O
texto abaixo é de autoria de Dalton Trevisan.
Para
maiores informações sobre o autor, favor acessar: https://www.ebiografia.com/dalton_trevisan/.
Boa
leitura!
NAMORADA
Depois
que vê a garota ele corre se olhar no espelho: não pode negar, meio feio? quase
feio? Numa palavra, feio. Dia seguinte desiste do bigode ralo. Quem sabe
costeleta ou cavanhaque?
A
menina o enfeitiça. Possuído, sim. Febrícula, sonho delirante, falta de ar,
sede mas não de água.
Ela
surge enrolada no garfo do suculento espaguete à bolonhesa. De sainha xadrez na
primeira tarde, ó deliciosa bolacha Maria com geleia de uva. Formigas de fogo
mordem sob a camisa quando ela vem na rua, brincando com o arco-íris na ponta
dos dedos.
Consegue
afinal apertar-lhe a mãozinha na luva de crochê, ri (descuidoso de ser feio)
dentro de seus olhos glaucos. Discutem o narizinho, quem sabe arrebitado,
segundo ela. E para ele, nada mais bonito que tal narizinho.
Meio
do sono acorda, olho arregalado no escuro. A sua imagem o percorre, impetuoso
vento por uma casa de portas abertas. Ninguém por perto, fala sozinho. A mãe o
acha mais magro. Quem dera ser o terceiro motociclista do Globo da Morte.
Em
guarda no portão, as mãos suadas, fumando. Ela aparece: um caramanchão florido
de glicínia azul. Olhinho esquivo que fixa e foge. O sorriso (uma virgem
fatal?) na pequena boca fresca.
Um
dentinho ectópico no lado esquerdo, onde a palavra tiau esbarra quando sai. Ah,
se ela deixar, passa o resto da vida adorando esse dentinho.
Espera
outras vezes, fumando aflito, um cigarro aceso no outro. Ele mesmo um cigarro
em chamas. A mocinha não quer lhe dar a mão. Como pode, uma santinha disfarçada
na terra? Depois, deu.
Brava,
ainda mais linda. Toda rosa, o lenço no pescoço, gatinha na janela depois do
banho. A curva altaneira da testa, os cachos loiros arrepiados ao vento.
Ai,
não, uma pérola na orelha. A pérola da orelha. Uma divina orelhinha esquerda,
sabe o que é?
A
voz meio rouca: Adivinhe o que eu tenho na mão? “Bem, pode ser tanta coisa.”
Bala de mel, seu bobo. Pra você que não merece.
Já
esquecido de timidez e feiura: “Sabe o que eu mais quero? É embalar você no
colo.”
Pronto,
ofendida, lhe negaceou o rosto.
De
mal, até amanhã. Amanhã nosso herói vai cultivar uma barbicha.
Gostei muito desse conto..
ResponderExcluirCoitado do garoto, que paixão avassaladora kkkk.
ResponderExcluirAmei ler!