O texto abaixo é de autoria de Otto Lara Resende.
Para maiores informações sobre o autor, favor acessar: https://www.ebiografia.com/otto_lara_resende/.
Boa leitura!
SIM, NÃO, TALVEZ
Só
na aparência a pergunta é simples. Que é que move um deputado? No fundo, é como
indagar o que move qualquer um de nós. Justifica-se a curiosidade, nesta hora
em que se joga o destino do país. Se me detiver na análise do que colheu a
pesquisa, vou ficar numa resposta simples. Ou pior, insatisfatória. O que vem
logo à mente e aos lábios é o interesse. O interesse move, sim, um deputado.
Mas também move quem não é deputado.
Radicalizando,
vamos encontrar interesse na amizade. Você é amigo de quem lhe parece
agradável. Quem tem afinidade com as suas ideias. Em suma, quem lhe dá prazer,
lhe faz boa companhia. Nem o amor escapa, nessa linha de raciocínio. O amor é
troca. No parceiro ou na parceira, você busca o que lhe agrada. Quem se junta
se parece, lá diz o ditado. Em francês soa mais verdadeiro: “Qui s’assemble se
ressemble”. Ou vice-versa. Quem se parece se junta.
O
interesse, no caso do deputado, pode ser legítimo. Ou nem tanto. A parte
visível é, mas uma parte submersa não é. Mergulha nos biocos da alma. Nem o
próprio deputado às vezes saberá descer a esse porão, que deita raiz no
inconsciente. Também pode ser escuso, o interesse. Oculto, não ousa encarar a
luz do dia. Como tudo que se processa nesse laboratório íntimo, não é fácil
entender como se elabora uma decisão. Ao lado do interesse, há a dimensão
moral. A intelectual. A religiosa.
É
natural que o deputado queira ficar bem com a opinião pública, em particular
com os seus eleitores. E pode se dar o caso que se instale aí um conflito.
Ficar bem com os seus mandantes nem sempre coincide com a tônica da opinião
pública. Um representante das grotas mal distingue o murmúrio que vem, se vem,
lá dos cafundós, onde Judas perdeu as botas. E a fala. Mas o rugido da grande
cidade o ensurdece. Pode lhe tirar o sono, dependendo de sua formação.
Ou
não. Pois há quem se motive na contenda. O aberto confronto revigora. Afugenta
medos. Desassombra.
Satisfeito o desejo de aparecer, a luz da publicidade conforta. Lógica, bom
senso, raciocínio, tudo pesa. Os compromissos de um e outro lado, com o governo
e com a oposição. Um olho no próximo mandato, outro na manutenção de vantagens.
Cargos, encargos. Afastada a hipótese do automatismo ideológico, ainda restam
mil fatores. Animal compósito, o homem! Mesmo deputado.
Fonte: https://cronicabrasileira.org.br/cronicas/6902/sim-nao-talvez.
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