quinta-feira, 8 de junho de 2017

SESSÃO LEITURA - NÓS OS CAPIXABAS - JOSÉ CARLOS OLIVEIRA

O texto abaixo é de autoria de José Carlos de Oliveira.
Para maiores informações sobre o autor, favor acessar: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Carlos_Oliveira.
Boa leitura!

NÓS OS CAPIXABAS

O capixaba é, antes de tudo, um fraco. No bom sentido: sentimental, modesto, deslumbrado por tudo o que vem de fora.
O cantor Roberto Carlos é um típico rapaz do Espírito Santo. Tímido, romântico, eternamente criança, desperta nas crianças um sentimento maternal.
As irmãs Nara e Danusa Leão representam com fidelidade a mulher capixaba. Nara é modesta, tímida e sossegada como Roberto Carlos; tem o ar de primeira aluna da classe, aquela bonitinha pela qual todos os meninos se apaixonam perdidamente. Já Danusa é a capixaba cosmopolita, sofisticada, para a qual o mundo inteiro é uma província do Espírito Santo.
A modéstia dos capixabas se encontra até no hino oficial do Estado. O autor da letra, em dado instante, lança uma longa mirada sobre a história espírito-santense, à procura de heróis, sábios e mártires. Não encontrando nenhum, confessa singelamente no seu hino:
Se as glórias do presente forem poucas,
Apelai para nós, posteridade!
Até agora a posteridade não deu resposta.
Todo capixaba é generoso, guloso e hospitaleiro. Reparte o que tem com seus vizinhos. Abusa da moqueca de papa-terra. E, com uma velocidade espantosa, se torna íntimo dos forasteiros.
No Espírito Santo, os homens têm um grave defeito: gostam de falar mal da vida alheia. Para isso se reúnem, ao entardecer, na Praça Oito, em Vitória. Mas só falam da boca para fora. No fundo do coração, gostam de todo mundo.
Já as mulheres são meigas, dóceis, extremamente femininas — qualidades muito mais raras do que se pode imaginar. Com sangue índio, italiano, negro e árabe, a mulher capixaba é geralmente morena de olhos castanhos; pálida é a sua cútis, fina a sua cintura e bem desenhadas as suas pernas.
A grande meta da mulher capixaba é se casar com um rapaz honesto e trabalhador.
A grande meta do homem capixaba é tentar a vida no Rio de Janeiro.
Os capixabas levam tudo na galhofa. Para eles, a vida é um espetáculo engraçadíssimo. O bairrismo capixaba se assemelha à saudade de um Espírito Santo imaginário. No fundo nós temos inveja de Minas Gerais e ciúme dos cariocas. Só nos sentimos irmãos dos fluminenses, nosso vizinhos que são pobres, pequeninos e anônimos como nós mesmos.
O modo de falar dos capixabas é civilizado, límpido, nada regional. Somos um povo que dá a cada coisa o seu verdadeiro nome. Ao Penedo que se ergue ao pé de Vitória nós demos o nome de Penedo. Outros povos dizem de suas serras que são a serra do Mar, a serra da Mantiqueira e assim por diante. Pois bem, nossa serra é Serra mesmo. Em outras terras há praias de Copacabana, de Ipanema e assim por diante. As nossas, porém, recebem o nome que merecem: praia da Costa, praia do Canto, praia Comprida. E até o rio Doce é rio Doce por suas águas não serem salgadas.
A mulher capixaba merece um capítulo especial. Podemos vê-la cafusa, taciturna e com cabelos muito lisos e negros, em São Mateus, Linhares e Colatina. Em Santa Teresa nós a surpreendemos loura de olhos azuis. Em Cachoeiro a capixaba é clarinha, suspirosa, humilde. E em Vitória ei-la que surge com suas pernas solidamente plantadas — essas pernas que com incomparável elegância descem a correr, ou sobem vagarosamente as escadarias.

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