XXXV
Três anos se passaram. Claude, agora,
além de empresário, era o Secretário de Habitação de Aquidauana. Firme, ele
rejeitara receber o salário comissionado e o valor era
integralmente repassado a uma instituição de caridade. Aceitava apenas
ajuda de custo e diárias quando tinha que sair da cidade.
Há dezoito meses no cargo, finalmente,
ele, Rosa e Fernanda estavam juntos novamente dia e noite.
Nos primeiros meses do novo cargo, fazia
o trajeto fazenda-cidade ida e volta todos os dias. Isso se tornou cansativo e
perigoso, principalmente na época das chuvas, pois acabava chegando tarde e
saindo muito cedo.
Depois, optaram pela permanência dele na
cidade de segunda à sexta-feira, voltando apenas nos fins de semana para
a fazenda. Mas a distância não agradou a nenhum dos três.
Claude resolveu, então, construir uma
casa na cidade, onde morariam os três. Mesmo porque Fernanda logo teria que
frequentar a escola.
Mas havia um problema: a administração
da fazenda. François e Joanna passavam a maior parte do ano viajando pelo
mundo. Frazão e Janete já estavam estabelecidos na capital. Sílvia estava noiva
de Rodrigo e logo deixaria a fazenda...
Com os investimentos feitos: Construção
de chalés,
...e um parque aquático¹ - o primeiro da região - ainda não totalmente concluído,
com piscinas para adultos e crianças, playgrounds aquáticos e, futuramente,
piscina aquecida e coberta, toboáguas e ofurôs.
As piscinas recreativas contavam com uma
equipe de salva-vidas especializada para garantir a segurança e uma enfermaria
para pequenas emergências.
Havia
serviço de bar e lanchonete
e também o restaurante, sempre aberto
aos finais de semana.
Passeios ecológicos e rurais, como
trilhas e camping continuavam
abertos. Mas Claude almejava ampliar
ainda mais, atingindo uma estrutura para eventos e congressos nacionais e internacionais.
Com todo esse investimento, Rodrigo e
Freitas tornaram-se parceiros da Pappilon Blue e juntos haviam
construído uma pista de pouso particular, entre a divisa das três fazendas,
cada um cedendo um pedaço de terra. Para tal, tiveram que obter uma
autorização prévia da Superintendência de Infraestrutura Aeroportuária da
ANAC, enviando a solicitação para a construção, devidamente justificada
quanto às necessidades e encaminhada ao Comando Aéreo Regional.
Uma das exigências de praxe para o
funcionamento da pista de pouso privada é a de mantê-la operada, sob a responsabilidade e permissão dos seus proprietários, sem exploração
comercial.
Tudo isso para maior comodidade
dos turistas que chegavam nos aeroportos internacionais e rapidamente
eram levados às fazendas.
1- Fotos do ThermasWater
Park de Águas de Lindóia e Camping Cabreúva copiadas de http://www.thermasnet.com.br/#!prettyPhoto e http://www.campingcabreuva.com.br/index-parqueaquatico.htm,
respectivamente, para fins meramente ilustrativos.
Claude, Rosa e Fernanda haviam
se mudado a quinze dias para a casa nova. Era o décimo sexto dia.
- E, enton, chérie? – Pergunta Claude
sorrindo, quando Rosa sai do banho pela manhã.
- Alarme falso! – Responde quase
chorando, sentando-se na beira da cama.
- Ei, vem cá, gatinha! – Diz Claude,
sentando-se ao lado dela e abraçando-a - Você fica muito
ansiosa, hã? Por isso non acontece.
Rosa tenta controlar o choro, mas não
consegue. Suspirando, olha para o marido e tenta se justificar.
- Mas Claude! Eu quero tanto e não
consigo! Janete que não queria nenhum teve dois um seguido do
outro!
Claude suavemente força Rosa a
encostar a cabeça em seu peito e, enquanto alisa seus cabelos, a consola.
- Por isso mesmo, hã? Ela non
estava ansiosa... Relaxe. Non vamos desistir, vamos continuar
tentando, hã? – Diz, querendo animá-la.
- Mas com Borboletinha foi tão
fácil e inesperado! Por que não pode ser assim, agora que espero?
- Porque quando fizemos Borboletinha,
estávamos fazendo amor apenas, hã? Agora toda vez que fazemos, parece que
só o que você quer é engravidar.
- Só o que eu quero?
Pensei que você também queria! – Fala, irritada, saindo do abraço.
- Mon Dieu... Você sabe que eu quero,
Rosa!
- Não foi o que eu entendi quando o
ouvi dizer : “parece que só o que você quer é engravidar.”
– Rosa faz o gesto das aspas com os dedos - Está dizendo que
o problema está em mim? – E aponta para si mesma.
- Estou dizendo desde o começo
que a sua ansiedade está bloqueando todo o processo, hã? E
aí, quando fazemos amor, você se esquece de se dar ao prazer
de sentir prazer apenas. É isso. Se cobre menos, chérie...
- Eu sabia! Eu sabia que mais
ou menos dias isso ia acontecer: você ia me acusar de
não conseguir te dar outro filho!
Claude se levanta da cama,
irritado.
- Ah, non! Você escutou o que disse?
Eu me recuso a discutir contigo nessas condições! Quando estiver disposta a dialogar
sobre isso, me avise, d’accord? – Diz, virando as costas, andando
até a janela, visivelmente magoado.
Rosa morde o lábio inferior. “Estúpida!
Como foi dizer uma coisa dessas a ele?”
Aproximou-se do marido e o abraçou
pelas costas.
- Amor, desculpa... – Diz, beijando-o
nas costas. - Eu falei besteira, falei sem pensar. A verdade é que eu
me acuso todo dia de não te dar outro filho. Eu me sinto culpada e
frustrada. Eu devo ter algum problema!
O corpo dela acompanha os
movimentos do corpo de Claude, que respira profundamente, antes de se
virar de frente para ela.
- Você sabe que non temos problema
nenhum, fizemos todos os exames, chérie. Isso vai acontecer quando tiver
que ser...
- Está me pedindo para desistir?
- Non, gatinha! Estou pedindo para
você refletir. Quando fizemos Borboletinha
estávamos seguindo nosso impulso maior, da flechada do cúpido, do amor à
primeira vista ou da química como dizem. E isso vai além da procriaçon
e do prazer de transar apenas. Claro que o ato sexual é o
fator “x” na geraçon de um filho, afinal, é por ele que
a doaçon para uma nova vida acontece... Mas mesmo essa “transa”
precisa ser feita com amor e por amor, porque nossos filhos tem quem ser amor
do nosso amor, d’accord?
Rosa fica sem palavras. Olha
para Claude e pisca várias vezes, tentando evitar as lágrimas.
- Claude, eu...
- Xiiiiiiii... Vem cá, mon amour.
Daqui pra frente, sem cobranças com você mesma, sem obsesson, sem prazos, hã? –
Diz, limpando as lágrimas dela com a ponta dos dedos. - E tem mais, se
insistirmos nisso, nossa filha pode pensar que non gostamos dela, non acha?
- Deus! Você tem razão, eu nunca
havia pensado nisso, eu fiquei tão fixa nessa ideia que... - Os lábios de
Claude a impediram de continuar falando. Ficaram tão entregues que nem
perceberam uma fraca batida na porta.
Mas o timbre infantil e sem malícia
das palavras que ouviram, os fez afastar a boca um do outro e sorrir:
- Posso entrar, mamãe?
- Pode, filha. – Respondeu Claude sem
soltar Rosa.
- Ihhhh, tão namorando de
novo?! – Diz, esfregando os olhinhos e bocejando - A gente
não ia pra casa do vovô? – Continua Fernanda, subindo na cama e
pulando sobre ela.
- Em primeiro lugar, bom dia, hã? –
Fala Claude – Em segundo, é muito bom namorar sua mãe, hã?
- Em terceiro, mocinha, sim nós vamos
à fazenda e em quar... – Diz Rosa.
- Em quarto, pare de
pular na cama. – Adianta Claude – Ou sua mãe vai ralhar com você.
Fernanda olha para a mãe e sabendo
que Rosa não gostava dessa brincadeira, dá um último salto, pula e
cai sentadinha, perguntando:
- E o meu irmãozinho?
- O que tem ele? – Pergunta Rosa,
sentando-se na cama com ela.
- Ele vai vir... Quando
ele estiver pronto. – Diz Rosa, ajeitando os cabelos da filha.
Claude senta-se ao lado da filha.
- E non se diz “encomedando”,
se diz em-co-men-dan-do, d’accord, Borboletinha?
- D’accord, papai! Mas quando é
que ele vai ficar pronto? – Insiste Fernanda.
- Quando... Quando Papai do céu e a
Mamãe natureza entrarem em acordo e aceitarem a encomenda, filha.
– Explica olhando para Claude. - Nós já pedimos, mas eles
ainda não aceitaram a encomenda.
- E você e o papai tem que pedir de
novo?! – Questiona, abraçando os dois.
- É, tem sim, meu amor.
- Ahhhh... Eu posso ir junto pra
fazer a encomennnda?
- Mon Dieu! Mas quantas perguntas.
Non, você non pode ir junto. Só adultos, papais e mamães podem ir.
– Diz Claude, fazendo cócegas na filha.
- E agora, que tal se apressar e
tomar um banho para irmos à fazenda, hã?
- Rsrsrsrs! Non, papá! Rsrsrs
Eu tenho cosquinha! Rsrsrsrsrs - Tá bom, eu vou! Rsrsrsrs
- Então, vem! – Diz pegando Fer no
colo – A mamãe vai te dar um banho e você escolhe uma roupa bem
bonita pra colocar e mm..mm..
Claude fica observando Rosa se
afastar com Fernanda e escuta a risada das duas, agora. Provavelmente Borboletinha
aprontando uma das duas durante o banho...
“Cinco anos de amor... E
eu ainda a desejo como no primeiro dia.” - Pensa, deitando-se
na cama, lembrando de como tudo começou: a moto, a chuva e Rosa, no meio
da pista, acenando, o tombo que levaram e a maneira como ficaram estendidos um
sobre o outro...
Quando percebe, Rosa e Fernanda estão
voltando. Então, o celular toca e ele conversa alguns minutos. Depois,
volta-se para Rosa e diz:
-Era Tia Elisabeth nos
convidando para uma temporada no Texas mais uma vez. Que você acha? De lá
poderíamos ir até Paris. Eu prometi e nunca a levei non é mesmo?
Continua...