O
texto abaixo é da autoria de José Cândido de Carvalho.
Para
maiores informações sobre o autor, favor acessar: https://www.ebiografia.com/jose_candido_de_carvalho/.
Boa
leitura!
VÍRGULA
NÃO FOI FEITA PARA HUMILHAR NINGUÉM
Era
Borjalino Ferraz e perdeu o primeiro emprego na Prefeitura de Macajuba por
coisas de pontuação. Certa vez, o diretor do Serviço de Obras chamou o
amanuense para uma conversa de fim de expediente. E aconselhativo:
–
Seu Borjalino, tenha cuidado com as vírgulas. Desse jeito, o amigo acaba com o
estoque e a comarca não tem dinheiro para comprar vírgulas novas.
Fez
outros ofícios, semeou vírgulas empenadas por todos os lados e foi despedido.
Como era sujeito de brio, tomou aulas de gramática, de modo a colocar as
vírgulas em seus devidos lugares. Estudou e progrediu. Mais do que isso, saiu
das páginas da gramática escrevendo bonito, com rendilhados no estilo. Cravava
vírgulas e crases como ourives crava as pedras. O que fazia o coletor federal
Zozó Laranjeira apurar os óculos e dizer com orgulho:
–
Não tem como o Borjalino para uma vírgula e mesmo para uma crase. Nem o
presidente da República!
E
assim, um porco-espinho de vírgulas e crases, Borjalino foi trabalhar, como
escriturário, na Divisão de Rendas de São Miguel do Cupim. Ficou logo
encarregado dos ofícios, não só por ter prática de escrever como pela fama de
virgulista. Mas, com dois meses de caneta, era despedido. O encarregado das
Rendas, funcionário sem vírgulas e sem crases, foi franco:
–
Seu Borjalino, sua competência é demais para repartição tão miúda. O amigo é um
homem de instrução. É um dicionário. Quando o contribuinte recebe um ofício de
sua lavra cuida que é ordem de prisão. O coronel Balduíno dos Santos quase teve
um sopro no coração ao ler uma peça saída de sua caneta. Pensou que fosse
ofensa, pelo que passou um telegrama desaforado ao Senhor Governador do Estado.
Veja bem! O Senhor Governador.
E
por colocar bem as vírgulas e citar Nabucodonosor em ofício de pequena
corretagem, o esplêndido Borjalino foi colocado à disposição do olho da rua.
Com uma citação no Diário Oficial e duas gramáticas debaixo do braço.
Sem vírgulas e ponto. kkkk
ResponderExcluirUm ótimo conto, amei ler! Sempre tive certa dificuldade com as vírgulas rsrs.
ResponderExcluirBom demais! Grande José Cândido de Carvalho ! Alô, professores de LP e Literatura,vamos espalhar os contos de JCC pelas salas de aula...
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