A
crônica abaixo foi escrita por Antônio Maria.
Para
maiores informações sobre o autor, favor acessar: http://www.releituras.com/antoniomaria_bio.asp.
Boa
leitura!
O
MAR
Banho
de mar no Recife era “banho salgado”, e só se tomava com ordem médica, das
cinco às sete da manhã. Antes do sol.
As
roupas de banho das mulheres começavam numa touca, seguindo-se um casaco-sunga
escuro (com aplicações róseas ou azuis) até os joelhos e sapatos de borracha.
Não
devia confessar, mas sou do tempo do “banho salgado”. Acordávamos com a noite
fechada, entrávamos em nossas roupas de banho e partíamos. De carro, para a Boa
Viagem. Em jejum. Ai de quem tomasse café e caísse no mar. Contavam-se casos de
pessoas que envesgaram ou ficaram com a boca torta. Tinha que ser em jejum como
o da comunhão. Nem água.
A
família só descia do automóvel depois
que o chofer, pessoa de confiança, fizesse um reconhecimento da área e
garantisse que não havia ninguém (homem) ali por perto.
Na
praia, a pessoa mais velha mandava que
todos fizesse o “pelo sinal” e tirava uma ave-maria, a que todos respondiam,
encomendando a alma a Deus, no caso de afogamento ou congestão.
–
Botaram algodão nos ouvidos?
–
Botamos.
Davam-se
as mãos, moços e crianças, entravam no mar, até a cintura.
–
Um, dois três ... e já!
E
mergulhavam agoniados, de mãos dadas, olhos, ouvidos, boca e nariz tapados.
Essas
minhas lembranças vêm de 1928. Apenas 33 anos.
Mas o mar era uma novidade. Um desconhecido. Fazia-se cerimônia com
ele. Tinha-se medo dele. Mar de 1928 era ainda o mar de Castro Alves.
Soleníssimo: “Stamos em pleno mar!” Fazia medo. O mar de hoje é o de Caymmi.
Abrandou. Tornou-se íntimo. Ninguém respeita.
É
doce morrer no mar
Nas
ondas verdes do mar...
Daquele
mar do Recife, ficou uma lembrança: o cheiro dos sargaços. A quem os teve,
sargaços na infância, por mais que ande, por mais feliz que esteja, faltará
alguma coisa.
18/11/1961
Fonte:
https://panorama-direitoliteratura.blogspot.com/2015/07/cronica-antonio-maria-o-mar.html.
Banho de mar naquela época, de manhã cedo, em jejum, com sapatos de borracha, não devia ser um bom programa kkkk.
ResponderExcluirAmei a crônica!