O texto
abaixo é de autoria de Mário Prata.
Para
maiores informações sobre o autor, favor acessar: https://www.ebiografia.com/mario_prata/.
Boa
leitura!
ESPIRRANDO
A CRÔNICA
Daquelas
danadas, sabe como é? Das que derrubam. Te deixam na cama. Pois é onde deveria
estar agora se tivesse uma outra profissão qualquer. Ligava para o serviço e,
se precisasse, até arrumava um atestado médico. Dependendo da situação,
faturava dois ou três dias.
Mas
estou aqui, com o nariz escorrendo, depois de algumas pílulas e uns chás que
uma boa samaritana me fez.
Estou
dizendo isto porque sei que tem muita gente com gripe nestes dias frios. E esta
gripe já deve ter nome. Sim, gripe que se preza logo tem um nome, já notou? Se
não, é resfriado mesmo.
Me
lembro quando era garoto, 13 anos, interno num colégio de padres, quando
apareceu a Gripe Asiática. Acho que foi a mais famosa do século passado. Era
tão danada que antes de chegar já era famosa. Claro, como o nome diz, começou
lá na Ásia. E veio vindo. Os jornais anunciavam que ela já estava na Europa.
Aqui,
no terceiro mundo, a gente se preparava para enfrentar a gripe que vinha de
longe, a gripe famosa no mundo todo. E quando ela chegou, derrubou todo mundo.
Foi um orgulho para todos nós. Estou revendo agora o dormitório do internato
cheio de garotos deitados. Febre alta, aulas suspensas, um horror. Ninguém morreu,
mas todo mundo deitou.
Me
recordo de uma outra gripe famosa, a Calabar. Chamava assim porque era
traiçoeira. Começo dos anos 70, auge da ditadura militar. Eu trabalhava na
Última Hora quando ela chegou em São Paulo, vindo do norte. Os militares
mandaram um telex para todas as redações do país proibindo terminantemente que
se escrevesse no jornal o nome da gripe que derrubava todos nós, inclusive –
acho – os milicos. Não podia escrever Calabar nos jornais, nem dizer nas
rádios, nem nada.
Explico:
Chico Buarque e Ruy Guerra haviam escrito uma peça chamada Calabar e a Censura
Federal a proibiu. Não podia nem ser lida. Aí os militares começaram a achar
que falar na gripe Calabar era provocação para todo mundo lembrar do Chico e do
Ruy. Talvez você não acredite nesta história, mas quem trabalhava nas redações
naquela época pode confirmar.
Já
teve várias gripes com nomes de mulheres famosas, que vinham acompanhadas da
devida explicação: é porque leva direto pra cama. Uma maldade. Peguei a Xuxa,
entre outras.
Dei
uma geral agora na Internet para ver se esta minha gripe já tem nome, pois, já
disse, gripe sem nome, pra mim, é resfriado. E, apesar de todo mundo estar com
ela, ainda não tem, não.
Pouco
sei sobre gripes, apesar de ser filho de médico. Sei que a palavra tem origem
francesa. Donde se conclui que foi lá que surgiu o vírus? Tem cara de francesa
mesmo esta doença. Passou por Portugal e chegou nos nossos índios matando boa
parte deles. Entradas e Bandeiras, se chamava a gripe naquela época.
Hoje
em dia até o Bin Laden já virou nome de gripe: quando você pensa que acabou,
ela volta mais surpreendente ainda.
Amei ler essa crônica! Lembrei das gripes com nomes kkkkk, o brasileiro é muito criativo.
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