenhum...
- Não, você não deve se lembrar mesmo!  Estavam ocupados demais em se defenderem um do outro! Vídeos feitos “ao acaso” são os melhores! E este então... – Ela vira o monitor na direção de Rosa.
- Céus! A câmera registrou toda a nossa queda! Tia Elisabeth, o Claude não pode ver isso! Ele vai achar que fiz de propósito...
- Ele já viu, darling! Pouco antes de você descer para o café. E não me pareceu que tenha achado proposital ou tenha se irritado. Ao contrário, eu o peguei sorrindo várias vezes!
- Ele já se levantou?
- Ele saiu de viagem, honey! Naquela moto incrível que ele tem! Você devia experimentar a sensação.
- O Claude viajou? Como assim? Pra onde ele foi?
- Disse que tinha assuntos urgentes a resolver na capital. Mas que faria o possível pra voltar ainda hoje.
- Ele não... não deixou nenhum  recado pra mim?
- Comigo não, darling! Tinham algo combinado?
- Não. Eu só pensei que depois de ontem à noite... – Mas a entrada de Frazão e Janete a interrompe.
- Bom dia, pessoas lindas! Tia Elisabeth, que prazer revê-la! Está mais linda do que nunca! Precisa nos passar a receita! – Exclama Frazão, enquanto abraça Elisabeth.
- Frazão, meu querido!   A receita é uma só: bom humor! E isso você tem de sobra! Para nossa alegria!
- Bom dia, titia! Bom dia, Rosa! Dormiram bem?
- Bom dia!  - Responde Rosa – Vão me dar licença, eu preciso ver como anda a reforma dos chalés... - E antes que alguém a fizesse mudar de ideia, sai pela varanda.
- Que bicho mordeu ela? – Pergunta Frazão
- Um bichinho conhecido como amor, honey! – Mas me diga, Frazão, já escolheram a melhor data para o casamento no mapa astral que fiz para os dois? E não me digam “não acreditamos nisso”! Todo mundo diz isso, mas não deixa de olhar o horóscopo nos jornais...
- Não é bem assim, tia Elisabeth! Pode ser só curiosidade e... – Janete vai expondo seu ponto de vista, enquanto terminam o café da manhã.
Depois de falar com os empreiteiros e sanar alguns problemas numa rápida vistoria pelos chalés, Rosa volta à casa da piscina.
Fizera um ótimo trabalho até agora. A pior parte já estava feita. Tinha em mente a imagem que queria dar àquela casa. “Como se fosse para você”.  Sentiu que nas palavras de tia Elisabeth, havia um sentido escondido...
Estou imaginando coisas! Ela apenas quis ser gentil e confia no meu gosto. “Mas você queria a aprovação do Claude!”
De novo aquela vozinha irritante que teimava em invadir seus pensamentos! 
Por que precisaria da aprovação dele para alguma coisa? Por que não conseguia evitar de pensar nele? De achar que pela manhã iriam ser como um casal normal. Um casal de... namorados?
Depois do modo como se despediram antes de dormir... Sua estúpida! Sempre criando expectativas! Quando é que você vai aprender a não esperar que as pessoas façam como você faz?!
Será que ele ficou zangado com o vídeo?
Chega!  Por que estava tão deprimida só porque ele não se despedira dela? Não tinham nenhum compromisso formal. Apenas atração física, química - como as borboletas.
Olhou para o piso de pedra ardósia e decidiu que o lavaria de novo e aplicaria ela mesmo a resina. Precisava ocupar-se com alguma coisa e como não tinha ainda comprado outra câmera, esta seria a maneira de relaxar e esquecer Claude Geraldy. Pelo menos por aquele dia.
Horas mais tarde, quando terminava de aplicar a segunda demão de resina sobre o piso, seu olhar pousa sobre o lustre, que pendia imponente bem no centro da sala. Droga! Deixara para depois e esquecera de pedir aos rapazes que o retirassem para que fosse lavado.
Nesse momento, Dadi vem chamá-la para o almoço. Ela tira as luvas e as botas, lava as mãos e vai para a sede.
À mesa, tenta engolir alguma coisa, mas o máximo que consegue é brincar com a pouca comida que pusera no prato.
- Me desculpem. Acho que o cheiro da resina acabou com meu apetite. Eu vou subir, tomar um banho e descansar por alguns minutos. Com licença.
- Será que ela está chateada comigo por eu ter buzinado e iluminado os dois ontem à noite? – Pergunta Frazão.
- O que você acha, Frazão? Gostaria que tivesse sido conosco? – Retruca Janete.
- Não! Parem com isso! Ela está assim porque seu irmão viajou e nem se despediu dela. Assim que ele chegar, vão ver como ela se ilumina outra vez!
- Mesmo assim, eu vou até ela me desculpar. Assim que terminar aqui.
Minutos depois...
- Rosa! Sou eu, Frazão, posso falar com você um instante?
- Entre! A porta está aberta. – Diz Rosa da varanda.
- Querida Rosa! Eu quero me desculpar por ontem à noite. Quis brincar e creio que fui... inconveniente,  não é mesmo? É por isso que está chateada?
- Frazão sermos interrompidos quando estamos juntos já é algo tão natural e esperado de acontecer quanto a chuva molhar. Não é por isso que estou assim.
- Mas vocês estão bem, não estão? A Janete disse que rola um clima, uma química entre vocês desde o primeiro dia!
- Eu não sei se nós estamos, Frazão. Olha só, ele saiu, viajou e nem me disse nada. Não perguntou se eu queria ir... Eu acho que ele está só brincando comigo.
- Rosa, Rosa, Rosa. Eu conheço o Claude. Ele é enrolado, tem medo de uma relação séria.  Mas o francês não ia brincar com você. Principalmente, na casa do pai dele. Aquela cena que eu interrompi... bem ele não faria isso aqui, se a intenção dele fosse só brincar. O François pode ser moderno, liberal, mas não suporta libertinagens...
- Obrigada por tentar me animar, Frazão.
- Elisabeth tem razão. Você foi mordida pelo amor. E o Claude que não se atreva em brincar com esse seu sentimento.  E se brincar me avise... Eu sou um ótimo boxeador! – Diz, piscando e já saindo do quarto de Rosa.
Depois de telefonar para seus pais e convencê-los que estava tudo bem, Rosa passou o resto do dia tirando as medidas da casa da piscina, pois precisava fazer o pedido das tintas e das texturas. Também mediu móveis e ângulos para confirmar que a disposição deles sairia como imaginava. 
Inventou pretextos para não aparecer no lanche da tarde que Dadi fazia todos os dias. Empenhou-se em atividades que poderiam esperar, como lixar alguns móveis pra envernizar, só para evitar pensar em Claude.
À noite, ficou no escritório, esperando que ele ligasse, com a desculpa de revisar o orçamento. Mas nenhum sinal. Aborrecida mais consigo mesmo que com outra coisa, resolve dar uma volta pelo jardim. Para seu alivio, não havia ninguém na sala.
Saiu pela porta lateral que dava acesso à área da piscina e percebeu que deixara a luz da casa acesa. Já passava das onze da noite.
- “Droga! Como fui distraída!” – E caminha até lá. Então, o lustre chama sua atenção novamente. – Quer saber? Estou sem sono mesmo, vou limpar você agora!



Arrastou pra dentro uma pequena mesa que lixara pela tarde, encheu um balde com água e sabão, colocou as luvas e com um pano nas mãos começou a limpar o lustre, apenas com a lâmpada externa da casa acesa, que iluminava a meia luz a sala.
Em pé sobre a mesa, molhava o pano na água e limpava o lustre cuidadosamente. Todo o esforço que fizera durante o dia estava se refletindo agora. Sentia-se cansada física e mentalmente.  Passou as costas da mão pela testa, enxugando o suor. O lustre começava a brilhar de tão limpo.
Ao inclinar o corpo para molhar novamente o pano, Rosa teve a impressão de ver um vulto. Assustada, virou-se rapidamente, preocupada com aquela sensação incômoda. Então, o calor, o cansaço e o quase jejum a que se submetera, fizeram sua cabeça rodar e seus pés quase derrubaram o balde.
Tentou resistir à tontura, mas não conseguiu.Tentou se agarrar ao lustre, mas as luvas escorregaram e teria caído...  se não fossem dois braços fortes  e conhecidos evitarem sua queda.
- Voilá! Pelo menos dessa vez, foi você quem caiu! E nos meus braços, hã?
Os lábios de Claude se abriram num sorriso, enquanto a colocava no chão e a mantinha colada em seu corpo com a mão em suas costas.
- Obrigada, já pode me soltar. Eu estou bem.
- Non posso non... Eu esperei o dia todo pra fazer isso – E inclina a cabeça, beijando-a.
Notando a resistência dela em corresponder, se afasta e pergunta:
- Que foi, gatinha? O que foi que eu fiz de errado agora, hã? Non sentiu saudades também?
- Não. Eu tive muito trabalho, não parei o dia todo e fiquei sem tempo pra isso!
- Mentirosa... – Diz suavemente, deslizando os dedos pelo braço dela.
- Eu não sou mentirosa! – Responde, irritada consigo mesmo por não conseguir controlar um tremor pelo corpo. Virou-se, disposta a sair dali o quanto antes.
- É sim... E eu vou provar isso! – A voz de Claude era firme e segura, mas não áspera. Agarrou-a pelo pulso, antes que fugisse e tornou a beijá-la, quase que cruelmente, só diminuindo a pressão quando percebeu que era correspondido.
Encostou-a na mesa e seus corpos se tocaram. Rosa enrijeceu o corpo, tentando afastá-lo de si.
- Não... para com isso!
- Relaxe, gatinha! Como você mesmo disse, aqui non é o nosso lugar! – Diz, encontrando os olhos dela - Non poderia seduzi-la com classe, hã? – Agora, que tal fazer um lanche comigo?  Eu estou faminto!
E sem esperar que ela aceite, segura em sua mão e a trás consigo para a cozinha da casa sede.
Rosa acaba se rendendo ao charme de Claude e come alguma coisa, fazendo-lhe companhia. 
Depois, ele a acompanha até a porta do quarto.
- Por que estava se arriscando em cima daquela mesa, chérie?
- Eu estava sem sono e... e...
- E ficou chateada porque non avisei que passaria o dia fora...  Mas você iria querer saber o motivo e non era hora ainda...
- E agora é? Vai me dizer?
- Non. Ainda non é hora. Mas tem um presentinho pra você em cima de sua cama. Esteja com ele amanhã às seis em ponto, d’accord? – Diz num tom que não admitia recusas - Non podemos nos atrasar.
- Posso saber ao menos aonde vamos?
Claude já estava na porta do seu quarto ao lado. Voltou-se para ela, sorrindo misteriosamente:
- Nós vamos... num lugar só nosso, gatinha. – E entra em seu quarto, deixando Rosa atordoada.
A noite passa. Pela manhã...
Rosa dá duas batidas na porta e entra, falando, quase sem respirar.
- Claude Geraldy! Você quer me levar onde com essa roupa?  Eu não... –Para de falar ao vê-lo na cama, dormindo, com os cabelos molhados, sem camisa e com aquela calça preta de motoqueiro do primeiro encontro... Seu coração dispara...
Ela olha em seu relógio de pulso: dez para as seis da manhã. Estava no horário combinado. Chamou-o.
- Claude... Pare de fingir, são seis horas. - Aproximou-se da cama e percebeu que ele realmente dormia.
Tenta acordá-lo, chamando-o novamente:
- Claude! Droga! – Ela encosta sua mão no ombro dele e faz uma leve pressão – Claude! São quase seis horas! Acorda, você não queria que eu me atrasasse e olha só! Claude!
Ele abre os olhos lentamente e ao vê-la, sorri.
- Mon Dieu, como você saiu ton rápido dos meus sonhos, gatinha? Parece que acertei em cheio na numeraçon! – Diz olhando-a da cabeça aos pés – Ficou perfeito! - E a puxa para a cama.  
- Perfeito?  - Desvia o olhar do corpo dele – Eu estou me sentindo...
- Sexy... Você está muito sexy nessa roupa.
E sem que Rosa pudesse evitar começa a beija-la e desce o zíper da jaqueta de couro que ela vestia...
Totalmente rendida, Rosa passa suas mãos pelas costas dele, até alcançar sua cabeça e enfiar os dedos pelos cabelos úmidos de Claude.
- Claude... vamos perder a hora... você disse que...
- Xiiiiii... só mais um pouquinho, gatinha...
Mas a porta abre de repente
- Bom dia, francês! Você pediu que eu o chamasse se sua moto estivesse...  – Frazão se cala – Foi mal aí, gente...
- Mon Dieu, Frazon, você non pode bater antes de entrar? – Claude senta-se na cama, protegendo Rosa com seu corpo.
- Como eu ia adivinhar que a Rosa estaria aqui?  Você pediu que eu o chamasse se sua moto ainda estivesse ai fora, quando eu chegasse da minha corrida...
- Cai fora, Frazon!
- Mas Claude...
- Fora! – Repete Claude, andando em sua direção.
- Já estou saindo... Seu mal agradecido... Rosa, foi mal, minha querida! Mas olha, eu não vi nada, não escutei nada e não sei  de nada! – Diz, saindo do quarto com um sorriso entre os lábios.
Claude se volta para Rosa.
- Tudo bem contigo? Eu esqueci completamente que tinha pedido isso a ele. Pardon, hã?
- Bem, não é a primeira vez que ele nos vê numa situação parecida... Só tenho a leve impressão que ele vai contar isso à Janete agora mesmo.
- Non seria ele, se non fizesse isso! Está pronta? – Pergunta, terminando de vestir uma regata branca e colocando sua jaqueta por cima. – Você pode pegar minha mochila enton, por favor? – Continua, ao vê-la afirmar que sim com a cabeça.
- Nossa! O que tem aqui dentro? Chumbo? Que peso!
- Aí dentro tem...  sentimentos, sonhos, fantasias, desejos... entre  outras coisas. Tudo que eu quero dividir contigo. Por isso é ton pesada. – Diz, olhando-a fixamente e piscando um olho – E a sua?
- No meu quarto. Segui religiosamente a sua lista... – Diz, se referindo ao bilhete que ele havia deixado junto à roupa.
- Enton, vamos. Antes que alguma coisa aconteça para nos impedir, tipo Frazon ou tia Elisabeth...

Continua...

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