O
texto abaixo é de autoria de Antônio Prata.
Para
maiores informações sobre o autor, favor acessar: https://pt.wikipedia.org/wiki/Antonio_Prata.
Boa
leitura!
O
AMOR QUE CHOVEU
Era
uma vez um menino que amava demais. Amava tanto, mas tanto, que o amor nem
cabia dentro dele. Saía pelos olhos, brilhando, pela boca, cantando, pelas
pernas, tremendo, pelas mãos, suando. (Só pelo umbigo é que não saía: o nó ali
é tão bem dado que nunca houve um só que tenha soltado).
O
menino sabia que o único jeito de resolver a questão era dando o amor à menina
que amava. Mas como saber o que ela achava dele? Na classe, tinha mais quinze
meninos. Na escola, trezentos. No mundo, vai saber, uns dois bilhões? Como é
que ia acontecer de a menina se apaixonar justo por ele, que tinha se
apaixonado por ela?
O
menino tentou trancar o amor numa mala, mas não tinha como: nem sentando em
cima o zíper fechava. Resolveu então congelar, mas era tão quente, o amor, que
fundiu o freezer, queimou a tomada, derrubou a energia do prédio, do quarteirão
e logo o menino saiu andando pela cidade escura -- só ele brilhando nas ruas,
deixando pegadas de Star Fix por onde pisava.
O
que é que eu faço? -- perguntou ao prefeito, ao amigo, ao doutor e a um
pessoalzinho que passava a vida sentado em frente ao posto de gasolina. Fala
pra ela! -- diziam todos, sem pensar duas vezes, mas ele não tinha coragem. E
se ela não o amasse? E se não aceitasse todo o amor que ele tinha pra dar? Ele
ia murchar que nem uva passa, explodir como bexiga e chorar até 31 de dezembro
de 2978.
Tomou
então a decisão: iria atirar seu amor ao mar. Um polvo que se agarrasse a ele
-- se tem oito braços para os abraços, por que não quatro corações, para as suas
paixões? Ele é que não dava conta, era só um menino, com apenas duas mãos e o
maior sentimento do mundo.
Foi
até a beira da praia e, sem pensar duas vezes, jogou. O que o menino não sabia
era que seu amor era maior do que o mar. E o amor do menino fez o oceano
evaporar. Ele chorou, chorou e chorou, pela morte do mar e de seu grande amor.
Até
que sentiu uma gota na ponta do nariz. Depois outra, na orelha e mais outra, no
dedão do pé. Era o mar, misturado ao amor do menino, que chovia do Saara à
Belém, de Meca à Jerusalém. Choveu tanto que acabou molhando a menina que o
menino amava. E assim que a água tocou sua língua, ela saiu correndo para a
praia, pois já fazia meses que sentia o mesmo gosto, o gosto de um amor tão
grande, mas tão grande, que já nem cabia dentro dela.
Que lindo esse texto! Amei ler.
ResponderExcluirMuito bonito!
ResponderExcluirQue lindo. Ah, se todos pudessem ter um amor assim!
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