O
texto abaixo é da autoria de Domingos Pellegrini.
Para
maiores informações sobre o autor, favor acessar: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa390086/domingos-pellegrini.
Boa
leitura!
E
AÍ, CARA?
O
telefone toca, e é a voz do velho amigo que não vê há tempo.
–
E aí, cara, sabe porque estou te ligando?
–
Fiquei te devendo alguma coisa?
–
Uma visita e uns dez abraços.
–
Como assim?!
–
É que você, na última vez que nos vimos, falou que ia me fazer uma visita e…
–
Pois é, cara, mas sabe como é a vida…
–
É por isso que estou te ligando. Pra gente se ver, em vez de ficar trocando
abraço por email. Vamos abraçar ao vivo, em vez de só em velório de amigos.
–
É verdade, vamos nos encontrar sem falta esta semana. Você ainda vai ao Bar do
Tomio?
–
Não, pra você não me encontrar no meu velório. O médico falou que, se eu
continuasse com fritura e cerveja, podia encomendar jazigo.
–
E eu só estou bebendo vinho tinto, uma taça no almoço, outra na janta.
–
Eu deixo de tomar a do almoço pra tomar duas no jantar.
–
Puxa, como não pensei nisso? A do almoço me dá um soninho bobo de tarde…
–
E tomando duas na janta, cara, dá pra engolir melhor o noticiário. Só falta
roubarem asilo, né?
–
Por falar nisso, e tuas ações da Petrobrás?
–
Não fala nisso, o médico falou que pode me dar úlcera. Mas lembro toda vez que
abasteço o carro. Se arrependimento matasse…
–
Nem mata nem faz bem. Toda vez que penso em quem votei me faz mal, e de que
adianta?
–
E o pior, cara, é que não adiantaria ter votado em outro. Desconfio que esse
sistema que está aí é como carro tão sucateado que não aceita mais reforma.
–
Vamos fazer o que? Vender o Brasil pro ferro-velho?
–
Ou refundir, né. Assembleia nacional reconstituinte!
–
Mas já tivemos quantas?
–
Só que agora, formada apenas por gente que nunca tenha participado desses
partidos que estão aí. Senão vai ser de novo confiar nas raposas pra reformar o
galinheiro.
–
Ih, o nenê acordou, é um netinho que está dormindo aqui. Então…
–
A gente se vê!
–
É, até!
A
mulher chega quando ele está trocando fralda do nenê.
–
Oi, meu bem, você estava falando com quem?
–
Com um amigo sonhador.
–
E ele sonha com que?
–
Com refundir o Brasil. Já é tão difícil limpar um nenê, imagina limpar o
Brasil!
–
Mas, meu bem, já pensou se a gente não limpasse o nenê?
kkkkkkk Muito boa essa crônica.
ResponderExcluirGostei dessa ideia de refundir o Brasil kkkk. Que crônica legal!
ResponderExcluir