terça-feira, 9 de julho de 2013

FIC - BORBOLETAS NO CORAÇÃO - CAPÍTULO 35 - AUTORA: SÔNIA FINARDI

XXXV

Três anos se passaram. Claude, agora, além de empresário, era o Secretário de Habitação de Aquidauana. Firme, ele rejeitara receber  o salário comissionado e  o valor era integralmente repassado a uma instituição de caridade. Aceitava apenas  ajuda de custo e diárias quando tinha que sair da cidade.
Há dezoito meses no cargo, finalmente,  ele,  Rosa e  Fernanda estavam juntos novamente  dia e noite.
Nos primeiros meses do novo cargo, fazia o trajeto fazenda-cidade ida e volta todos os dias. Isso se tornou cansativo e perigoso, principalmente na época das chuvas, pois acabava chegando tarde e saindo muito cedo.
Depois, optaram pela permanência dele na cidade de segunda à sexta-feira, voltando apenas nos fins  de semana para a fazenda. Mas a distância  não agradou a nenhum dos três.
Claude resolveu, então, construir uma casa na cidade, onde morariam os três. Mesmo porque Fernanda logo teria que frequentar  a escola.

                                   
Mas havia um problema: a administração da fazenda. François e Joanna passavam a maior parte do ano viajando pelo mundo. Frazão e Janete já estavam estabelecidos na capital. Sílvia estava noiva de Rodrigo e logo deixaria a fazenda...
Com os investimentos feitos: Construção de chalés,



...e um parque aquático¹ -  o primeiro da região - ainda não totalmente concluído, com piscinas para adultos e crianças, playgrounds aquáticos e, futuramente, piscina aquecida e coberta, toboáguas e ofurôs.
As piscinas recreativas contavam com uma equipe de salva-vidas especializada para garantir a segurança e uma enfermaria para pequenas emergências.




Havia  serviço de bar e  lanchonete e  também o restaurante, sempre aberto aos finais de semana.
Passeios ecológicos e rurais, como trilhas e camping  continuavam abertos. Mas Claude almejava ampliar ainda mais, atingindo uma estrutura para eventos e  congressos nacionais e internacionais.
Com todo esse investimento, Rodrigo e Freitas tornaram-se parceiros  da Pappilon Blue e juntos  haviam construído uma pista de pouso particular, entre a divisa das três fazendas, cada um cedendo um pedaço de terra. Para tal, tiveram que  obter uma  autorização prévia da Superintendência de Infraestrutura Aeroportuária da ANAC, enviando a solicitação para  a construção, devidamente justificada quanto às necessidades e encaminhada ao Comando Aéreo Regional.
Uma das exigências de praxe para o funcionamento da  pista de pouso  privada é a de mantê-la operada, sob a responsabilidade e permissão dos seus proprietários, sem exploração comercial.
Tudo isso para  maior comodidade dos turistas que  chegavam nos aeroportos internacionais e rapidamente eram  levados às fazendas.



1- Fotos do ThermasWater Park de Águas de Lindóia e Camping Cabreúva copiadas de http://www.thermasnet.com.br/#!prettyPhoto http://www.campingcabreuva.com.br/index-parqueaquatico.htm, respectivamente,  para fins meramente ilustrativos.

Claude, Rosa e Fernanda haviam  se mudado a quinze dias para a casa nova.  Era o décimo sexto dia.
- E, enton, chérie? – Pergunta Claude sorrindo, quando Rosa sai do banho pela manhã.
- Alarme falso! – Responde quase chorando, sentando-se  na beira da cama.
- Ei, vem cá, gatinha! – Diz Claude, sentando-se ao lado dela e abraçando-a -  Você  fica  muito ansiosa, hã? Por isso non acontece.
Rosa tenta controlar o choro, mas não consegue. Suspirando, olha para o marido e tenta se justificar.
- Mas Claude! Eu quero tanto e não consigo!  Janete  que não queria nenhum  teve dois um seguido do outro!
Claude suavemente força Rosa a encostar a cabeça em seu peito e, enquanto alisa seus cabelos,  a consola.
- Por isso mesmo, hã? Ela non estava  ansiosa... Relaxe. Non vamos  desistir,  vamos continuar tentando, hã? – Diz, querendo animá-la.
- Mas com Borboletinha foi tão  fácil e inesperado! Por que não pode ser assim, agora que espero?
- Porque quando fizemos Borboletinha, estávamos  fazendo amor apenas, hã? Agora toda vez que fazemos, parece que só o que você quer é engravidar.
- Só o que eu quero? Pensei que você também queria! – Fala, irritada, saindo do abraço.
- Mon Dieu... Você sabe que eu quero, Rosa!
- Não foi o que eu entendi quando o  ouvi dizer : “parece que só o que você quer é engravidar.” – Rosa faz o gesto das aspas com os dedos -  Está  dizendo que o problema está em mim? – E aponta para si mesma.
- Estou dizendo desde o começo que  a sua ansiedade  está bloqueando todo o processo, hã?  E aí, quando fazemos amor, você se esquece de  se dar ao  prazer  de  sentir  prazer apenas. É isso. Se cobre menos, chérie...
- Eu sabia!  Eu sabia que mais ou menos dias  isso  ia acontecer: você  ia me acusar de não conseguir te dar outro filho!
Claude  se levanta da cama, irritado.
- Ah, non! Você escutou o que disse? Eu me recuso a discutir contigo nessas condições! Quando estiver disposta a dialogar sobre isso, me  avise, d’accord? – Diz, virando as costas, andando até a janela, visivelmente magoado.
Rosa morde o lábio inferior. “Estúpida! Como foi dizer uma coisa dessas a ele?”
Aproximou-se do marido e o abraçou pelas costas.
- Amor, desculpa... – Diz, beijando-o nas costas. -  Eu falei besteira, falei sem pensar. A verdade é que eu me acuso todo dia de não te dar outro filho. Eu me  sinto culpada e frustrada. Eu devo ter algum problema!
O corpo dela acompanha os movimentos  do corpo de Claude, que respira profundamente, antes de se virar de frente para ela.
- Você sabe que non temos problema nenhum, fizemos todos os exames, chérie. Isso vai  acontecer quando tiver que ser...
- Está me pedindo para desistir?
- Non, gatinha! Estou pedindo para você  refletir. Quando fizemos Borboletinha estávamos seguindo nosso impulso maior,  da flechada do cúpido, do amor à primeira vista ou da química como dizem. E isso vai além da procriaçon  e do prazer de transar apenas. Claro que  o ato sexual é o fator “x” na  geraçon  de um  filho, afinal, é por ele que a doaçon para uma nova vida  acontece... Mas mesmo essa “transa” precisa ser feita com amor e por amor, porque nossos filhos tem quem ser amor do nosso amor, d’accord?
Não ajudou
Rosa fica sem palavras.  Olha para Claude e pisca várias vezes, tentando evitar as lágrimas.
- Claude, eu...
- Xiiiiiiii... Vem cá,  mon amour. Daqui pra frente, sem cobranças com você mesma, sem obsesson, sem prazos, hã? – Diz, limpando as lágrimas dela com a ponta dos dedos. -  E tem mais, se insistirmos nisso, nossa filha pode pensar que non gostamos dela, non acha?
- Deus! Você tem razão, eu nunca havia pensado nisso, eu fiquei tão fixa nessa ideia que... - Os lábios  de Claude a impediram de continuar falando. Ficaram tão entregues que nem perceberam uma fraca batida na porta.
Mas o timbre infantil e sem malícia das palavras que ouviram, os fez afastar a boca  um do outro e sorrir:
- Posso entrar, mamãe?
- Pode, filha. – Respondeu Claude sem soltar  Rosa.
- Ihhhh, tão namorando de novo?!  – Diz, esfregando os olhinhos e bocejando  -  A gente não ia pra  casa do vovô? – Continua  Fernanda, subindo na cama e pulando sobre ela.
- Em primeiro lugar, bom dia, hã? – Fala Claude – Em segundo, é muito bom namorar sua mãe, hã?
- Em terceiro, mocinha, sim nós vamos à fazenda e em quar...  – Diz Rosa.
-  Em quarto,  pare de pular na cama. – Adianta  Claude – Ou sua mãe vai ralhar com você.
Fernanda olha para a mãe e sabendo que Rosa não gostava dessa brincadeira, dá um último salto, pula e cai sentadinha, perguntando:
- E o meu irmãozinho?
- O que tem ele? – Pergunta Rosa, sentando-se  na cama com ela.
- A vovó disse que vocês  tão enco... enco... encomedando ele!  Quando é que ele vem?
- Ele vai vir...  Quando  ele estiver pronto. – Diz Rosa, ajeitando os cabelos  da filha.
Claude senta-se ao lado da filha.
- E non se diz “encomedando”, se diz em-co-men-dan-do, d’accord, Borboletinha?
- D’accord, papai!  Mas quando é que ele  vai ficar pronto? – Insiste Fernanda.
- Quando... Quando Papai do céu e a Mamãe natureza entrarem em acordo  e aceitarem a encomenda, filha. – Explica olhando para Claude. -  Nós  já pedimos, mas eles ainda não aceitaram  a encomenda.
- E você e o papai tem que pedir de novo?! – Questiona, abraçando os dois.
- É, tem sim, meu amor.
- Ahhhh... Eu posso ir junto pra fazer a encomennnda?
- Mon Dieu! Mas quantas perguntas. Non, você non pode ir junto. Só adultos, papais e mamães podem  ir.  – Diz Claude, fazendo cócegas na filha.
- E agora, que tal se apressar e tomar um banho para irmos à fazenda, hã?
- Rsrsrsrs! Non, papá! Rsrsrs  Eu tenho cosquinha! Rsrsrsrsrs  - Tá bom, eu vou! Rsrsrsrs
- Então, vem! – Diz pegando Fer no colo – A mamãe vai te dar um banho e você escolhe  uma roupa bem  bonita  pra colocar e mm..mm..
Claude fica observando Rosa se afastar com Fernanda e escuta a risada das duas, agora. Provavelmente Borboletinha aprontando uma das duas durante o banho...
 “Cinco anos de amor... E eu  ainda a desejo como no primeiro dia.”  - Pensa, deitando-se na cama, lembrando de como tudo começou:  a moto, a chuva e Rosa, no meio da pista, acenando, o tombo que levaram e a maneira como ficaram estendidos um sobre o outro...
Quando percebe, Rosa e Fernanda estão voltando. Então, o celular  toca e ele conversa alguns minutos. Depois, volta-se para Rosa e diz:
-Era Tia Elisabeth  nos convidando para uma temporada no Texas mais uma vez. Que você acha?  De lá poderíamos ir até Paris. Eu prometi e nunca a levei non é mesmo?

Continua...

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