Capítulo
30
Gabriele
e as gêmeas foram fazer uma visita ao Dr. Otávio. Era a primeira vez que
Gabriele iria visitá-lo. Ao chegarem, Gabriele olhou para as duas:
—
Meninas, posso ter uma conversa particular com ele primeiro?
As gêmeas
concordaram.
Gabriele
entrou no quarto. A cama do Dr. Otávio estava reclinada. Ele ainda mantinha
alguns aparelhos ligados a ele, mas estava em uma situação muito melhor que
antes. Assim que entrou, Gabriele sentou-se ao lado do Dr. Otávio, que estava
de olhos fechados. Sentindo a presença de alguém, ele abriu os olhos.
— Dr.
Otávio.
Otávio
sorriu. Parecia que sabia exatamente o que Gabriele iria dizer.
— Me
desculpe... Por ter escondido por tanto tempo que Viviane não era sua neta
biológica. E por só agora vir aqui vê-lo.
— Não tem
problema. Todos nós cometemos erros nas nossas vidas. Deve ter sido difícil
para você guardar isso por tanto tempo...
— Eu
realmente sinto muito. Eu me sinto muito envergonhada. Sei que não mereço o
perdão de ninguém, sempre soube. Deve ser por isso que sempre aceitei o comportamento
da minha filha.
— Não
fale sobre isso, está no passado agora.
Gabriele
suspirou, preparando-se para falar o que viera falar ali.
— Dr.
Otávio, queria pedir permissão ao senhor... Logo que o senhor voltar à mansão e
estiver bem melhor, gostaria de voltar para a Itália para junto da minha irmã
que mora lá. Se eu ficar mais tempo aqui, talvez minha relação com a Vivi piore
ainda mais, então, acho que nós duas precisamos de algum tempo.
Otávio
ficou calado por um instante.
— Se acha
que deve fazer... Não vou impedi-la. Mas tenho que dizer que não deveria se
afastar apesar de tudo, no entanto a decisão final é sua.
—
Obrigada por me compreender, Dr. Otávio.
***
Viviane
chegou em casa, não tinha tido um bom dia. Foi direto para o quarto. Gabriele,
que vinha da sala principal, percebeu que a filha tinha chegado e subiu para
conversar com Viviane. Entrou logo que bateu à porta. Viviane estava deitada na
cama.
— Vivi, o
que aconteceu? – perguntou.
Viviane
levantou-se e, em seguida, sentou-se na cama.
— Nada,
não aconteceu nada... – e olhando para a mãe. – Mas por que a senhora está
aqui?
Gabriele
se aproximou.
— Preciso
falar algo importante com você.
— Então,
diz logo, que hoje eu não estou com muita paciência... Já basta aquela Emily...
— Emily?
— Já
disse não é nada... – e já impaciente. – A senhora vai demorar muito?
Gabriele
sorriu um sorriso tímido.
— Não,
claro que não... É só que eu queria avisar que eu... – disse fazendo uma
pequena pausa. – Estou indo embora para a Itália.
Viviane
olhou para a mãe.
— E?
— Pretendo
passar um bom tempo lá. Talvez um ano ou dois anos. Na verdade, não tenho
previsão de retorno.
— Que bom
para a senhora... A Itália é muito bonita.
― Você
está bem com isso? – perguntou Gabriele, na esperança de ver algum interesse
por parte de Viviane.
Viviane
suspirou como se estivesse entediada.
― Estou.
Não é como se fosse algo diferente do que tenho vivido esses anos. Mas eu já
tinha ouvido falar nisso, então tanto faz.
Gabriele
sorriu.
— É que
eu achei que era melhor vir falar com você pessoalmente.
— Não
precisava. – disse Viviane sem interesse. – Você é dona da sua própria vida,
não precisa me dar satisfações.
Gabriele
ia saindo. Viviane olhou para a mãe e a falou algo meio sem jeito.
— Boa
viagem. – disse Viviane em tom baixo, desviando o olhar.
Gabriele
tentou disfarçar a surpresa.
— Ah...
Obrigada. – disse, saindo.
***
No dia
seguinte, logo cedo, Fabrício foi à mansão.
— Oi,
Fabrício! – disse Mariana ao ver o rapaz na sala, esperando a irmã.
— Oi,
Mariana. – cumprimentou sorridente. – Sua irmã vai demorar muito?
Mariana
sorriu.
— A
Manu está se arrumando só para você, sabia? Ela não era assim, agora, fica
horas e horas na frente do espelho. – disse, rindo.
— O que
você está dizendo, hein, Mariana? – perguntou Emanuela, que descia as escadas.
Fabrício
riu.
— Vocês
duas são sempre assim? Sempre fazendo brincadeiras uma com a outra? Vocês
parecem muito unidas...
Mariana
riu.
— Unidas?
Que nada. Quando éramos menores, vivíamos brigando por qualquer coisinha. Isso
tudo por que ela é uma chata de galocha.
Emanuela
ficou de boca aberta.
— Então,
eu sou a chata? – disse ela, se aproximando da irmã. – E você é o quê? A garota
mais simpática da face da terra?
— Óbvio,
não? – disse ela. – Linda, simpática, inteligente e... modesta!
Fabrício
e Emanuela riram.
— Mas,
mudando de assunto, mana. – disse Mariana curiosa. – Para onde vocês vão?
— Vamos
passear um pouco... – respondeu Fabrício. – Por quê? Você quer vir com a gente?
Mariana
abriu a boca.
— E
pousar de vela? Sem chance! – disse, pegando uma revista e dramatizando. – Prefiro
ficar aqui, com a minha revista... Sozinha... Sem ninguém... Já que me tomaram
a minha irmã...
Emanuela
sentou-se ao lado da irmã.
— Tem
certeza que não quer vir com a gente? Vai que você acha um príncipe encantado?
– disse sorrindo.
Mariana
olhou para a irmã.
— Manu...
O buraco está mais embaixo. O mar está mais pra sapo do que pra príncipe do
reino das águas claras...
Emanuela
riu.
— Mari, o
problema é que você é exigente demais. – e como tendo uma ideia. – E o Dr.
Rafael? Você vivia indo para o hospital para conversar com ele... Pensei que
tinha algo entre vocês...
Mariana
fechou a revista e olhou para a irmã.
— Emanuela,
não exagera... O Dr. Rafael é só um amigo. Só amigo. E se a Viviane escuta isso,
eu estou morta e enterrada. – e olhando para os dois. – Mas vocês não estão
demorando a sair?
— Você
não quer mesmo vir com a gente? – insistiu a irmã.
— Vão em
paz, meus filhinhos... Eu dou a minha benção.
Emanuela
e Fabrício riram.
— Tudo
bem, então, a gente está indo... – disse Fabrício, pegando na mão de Emanuela e
saindo pela porta principal da mansão.
Os dois
entraram no carro. Fabrício só parou, quando chegaram ao calçadão perto da
praia, onde resolveram caminhar um pouco.
— Sua
irmã é muito espontânea, não? – disse Fabrício.
Emanuela
sorriu e, depois, ficou um pouco pensativa.
― É
verdade. Ela é muito simpática... Mas...
― Mas o
quê?
― Tem
algo estranho... Você não notou?
― O quê?
Não notei nada. Era para ter notado?
― Talvez
não tenha notado, porque não a conhece muito tempo. Mas Mariana estava
estranha. Ela normalmente é simpática, mas só fica expansiva demais, quando...
― Quando
o quê?
― Não é
nada. Talvez eu esteja imaginando. Afinal, se estivesse acontecendo alguma coisa,
ela teria me dito.
***
A
primeira aula de Viviane tinha acabado de terminar quando Verônica apareceu na
porta da sala.
— Por que
você sempre é a última a sair?
Viviane
saiu da sala e Verônica a acompanhou.
— O que
foi? – perguntou Viviane, notando certa ansiedade da amiga.
— É só
uma coisinha que eu descobri sobre o Gabriel... Acho que você gostaria de
saber.
Viviane
não entendeu.
— Eu? Por
que eu gostaria de saber sobre o Gabriel? Mesmo que eu tenha dito que vou tomá-lo
da Emily, não é porque eu tenha interesse nele... Tenho mais coisas para me
preocupar...
Verônica
riu.
— Também
é relacionado com a Emily...
Ao ouvir
aquele nome, Viviane parou.
— Agora
parece que realmente é interessante. E aí o que descobriu?
Verônica
chegou mais perto de Viviane e sussurrou-lhe.
— Parece
que Emily está planejando uma festa no próximo mês.
— E o que
tem isso?
— Bem, é
claro que não é só isso... Ouvi dizer que Emily está planejando fazer você sabe
o quê com o Gabriel.
— Quê?
— Isso
mesmo. Parece que ela está determinada a ganhar o coração dele de qualquer
forma.
Viviane
ficou boquiaberta.
— Você
tem certeza? Nossa... Se eu deixar o relacionamento deles chegar a esse ponto,
acho que vai ser difícil para eu conseguir minha vingança... Antes disso, vou
ter que dar um jeito de me aproximar de Gabriel e agarrá-lo.
— E se
não der certo? Depois do que aconteceu, acho que Gabriel vai se distanciar de
você. Ele é do tipo sério demais, quando se mexe com os amigos.
— Tem
razão... Mas se não der certo, então, eu mesma vou nessa festa e tento arruinar
o plano dela pessoalmente.
Verônica
concordou.
— Claro!
– e um pouco desanimada. – Mas tem uma coisinha...
— O quê?
– perguntou Viviane displicente.
— É que
essa festa não é livre... Apenas os convidados portando o convite vão poder
entrar lá. Então, acho que vai ter que dar um jeito.
Vivi não
parecia preocupada com isso.
— Na hora
eu dou um jeito. Não acredito que vão impedir Viviane Alcântara entrar em uma
festa. – e sorrindo. – As pessoas, em geral, querem que eu apareça.
Verônica
riu meio sem graça.
— E você
esqueceu que sua popularidade atualmente está em baixa? O que estou dizendo...
Para começar, ela nunca esteve em alta.
— Engraçadinha.
Eu já disse, isso é o de menos. Falta um mês para a festa. Daqui para lá vou
dar o meu jeito. Sabendo onde e quando, o resto eu me arranjo.
***
Fabiano
estava em sua sala, onde verificava alguns documentos. De repente, alguém bateu
à porta e colocou a cabeça para dentro. Era Rafael.
— Dr.
Fabiano, a reunião dos médicos foi adiada para as cinco da tarde...
Fabiano
olhou rapidamente para a porta enquanto voltava a atenção para os papéis que
verificava.
—
Obrigado por avisar.
Rafael ia
sair, quando pensou duas vezes e entrou na sala, fechando a porta atrás de si.
—
Fabiano, hoje, alguns médicos marcaram de sair... Você não gostaria de vir com
a gente?
— Não,
obrigado. – respondeu ele, sem tirar os olhos do papel.
Rafael
ficou em silêncio por um instante, enquanto observava o amigo concentrado no
que fazia.
— Eu só
convidei por que ultimamente você tem estado muito concentrado no trabalho...
Então, seria bom, você, sei lá, sair um pouco da rotina... Conhecer novas
garotas...
Fabiano
sorriu.
— Novas
garotas? – disse, olhando de relance para o colega e voltando os olhos para os
documentos que organizava. – Eu acho que você realmente está precisando de
garotas por perto... Afinal, a Viviane tem vindo com menos frequência ao
hospital.
— Ih...
Resolveu pegar no meu pé? – perguntou Rafael, e curioso. – Mas o que aconteceu
mesmo com ela? Tinha notado mesmo que algo tinha mudado na rotina.
Fabiano
sorriu.
— Eu não
disse? Já está sentindo falta da garota... – e olhando para Rafael um pouco
mais sério. – Mas ela tem estado diferente mesmo depois do que aconteceu.
O Dr.
Rafael percebeu sobre o que Fabiano falava.
— E não é
para menos... – comentou Rafael. – Na idade dela passar por aquilo... – disse
ele pensativo.
Fabiano
olhou para Rafael e riu.
— O que
foi? Está se compadecendo dela? Olha que esse é o primeiro passo para a
paixão...
— Por
favor, Fabiano, você sabe o que eu penso disso. – e olhando para o amigo. – Mas
e você? Como vai a Rebeca?
Rafael
percebeu que a expressão de Fabiano mudou completamente. Fabiano levantou-se e
colocou guardou alguns exames em um móvel.
— Acho
que meu trabalho aqui terminou. E não quero falar sobre isso.
Rafael
estranhou aquela reação.
— O que
aconteceu? Pensei que a relação de vocês estava evoluindo. – e sorrindo. – Não
me diga que já teve uma DR com ela?
Fabiano
olhou sério para o colega.
— Eu já
disse, não quero falar sobre isso.
Rafael
percebeu que Fabiano não estava a fim de brincadeiras.
— Tudo
bem, então. De qualquer forma, o convite está feito. – disse, saindo, enquanto
observava o amigo que voltava ao trabalho.
***
Rebeca
tomava um chá com a vizinha, pois Marcos a dispensara por aquele dia. Dona
Jandira falava sobre a sua vida, como sempre fizera, e sobre seus filhos e
netos.
— Eu
gostaria mesmo que você conhecesse meus filhos... Quem sabe você não se interessaria
por algum. Você é uma boa moça... – e olhando para Rebeca, que estava com o
olhar perdido, enquanto observava a xícara de chá. – O que aconteceu, minha
filha? Não me parece muito bem.
Rebeca
pareceu acordar de seus devaneios.
— O quê?
Não... Não aconteceu nada...
Dona
Jandira sorriu.
— Você
pode falar comigo sobre qualquer coisa, você sabe...
Rebeca
olhou para a vizinha e pareceu decidir o que falava.
— Dona
Jandira, devemos contar todos os nossos segredos para as pessoas que amamos?
— Como
assim?
— Sim...
Tem uma pessoa que eu amo muito, mas se eu contar a verdade a ela, talvez passe
a me odiar... No entanto, talvez agora, ela já esteja começando a me odiar.
Então, o que eu deveria fazer?
Dona
Jandira sorriu.
— E por
que não dizer?
Rebeca
ficou confusa.
— Mesmo
arriscando tudo?
— Nunca
se sabe o que vai acontecer, não é? Às vezes, subestimamos a capacidade de
perdoar das pessoas, às vezes, superestimamos. Em todo caso, se acha que ele já
está te odiando, então, não tem muita coisa a perder, tem?
Rebeca
sorriu, aquela senhora tinha sua lógica, mas mais do que contar, não tinha
coragem suficiente para isso. Havia muita coisa envolvida e muitas pessoas
também.
***
Fernandes
estava em seu escritório na boate, quando alguém bateu à porta. Era a sua irmã.
— O que
foi Rosália? – perguntou, logo quando ela entrou.
Rosália
olhou para o irmão com o olhar de desaprovação e suspirou.
— O
Renato está aí... Quer falar com você.
— Por que
não disse para ele entrar? – perguntou ele um pouco irritado.
Rosália
abriu a porta e chamou Renato, que se sentou em uma cadeira próxima à mesa de
Fernandes.
— Não me
diga que já fez o que eu pedi... E aí?
Renato
sorriu.
— Não
deveria me subestimar. Fiz sim, mas antes quero o pagamento... Você sabe, não
posso entregar sem que você me dê o dinheiro.
Fernandes
levantou-se, abriu uma gaveta em um móvel próximo e tirou um pacote,
entregando-o ao Renato.
— Aqui
está. Agora diga o que sabe.
Renato
sorriu, conferindo o dinheiro que se encontrava dentro do envelope.
— Não me
leve a mal... Você sabe, não costumo confiar nas pessoas.
Fernandes
estava sério e Renato percebeu que estava ficando sem paciência.
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