O
texto abaixo é de autoria de Ivan Lessa.
Para
maiores informações sobre o autor, favor acessar: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ivan_Lessa.
Boa
leitura!
A
CRÔNICA
Crônica,
do grego chrónos, tempo, cronicar, feito Tácito, relatar o tempo ou tempos.
Por
que nós, brasileiros, fizemos do gênero especialidade da casa — feito muqueca
de peixe ou tutu à mineira?
Eu,
pela parte que me cabe — e é pouquíssima a parte que me cabe —, eu tenho minhas
teoriazinhas.
Primeiro
lugar, porque nós trabalhamos bem com poucas armas, isto é, Euclides da Cunha à
parte, nosso fôlego literário é curto.
Não
há nenhum demérito nisso.
Se
a América Latina fornece caudalosos escritores, como Vargas Llosa, Roa Bastos e
Alejo Carpentier, nós, por outro lado, somos excelentes no pinga-pinga do
conto: o próprio Machado de Assis, Lima Barreto, Alcântara Machado, Dalton
Trevisan, Clarice Lispector, Rubem Fonseca.
Segundo
lugar, porque nós temos consciência da extraordinária violência com que o tempo
vai levando as coisas e as gentes, daí a necessidade de registrar, de alguma
forma, o que se passou e passa no âmbito pessoal e intransferível.
Terceiro
lugar, em consequência disso que acabei de falar: somos muito pessoais, vemos e
vivemos muito a nossa vida e a celebramos quase que no próprio instante em que
ela se passa.
A
crônica é a nossa autobustificação, por assim dizer.
Ou,
em termos da realidade atual: é a nossa autonomeação para assessor disso ou
secretário daquilo outro.
E
em quarto e último lugar: dinheiro.
Não
há motivo nenhum para se ficar encabulado.
Quem
não escreve por dinheiro não é digno da profissão.
Um
romance vende cinco mil exemplares e o autor, com alguma sorte, pega o
equivalente a uns tantos salários mínimos.
Se
dividirmos tempo gasto no trabalho e na vida de estante do livro, vai dar nisso
mesmo: salário mínimo.
O
cronista, por outro lado, mesmo mal pago — e quando é bom não é esse o caso —,
tem uns cobres garantidos no fim do mês, se o empregador for bom pagador.
Consequentemente:
aí está, viva e atuante, a crônica do cronista brasileiro.
Pouco
importa que o cronista ou a cronista limite-se a relatar seu encontro no bar ou
sua ida ao cabeleireiro.
Tanto
faz que seja elitista ou literariamente limitador.
E
daí que tenha menos profundidade que mergulhadores mais audazes como Milan
Kundera e Marion Zimmer Bradley?
A
crônica vai registrando, o cronista vai falando sozinho diante de todo mundo.
Achei meio confuso kk
ResponderExcluirUma ótima crônica! Gostei de ler.
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