O
texto abaixo é da autoria de Batista de Lima.
Para
maiores informações sobre o autor, favor acessar: http://contosbrasileiros.blogspot.com.br/search?updated-max=2008-02-22T11:03:00-08:00&max-results=3&start=3&by-date=false.
Boa
leitura!
O
HERÓI QUE NÃO RETORNA
Gerôncio
era o coveiro de Tabocal. Rezava todo dia para que alguém morresse. Mas, quando
muito, havia um sepultamento por ano. Era às vezes um velhinho que morria de
velho ou um anjinho que morria de fome. Preferível ser um velho, daqueles com
dente de ouro ou aliança de casamento esquecida pela família na inutilidade da
mão esquerda.
Para
evitar desenterrar defunto pobre, Gerôncio conhecia de cor e salteado os
portadores de dente de ouro da região. Aí era só ir, no dia do enterro, alta
noite, com a lanterna, o martelo e a pá, retirar a terra frouxa da cova e
desenterrar o morto. Depois, era só quebrar o dente com o martelo e levar o
ouro para casa. Ele não esquece a morte do Pai do coronel Nicodemos. Foram
cinco dentes de ouro dezoito. Finalmente comprou seu casebre onde mora até
hoje, lá na ponta da rua.
Mas
aí morreu a filha do fazendeiro Antônio Moreno. A menina tomava banho na beira
do rio às oito da manhã quando caiu durinha. Não tornou mais. Trouxeram o corpo
para casa e velaram até às cinco da tarde, quando se procedeu ao enterro com
todos os rituais cristãos. O repinique o dia inteiro, no sino da capela,
parecia anunciar enterro de anjo rico. As flores eram muitas. No campo santo
foi aberto o caixão para que o irmão mais velho, chegado de longe na última
hora, visse o corpo da irmã. Estava linda, com todos seus anéis nos dedos e
colares no pescoço.
Gerôncio
não esperou pela meia-noite, veio logo às sete e escavou a sepultura da menina.
Mal abriu a tampa do caixão, a finada mexeu-se e foi logo limpando a terra dos
olhos. O coveiro, assombrado, embrenhou-se na mata em disparada e nunca mais
foi visto por ali. Quanto à moça, que voltou para casa assombrando a
cidadezinha, foi dada como doente de catalepsia, escapada por milagre. Hoje
está lá contando a história para quem quiser ouvir e ainda guarda a fazenda
Gitirana para dar de presente ao salvador de sua vida. Só que o delegado tem
uma cela pronta pra quando Gerôncio voltar.
Muito engraçado esse conto, gostei muito!
ResponderExcluir