A
crônica abaixo é de autoria de Millôr Fernandes.
Para
maiores informações sobre o autor, favor acessar: http://educacao.uol.com.br/biografias/millor-fernandes.jhtm.
Boa
leitura!
Prudente Seguro do Resguardo
Taí
um homem: Prudente Seguro do Resguardo. Sua mãe ensinou-lhe, desde cedo, que
não devia ir à janela porque podia cair, que não devia abrir a janela pra não
tomar corrente de ar, que não devia responder mal às pessoas maiores – podiam
bater nele – ou mais ricas – podiam prejudicá-lo no continuar da vida. E
Prudente preservou a brancura da pele, jamais tomando sol.
Crescendo,
Prudente aprendeu a guiar devagar e não avançar sinais, a não levar cachorro
pra praia e, sobretudo, a apontar às autoridades os transgressores, jogadores
de frescobol, surfistas e que tais.
Casando-se,
Prudente casou com uma mulher feia, pra não ser passado pra trás. Só aplicava
suas economias em terras e apartamentos (“Terra é sempre terra”) e foi morar
num lugar isolado, nem muito alto nem muito baixo, pra que seus dois filhos não
pudessem cair de cima, mas também as enchentes não lhe entrassem em casa. Sua
casa tinha ferrolhos contra ladrões, aquecimento a lenha para evitar os perigos
do gás, e seus filhos só iam à escola com dois guarda-costas, assim que começou
a moda dos sequestros.
E
assim vivia Prudente, tranquilo e feliz, protegido pela sua imensa sabedoria,
quando, um dia, ao sair de casa, um bólido caiu do céu em cima dele e matou-o.
Esse bólido era nada mais nada menos do que Vulnerável Indefeso Porumfio, que,
numa de suas experiências com um novo motor atômico para bicicletas infantis,
tinha explodido sua garagem-laboratório, a 25 quilômetros de distância, e viera
cair exatamente em cima do sábio – Deus o tenha no seu bem protegido Paraíso –
Prudente. Vulnerável saiu completamente ileso do acidente, sem um arranhão, e
declarou à imprensa que não desistirá de suas experiências enquanto não
completar a sua bicicleta voadora.
Moral:
Não adianta você andar na mão se tem um maluco vindo a toda na contramão.
Fonte: http://phaleixo.blogspot.com.br/search?updated-max=2008-10-02T15:31:00-07:00&max-results=7&start=91&by-date=false.
Coitado do Prudente! Pior, é que é assim que as coisas acontecem. Uma ótima crônica!
ResponderExcluirMuito boa, mas ele morreu ou não? kkkkkkkk
ResponderExcluirMorreu sim, Mari. Foi para o Paraíso. A moral da história é que ser prudente demais não evita tragédias.
ExcluirMuito bom essa crônica kkk
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