O
texto abaixo é de autoria de José Carlos de Oliveira.
Para
maiores informações sobre o autor, favor acessar: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Carlos_Oliveira.
Boa
leitura!
NÓS
OS CAPIXABAS
O
capixaba é, antes de tudo, um fraco. No bom sentido: sentimental, modesto,
deslumbrado por tudo o que vem de fora.
O
cantor Roberto Carlos é um típico rapaz do Espírito Santo. Tímido, romântico,
eternamente criança, desperta nas crianças um sentimento maternal.
As
irmãs Nara e Danusa Leão representam com fidelidade a mulher capixaba. Nara é
modesta, tímida e sossegada como Roberto Carlos; tem o ar de primeira aluna da
classe, aquela bonitinha pela qual todos os meninos se apaixonam perdidamente.
Já Danusa é a capixaba cosmopolita, sofisticada, para a qual o mundo inteiro é
uma província do Espírito Santo.
A
modéstia dos capixabas se encontra até no hino oficial do Estado. O autor da
letra, em dado instante, lança uma longa mirada sobre a história
espírito-santense, à procura de heróis, sábios e mártires. Não encontrando
nenhum, confessa singelamente no seu hino:
Se
as glórias do presente forem poucas,
Apelai
para nós, posteridade!
Até
agora a posteridade não deu resposta.
Todo
capixaba é generoso, guloso e hospitaleiro. Reparte o que tem com seus
vizinhos. Abusa da moqueca de papa-terra. E, com uma velocidade espantosa, se
torna íntimo dos forasteiros.
No
Espírito Santo, os homens têm um grave defeito: gostam de falar mal da vida
alheia. Para isso se reúnem, ao entardecer, na Praça Oito, em Vitória. Mas só
falam da boca para fora. No fundo do coração, gostam de todo mundo.
Já
as mulheres são meigas, dóceis, extremamente femininas — qualidades muito mais
raras do que se pode imaginar. Com sangue índio, italiano, negro e árabe, a
mulher capixaba é geralmente morena de olhos castanhos; pálida é a sua cútis,
fina a sua cintura e bem desenhadas as suas pernas.
A
grande meta da mulher capixaba é se casar com um rapaz honesto e trabalhador.
A
grande meta do homem capixaba é tentar a vida no Rio de Janeiro.
Os
capixabas levam tudo na galhofa. Para eles, a vida é um espetáculo
engraçadíssimo. O bairrismo capixaba se assemelha à saudade de um Espírito
Santo imaginário. No fundo nós temos inveja de Minas Gerais e ciúme dos
cariocas. Só nos sentimos irmãos dos fluminenses, nosso vizinhos que são
pobres, pequeninos e anônimos como nós mesmos.
O
modo de falar dos capixabas é civilizado, límpido, nada regional. Somos um povo
que dá a cada coisa o seu verdadeiro nome. Ao Penedo que se ergue ao pé de
Vitória nós demos o nome de Penedo. Outros povos dizem de suas serras que são a
serra do Mar, a serra da Mantiqueira e assim por diante. Pois bem, nossa serra
é Serra mesmo. Em outras terras há praias de Copacabana, de Ipanema e assim por
diante. As nossas, porém, recebem o nome que merecem: praia da Costa, praia do
Canto, praia Comprida. E até o rio Doce é rio Doce por suas águas não serem
salgadas.
A
mulher capixaba merece um capítulo especial. Podemos vê-la cafusa, taciturna e
com cabelos muito lisos e negros, em São Mateus, Linhares e Colatina. Em Santa
Teresa nós a surpreendemos loura de olhos azuis. Em Cachoeiro a capixaba é
clarinha, suspirosa, humilde. E em Vitória ei-la que surge com suas pernas
solidamente plantadas — essas pernas que com incomparável elegância descem a
correr, ou sobem vagarosamente as escadarias.
Bem explicado o que é um capixaba rsrs. Gostei da crônica.
ResponderExcluirMuito boa a crônica.
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