O
texto abaixo é de autoria de Lima Barreto.
Para
maiores informações sobre o autor, favor acessar: http://www.e-biografias.net/lima_barreto/.
Boa
leitura!
A
CARROÇA DOS CACHORROS
Quando
de manhã cedo, saio da minha casa, triste e saudoso da minha mocidade que se
foi fecunda, na rua eu vejo o espetáculo mais engraçado desta vida.
Amo
os animais e todos eles me enchem do prazer natureza.
Sozinho,
mais ou menos esbodegado, eu, pela manhã desço a rua e vejo.
O
espetáculo mais curioso é o da carroça dos cachorros. Ela me lembra a antiga
caleça dos ministros de Estado, tempo do império, quando eram seguidas por duas
praças de cavalaria de polícia.
Era
no tempo da minha meninice e eu me lembro disso com as maiores saudades.
-
Lá vem a carrocinha! - dizem.
E
todos os homens, mulheres e crianças se agitam e tratam de avisar os outros.
Diz
Dona Marocas a Dona Eugênia:
-
Vizinha! Lá vem a carrocinha! Prenda o Jupi!
E
toda a “avenida" se agita e os cachorrinhos vão presos e escondidos.
Esse
espetáculo tão curioso e especial mostra bem de que forma profunda nós homens
nos ligamos aos animais.
Nada
de útil, na verdade, o cão nos dá; entretanto, nós o amamos e nós o queremos.
Quem
os ama mais, não somos nós os homens; mas são as mulheres e as mulheres pobres,
depositárias por excelência daquilo que faz a felicidade e infelicidade da
humanidade - o Amor.
São
elas que defendem os cachorros dos praças de polícia e dos guardas municipais;
são elas que amam os cães sem dono, os tristes e desgraçados cães que andam por
aí à toa.
Todas
as manhãs, quando vejo semelhante espetáculo, eu bendigo a humanidade em nome
daquelas pobres mulheres que se apiedam pelos cães.
A
lei, com a sua cavalaria e guardas municipais, está no seu direito em
persegui-los; elas, porém, estão no seu dever em acoitá-los.
Marginália,
20-9-1919
Gostei do texto!
ResponderExcluirQue lindo texto!
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