quinta-feira, 16 de outubro de 2014

O HOMEM QUE DEVE MORRER - CAPÍTULO 71 - TONI FIGUEIRA


Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 71

Participam deste capítulo

Otto  -  Jardel Filho
Paulus  -  Emiliano Queiroz
Werner Von Muller  -  Jorge Cherques
Conceição  -  Zeni Pereira
Ester  -  Glória Menezes
Orjana  -  Neusa Amaral
Prof. Valdez  -  Ênio Santos
Das Dores  -  Ruth de Souza
Pé-na-Cova  -  Antonio Pitanga
Mestre Jonas  -  Gilberto Martinho



CENA 1  -  REGIÃO DAS MINAS DE VALONGO  -  EXTERIOR  -  DIA

ERA MADRUGADA E OS PRIMEIROS RAIOS DE SOL SURGIAM NO HORIZONTE, QUANDO OTTO DEIXOU O CASEBRE. ENCAMINHOU-SE A PÉ ATÉ A PARTE DAS MINAS SOB SEU COMANDO. OS TRABALHADORES COMEÇAVAM A CHEGAR PARA A LABUTA DIÁRIA.

A VOZ METÁLICA COM SOTAQUE GERMÂNICO FEZ COM QUE SE VOLTASSE. ERA WERNER VON MULLER.

VON MULLER  -  Filho! Que está fazendo porrr aqui? Tá todo mundo nervoso à tua procura!

OTTO  -  Estou quase estourando de ódio, papai!

VON MULLER  - Que posso fazerrr porr você?

OTTO  -  Pode me ajudar muito. Venha comigo. Chame os meus empregados. Fale da minha revolta.

PAULUS APARECEU, FUMANDO NERVOSAMENTE. TINHA OS OLHOS SEM VIDA DE QUEM HAVIA PASSADO A NOITE INSONE.

PAULUS  -  Otto! Até que enfim o encontramos! Estamos cansados de procurar...

OTTO  -  Reúnam os meus homens. Paulus, papai. Façam alguma coisa! Estão me entendendo? Façam alguma coisa para expulsar o Dr. Cyro daqui!

A PRAÇA SE ACHAVA REPLETA DE MINEIROS E A NEGRA CONCEIÇÃO CONVERSAVA COM UNS E OUTROS. PEDIA AJUDA. CONTAVA A SEU MODO OS ACONTECIMENTOS. OTTO E WERNER VON MULLER, À DISTANCIA, OBSERVAVAM O QUE SE PASSAVA.

PAULUS SUBIU NUM CAIXOTE DE MADEIRA E BATEU PALMAS, CHAMANDO A ATENÇÃO DOS OPERÁRIOS. TODOS SE AGRUPARAM EM TORNO DO ADVOGADO.

PAULUS  -  Estão me ouvindo? O crime do Dr. Cyro foi revoltante! Otto não sabia que ele tinha matado o filho de Conceição para lhe salvar a vida! Do contrário, Otto preferia ter morrido. Otto está revoltado e quer que vocês vinguem o Vicentão, homem dos mais corretos que já tivemos nas nossas minas. Filho exemplar. Cidadão honesto. Vicentão foi uma vítima! Otto não se sente bem, sabendo que uma vida foi sacrificada para salvá-lo. Ele não compactua nem jamais compactuou com crimes ou criminosos. É apenas um cavalheiro da justiça. Mas... Cyro Valdez é um monstro. Não pode mais continuar entre nós! A morte do pobre Vicentão tem de ser vingada! É por isso que nós, seus amigos, estamos apelando para a força de todos vocês juntos!

CORTA PARA:

CENA 2  -  PORTO AZUL  -  CASA DE D. BÁRBARA  -  SALA  -  INTERIOR  -  DIA

DAS DORES BATEU AGITADA NA PORTA DE DONA BÁRBARA. PÉ-NA-COVA A COMPANHAVA. AMBOS TINHAM AS FEIÇÕES ALTERADAS.

OS DOIS ENTRARAM NO CASARÃO. VIRAM CYRO E ESTER, JÁ DE PÉ, E O PROFESSOR VALDEZ QUE VINHA DE DENTRO, CURIOSO.

DAS DORES  -  (falou nervosamente) Dr. Cyro... o senhor nem imagina que é que tá acontecendo lá pela vila dos mineiros.

CYRO  -  Que foi?

DAS DORES  -  A gente tá assustada. Viemo depressa, pedindo até carona pela estrada, para vim lhe avisá.

ORJANA OLHOU PARA OS PAIS, APREENSIVA.

ESTER  -  O que está acontecendo? Fale logo!

PÉ-NA-COVA  -  A gente num sabe o que foi que deu na Conceição. Tá unida com Seu Otto Muller. Tão os dois lá, mais o Dr. Paulus e o outro estrangeiro, insuflando tudo quanto é mineiro... das mina dele e das mina da Panorama... onde trabalhava Vicentão.

ESTER  -  Insuflando... pra quê?

DAS DORES  -  Contra o Dr. Cyro! Pra expulsá Dr. Cyro daqui... ou matá ele, a gente num sabe direito.

ORJANA SENTIU AS PERNAS FRAQUEJAREM E A VISTA TORNAR-SE TURVA. BUSCOU UMA CADEIRA PARA SENTAR-SE. CYRO MASSAGEOU-LHE OS PULSOS.

ORJANA  -  Vamos embora daqui!

ESTER  -  Sua mãe tem razão, Cyro. Temos de fugir, antes que eles façam alguma coisa contra nós.

CYRO  -  Esperem... ninguém pode fazer nada contra vocês. Se o fizerem será contra mim apenas. Isto é comigo, eu gostaria que vocês se afastassem daqui... fossem para a casa de Ester em Florianópolis... e me deixassem sozinho aqui!

ESTER  -  Você sabe que ninguém vai fazer isso, Cyro!

PROF. VALDEZ  -  Eu e Bárbara ficamos. Orjana e Ester levam Ivanzinho para a cidade.

CYRO  -  Está certo. Ficamos combinados. Preparem-se para sair agora.

CORTA PARA:

CENA 3  -  PORTO AZUL  -  CASA DE D. BÁRBARA  -  EXTERIOR  -  DIA

MESTRE JONAS, ANDRÉ, PEDRÃO, MARTINS, ZACARIAS. TODO O ELENCO DE FIÉIS ADMIRADORES DE CYRO VALDEZ ALI ESTAVA, À PORTA DO CASARÃO DE BÁRBARA, À ESPERA DOS HOMENS DE OTTO MULLER.

DE REPENTE, OUVIRAM O RUGIDO DA MULTIDÃO E A UM SÓ TEMPO TODOS OS OLHOS SE DIRIGIRAM PARA A RUA QUE SE ENCONTRAVA COM A PRAÇA DA IGREJA. O VOZERIO AUMENTAVA. DEZENAS DE MINEIROS APROXIMAVAM-SE DA RESIDÊNCIA DO MÉDICO. O GRUPO SE AVIZINHOU MAIS E MAIS. ESTAVA A POUCOS METROS DA CASA.

A FIGURA RESPEITÁVEL, DE LONGOS CABELOS E BARBAS ENCANECIDAS, ERGUEU-SE DENTRE OS HOMENS DE CYRO VALDEZ. MESTRE JONAS FEZ UM SINAL COM A MÃO ABERTA.

MESTRE JONAS   -  Parem! Que qué dizê isso, gente?

CONCEIÇÃO  -  (pulou à frente) A gente veio procurá o Dr. Cyro Valdez!

MESTRE JONAS  -  Pra quê?

MINEIRO 1  -  (berrou, exaltado) Umas conta que a gente tem de ajustá com ele!

MINEIRO 2  -  (berrou, mais atrás) Queremos que ele deixe a terra! Que desapareça! Ele só traz o mal! É um assassino!

A MULTIDÃO, EM UNÍSSONO, COMEÇOU A GRITAR, EM CORO.

MULTIDÃO  -  Fora, Dr. Cyro! Fora, Dr. Cyro! Fora, Dr. Cyro!

FIM DO CAPÍTULO 71

... E NA PRÓXIMA SEXTA, CAPÍTULO INÉDITO!

2 comentários:

  1. A coisa ficou feia para o lado de Cyro! O que fará ele? Acho que vai ser difícil acalmar a multidão exaltada. Muito bom!

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