O texto
abaixo é de autoria de Paulo Mendes Campos.
Para
maiores informações sobre o autor, favor acessar: https://www.ebiografia.com/paulo_mendes_campos/.
Boa
leitura!
OS
ANJOS CONTAM HISTÓRIAS
O
chefe da família na máquina de trabalhar. A mulher na enceradeira. A cozinheira
no fogão. O passarinho na gaiola. Os peixes no mar. A gaivota pescando. A
menina rolando no chão. O menino, doente, na cama. Todos nós somos deste mundo,
menos as crianças. E o menino, perseguido de visões febris, vai falando sem
parar:
“O
filho da vaca é o bezerrinho, o pai da vaca é o boi. Não é? Eu vou morar num
sítio. Morar muito. Um dia, quando eu fui fazer pipi, vi duas professoras de
inglês. Igual. Eu vou trazer um pato do sítio e botar em cima da cabeça do
Didi. Quando eu ficar bom, quero ir no circo. Eu já cortei a mão. Papai,
papai-i: conta uma história de camelinho. História triste, não. Nova e alegre.
Mãe, tá doendo, tou com dor de cabeça. Eu só gosto daquele remédio cor de
laranja. Cafiaspirina eu não gosto. O gatinho caiu no poço, vestido de amarelo,
todo mundo veio em volta pensando que era marmelo. Quando eu fui no colégio vi
nuvens. A nuvem estava passando nas nuvens. Não estava chovendo. Ai, eu quero
sair da cama! Laurita, eu não vou comer aquela coisa que arde. Papai é um
burro, mamãe é a mulher do burro, e eu sou um burrinho. Mãe-i, você vai um dia
naquela esquina longe? Lá tem anzol. Você compra uma vara nova, que o peixinho
não gosta de vara velha, não.
Eu
te dou um bombom. Galibi é menina, mas ela gosta de pescar. Se não fizer um
poleiro, o galo sobe na árvore e estraga as pitangas. Pai-i, quando eu crescer,
vou ganhar um trem de ferro elétrico. Você vai dar. Meu dodói dói. Eu não comi
muita azeitona. Maionese eu não gosto. Maionese é aquele remédio que eu tomei
agora.
Eu
só gosto de remédio vermelho. Elefante gosta de amendoim. Tia Edir sabe fazer
espantalho: snowman ela não sabe, não: aqui não tem inverno. Se você fala
inglês, papagaio também fala. Mas fala também paracopaco, não fala? Leão de
circo não come você, não; de jardim zoológico come. Galibi, conta uma
história…”
A
irmã sobe na cama e começa a contar uma história:
“Era
uma vez um nenê. Era só cantar ‘Dorme, nenê’, que ele dormia. Mas logo depois
precisava de chegar uma porção de anjos. Já conheciam a dona daquela casa, e
por isso tinham dado o nenê para ela. A mãe fazia roupa para o seu nenê
querido. Um dia, a família foi viajar; o nenê foi de roupa muito bonita. Quando
voltaram da linda viagem, quem adorou mais foi o nenê. Era só o que faltava! Os
anjos! Sim, sua mãe sempre precisava dos anjos para ajudar. O nenê adorava sua
mãe, mas não podia faltar nada para ele, e, assim, não deixava ela fazer nada,
gritava, chorava, fazia tantas molecagens que a mamãe não podia trabalhar. A
mãe um dia chamou os anjos e pediu que eles dessem um jeito. Os anjos, muito
espertos, levaram o nenê para a mata, para o galho duma árvore. O nenê ficou
contente da vida! Os passarinhos traziam flores para ele, as abelhas traziam
mel, o nenê ria. Enquanto isso, seu pai tinha viajado e sua mãe também. Antes
de voltar da viagem, a mãe, de tanta saudade daquele nenê querido, mandou o irmão
buscar ele na mata. Quando o irmão chegou, o nenê estava brincando com as
estrelas do céu, e os anjos estavam procurando diamantes. Já era bem de noite e
o sol estava se escondendo. Até o seu corrupião estava com fome. Mas, aí, sua
mãe já era tão pobre que não tinha mais empregada. Todos eram pobres, o
cachorro, a árvore, o cavalo. Mas enfim tudo estava em silêncio e quieto. Era
uma hora da madrugada, e já estava quase ficando de dia. A noite era tão triste
e a mãe não tinha comida. Na hora de jantar, só tinha dado leite, bife, batata,
sopa, salada e aveia. Então chegou um anjinho e contou uma história para o
nenê: ‘Era uma vez uma cidade que tinha muitas casas de frutas, mas o sol
estava tão quente que mandava seus raios para todos os lados’. O nenê sentiu
muito o sol da história, e o anjo então mandou que os raios de luz começassem a
ir embora. Quando ficou de noite outra vez, o sol foi para a China. A China não
é perto, é muito longe. O nenê também foi para a China, porque não gostava de
escuro. E todo dia, quando ficava escuro, ia para a China. E os anjinhos nunca
mais encontraram o nenê naquela caminha tão boa.”
O
menino diz: “Pai, a Inês me ensinou a fazer navio”.
Legal essa história, amei ler!
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