O
texto abaixo é de autoria de Ruy Castro e foi publicado na Folha de São Paulo
em 18/06/2007.
Para
maiores informações sobre o autor, favor acessar: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ruy_Castro.
Boa
leitura!
SELEÇÃO
SEM POVO
De
1958 a 1982, o Brasil teve um caso de amor com sua seleção de futebol. E ela
fazia por onde: venceu três Copas do Mundo, jogou partidas memoráveis no
Maracanã e no Morumbi e consagrou três gerações de jogadores. Havia mais
craques na praça do que vagas no time, e nada superava a honra de uma
convocação.
Fora
da seleção, esses jogadores entravam em campo todos os domingos por seus clubes
- nossos clubes. Podiam ser amados ou odiados no fragor doméstico, mas, no que
vestiam a camisa amarela, cessava o vodu. A seleção tinha até torcedores
próprios, e não apenas entre os que só se ligam em futebol na Copa por um vago
ardor patriótico.
Mas
isso acabou. A seleção é, há muito, um feudo de jogadores que atuam no
exterior, defendendo camisas com as quais nada temos a ver. Por vários motivos,
também não a assistimos em nossos estádios - há sete anos, por exemplo, ela não
joga no Rio. E, como aconteceu na última Copa, a seleção, convocada na Europa,
não veio ao Brasil nem para pedir a bênção do povo que representava. Deu no que
deu.
As
razões são muitas, mas o fato é que a seleção se divorciou do povo. Não é mais
o Brasil. Reduziu-se a uma legião estrangeira que, mecanicamente, canta o hino
antes do jogo. Ex-ídolos nacionais como Kaká, Ronaldinho Gaúcho e Robinho
preferem jogar por seus milionários clubes que pela seleção. E estão certos: só
quem vai à Europa sabe o que eles representam em paixão para os torcedores
desses times. São deuses em Milão, Barcelona, Madri.
Vem
aí uma opaca Copa América. Os craques a desprezam e a torcida brasileira, com
razão, também não está nem aí. Qualquer campeonato local envolvendo o
Arapiraca, o Botucatu ou o Cascavel será mais emocionante, se um desses for o
nosso clube de coração. A camisa precisa estar perto do peito.
Não sou muito fã de futebol, mas gostei muito desse texto, é ótimo!
ResponderExcluirEles vão onde pagam mais, nem querem saber do Brasil.
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