O
texto abaixo é da autoria de Fernando Sabino.
Para
maiores informações sobre o autor, favor acessar: http://www.releituras.com/fsabino_bio.asp.
Boa
leitura!
O
DIAMANTE
Em
1933 Jovelino, garimpeiro no interior da Bahia, concluiu que ali não havia mais
nada a garimpar. Os filhos viviam da mão pra boca, Jovelino já não via jeito de
conseguir com que prover o sustento da família. E resolveu se mandar para
Goiás, onde Anápolis, a nova terra da promissão, atraía a cobiça dos
garimpeiros de tudo quanto era parte, com seus diamantes reluzindo à flor da
terra. Jovelino reuniu a filharada, e com a mulher, o genro, dois cunhados,
meteu o pé na estrada.
Longa
era a estrada que levava ao Eldorado de Jovelino: quase um ano consumiu ele em
andança com a sua tribo, pernoitando em paióis de fazendas, em ranchos de beira
caminho, em chiqueiros e currais, onde quer que lhe dessem pasto e pousada.
Vai
daí Jovelino chegou aos arredores de Anápolis depois de muitas luas e ali se
estabeleceu, firme no cabo da enxada, cavando a terra e encontrando pedras que
não eram diamantes. Daqui para ali, dali para lá, ano vai, ano vem, Jovelino
existia de nômade com seu povinho cada vez mais minguando de fome. Comia como
podia — e não podia. Vivia ao deus- dará — e Deus não dava. Quem me conta é o
filho do fazendeiro de quem Jovelino se tornou empregado:
—
Ao fim de dez anos ele concluiu que não encontraria diamante nenhum, e resolveu
voltar com sua família para a Bahia onde a vida, segundo diziam, agora era
melhorzinha. Não dava diamante não, mas o governo prometia emprego seguro a
quem quisesse trabalhar.
Jovelino
reuniu a família e botou pé na estrada, de volta à terra de nascença, onde
haveria de morrer. Mais um ano palmilhado palmo a palmo em terra batida,
vivendo de favor, Jovelino e sua obrigação, de vez em quando perdendo um, que
isso de filho é criação que morre muito. Foi nos idos de 43:
—
Chegou lá e se instalou no mesmo lugar de onde havia saído. Governo deu emprego
não. Plantou sua rocinha e foi se aguentando. Até que um dia…
Até
que um dia de noite Jovelino teve um sonho. Sonhou que amanhava a terra e de
repente, numa enxadada certeira, a terra escorreu… A terra escorreu e aos seus
olhos brilhou, reluziu, faiscou, resplandeceu um diamante soberbo, deslumbrante
como uma imensa estrela no céu — como uma estrela no céu? Como o próprio olho
de Deus! Jovelino olhou ao redor de seu sonho e viu que estava em Anápolis, no
mesmo sítio em que tinha desenterrado a sua desilusão.
E
para lá partiu, dia seguinte mesmo, arrastando sua cambada. Levou nisso um
entreano, repetindo pernoites revividos, tome estrada! Deu por si em terra de
novo goiana. Quem me conta é o filho do fazendeiro:
—
Você precisava de ver o furor com que Jovelino procurou o diamante de seu
sonho. A terra de Goiás ficou para sempre revolvida, graças à enxada dele. De
vez em quando desmoronava, Jovelino ia ver, não era um diamante, era um calhau.
Até que um dia…
—
Encontrou? — perguntei, já aflito.
—
Encontrou nada! Empregou-se na fazenda de meu pai, o tempo passou, os filhos
crescidos lhe deram netos, a mulher já morta e enterrada, livre dos cunhados,
os genros bem arranjados na vida. Um deles é coletor em Goiânia.
O
próprio Jovelino, entrado em anos, era agora um velho sacudido e bem disposto,
que tinha mais o que fazer do que cuidar de garimpagens. Mas um dia não
resistiu: passou a mão na sua enxada, e sem avisar ninguém, o olhar reluzente
de esperança, partiu à procura do impossível, do irreal, do inexistente
diamante de seu sonho.
Fonte: http://contobrasileiro.com.br/?p=2787.
Achei que o final seria diferente rs mais foi boa a crônica.
ResponderExcluirQue lindo texto! Gostei muito de ler.
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