O
texto abaixo é de autoria de Clarice Lispector.
Para
maiores informações sobre a autora, favor acessar: https://www.ebiografia.com/clarice_lispector/.
Boa
leitura!
O VESTIDO
BRANCO
O
vestido branco Acordei de madrugada desejando ter um vestido branco. E seria de
gaze. Era um desejo intenso e lúcido. Acho que era a minha inocência que nunca
parou. Alguns, bem sei, já até me disseram, me acham perigosa. Mas também sou
inocente. A vontade de me vestir de branco foi o que sempre me salvou. Sei, e
talvez só eu e alguns saibam, que se tenho perigo tenho também uma pureza. E
ela só é perigosa para quem tem perigo dentro de si. A pureza de quem falo é
límpida: até as coisas ruins a gente aceita. E têm um gosto de vestido branco
de gaze. Talvez eu nunca venha a tê-lo, mas é como se tivesse, de tal modo se
aprende a viver com o que tanto falta. Também quero um vestido preto porque me
deixa mais clara e faz a minha pureza sobressair. É mesmo pureza? O que é
primitivo é pureza. O que é espontâneo é pureza. O que é ruim é pureza? Não
sei, sei que às vezes a raiz do que é ruim é uma pureza que não pôde ser.
Acordei
de madrugada com tanta intensidade por um vestido branco de gaze, que abri meu
guarda-roupa. Tinha um branco, de pano grosso e decote arredondado. Grossura é
pureza? Uma coisa sei: amor, por mais violento, é.
E
eis que de repente agora mesmo vi que não sou pura.
Amo as escritas dessa escritora..
ResponderExcluirGostei da crônica, mas Clarice Lispector sempre foi meio difícil de entender kkkkkk.
ResponderExcluir