O
conto abaixo é de autoria de Dalton Trevisan.
Para
maiores informações sobre o autor, favor acessar: https://www.ebiografia.com/dalton_trevisan/.
Boa
leitura!
CHOVE
CHUVA
A
fumaça da chuva sobe pela chaminé das casas e se espalha sobre a cidade. Um fio
de silêncio cai de cada gota. As gatas dengosas se viram de costas para dormir.
Chove chuvinha, um lado da palmeira nunca se molha.
A
casa das formigas não tem porta, e quando chove, não se afogam? Piam milhares
de pardais entre as folhas do chorão. Não existe melhor conchego que um
barzinho. Nada como a meia grossa de lã. Apaixonadas ou não, mocinhas espirram
na fila do ônibus.
Neste
instante há no mínimo três mil pessoas infelizes com o sapato furado. Basta que
não chova eu me chamo Felipe, o Belo. Como pisar na lama, garotas da várzea,
sem sujar as sapatilhas? Orelhas de piás são puxadas por brincarem na chuva. Os
mascates que vendem maçã na rua, em desespero comem as maçãs?
Não
estivesse chovendo eu teria sete filhos.
Guardas
de trânsito abrem os braços na esquina e apitam: por que choves, Senhor? Chove
que chuva, apaga o meu recado de amor no muro.
Mães
pensam nos filhos tão longe, uns dedos trêmulos na vidraça: dona mãe, me deixa
entrar. Em cada lata vazia repicam os sinos da chuva.
As
mãos no bolso não esquentam. Alguns viúvos choram na fila, esse ônibus nunca
vem. Ora, gotas de chuva, pensam os vizinhos. Todos querem esse guarda-chuva
esquecido num dia de sol, quando havia sol.
Os
rabanetes no canteiro pulam as cabecinhas de fora.
Os
armários das velhas casas estalam. Antigos baús são abertos, dia ruim para as
traças. Há medo de vampiro na cidade.
Asinhas
encharcadas, filhotes de pardais caem das árvores e se afogam nas poças.
As
vovozinhas choram de frio na beira do fogão de lenha. Cães arranham a porta,
licença para entrar. A sopa de caldo de feijão, epa! te queimou a língua.
Mesmo
com chuva, há pares de namorados à sombra das árvores. Nem a chuva tira uma
solteirona da janela.
Chapinhando
as poças investe uma trinca de gordalhufas – pra cá pra lá, bundalhões
hotentotes tremelicantes!
Senhor,
tão bom se não chovesse. Ah, não chovesse, eu usaria barbicha. Não tivesse
chovido eu casava com a Lia e não a Raquel.
Pra
onde fogem os sorveteiros quando chove? Se chove, mais difícil enfrentar o
vento sul sem perder o chapéu. Homens chegam em casa esfregam o pé no capacho e
sentam para comer, dizendo: chuva desgracida.
Uma
rosa no teu jardim abre as mil pálpebras do único olho.
O
vento despenteia a cabeleira da chuva sobre os telhados.
Mesmo
quando para a chuva, as árvores continuam chovendo.
A
chuva lava o rosto dos teus mortos queridos.
Que lindo conto, amei ler! Dia de chuva não é fácil kkkk.
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