O
texto abaixo é de autoria de Moacyr Scliar.
Para
maiores informações sobre o autor, favor acessar: http://www.releituras.com/mscliar_bio.asp.
Boa
leitura!
BRUXAS
NÃO EXISTEM
Quando
eu era garoto, acreditava em bruxas, mulheres malvadas que passavam o tempo
todo maquinando coisas perversas. Os meus amigos também acreditavam nisso. A
prova para nós era uma mulher muito velha, uma solteirona que morava numa
casinha caindo aos pedaços no fim de nossa rua. Seu nome era Ana Custódio, mas
nós só a chamávamos de "bruxa".
Era
muito feia, ela; gorda, enorme, os cabelos pareciam palha, o nariz era
comprido, ela tinha uma enorme verruga no queixo. E estava sempre falando
sozinha. Nunca tínhamos entrado na casa, mas tínhamos a certeza de que, se
fizéssemos isso, nós a encontraríamos preparando venenos num grande caldeirão.
Nossa
diversão predileta era incomodá-la. Volta e meia invadíamos o pequeno pátio
para dali roubar frutas e quando, por acaso, a velha saía à rua para fazer
compras no pequeno armazém ali perto, corríamos atrás dela gritando
"bruxa, bruxa!".
Um
dia encontramos, no meio da rua, um bode morto. A quem pertencera esse animal
nós não sabíamos, mas logo descobrimos o que fazer com ele: jogá-lo na casa da
bruxa. O que seria fácil. Ao contrário do que sempre acontecia, naquela manhã,
e talvez por esquecimento, ela deixara aberta a janela da frente. Sob comando
do João Pedro, que era o nosso líder, levantamos o bicho, que era grande e
pesava bastante, e com muito esforço nós o levamos até a janela. Tentamos
empurrá-lo para dentro, mas aí os chifres ficaram presos na cortina.
-
Vamos logo - gritava o João Pedro -, antes que a bruxa apareça. E ela apareceu.
No momento exato em que, finalmente, conseguíamos introduzir o bode pela
janela, a porta se abriu e ali estava ela, a bruxa, empunhando um cabo de
vassoura. Rindo, saímos correndo. Eu, gordinho, era o último.
E
então aconteceu. De repente, enfiei o pé num buraco e caí. De imediato senti
uma dor terrível na perna e não tive dúvida: estava quebrada. Gemendo, tentei
me levantar, mas não consegui. E a bruxa, caminhando com dificuldade, mas com o
cabo de vassoura na mão, aproximava-se. Àquela altura a turma estava longe,
ninguém poderia me ajudar. E a mulher sem dúvida descarregaria em mim sua
fúria.
Em
um momento, ela estava junto a mim, transtornada de raiva. Mas aí viu a minha
perna, e instantaneamente mudou. Agachou-se junto a mim e começou a examiná-la
com uma habilidade surpreendente.
-
Está quebrada - disse por fim. - Mas podemos dar um jeito. Não se preocupe, sei
fazer isso. Fui enfermeira muitos anos, trabalhei em hospital. Confie em mim.
Dividiu
o cabo de vassoura em três pedaços e com eles, e com seu cinto de pano,
improvisou uma tala, imobilizando-me a perna. A dor diminuiu muito e, amparado
nela, fui até minha casa. "Chame uma ambulância", disse a mulher à
minha mãe. Sorriu.
Tudo
ficou bem. Levaram-me para o hospital, o médico engessou minha perna e em
poucas semanas eu estava recuperado. Desde então, deixei de acreditar em
bruxas. E tornei-me grande amigo de uma senhora que morava em minha rua, uma
senhora muito boa que se chamava Ana Custódio.
Uma linda história! Bom seria que todas as crianças lessem este conto.
ResponderExcluirBelo conto.
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