O cidadão Ferreira
Gullar acaba de deixar o nosso convívio.
Essa
ausência será triste como todas as outras que nos vitimam, as de amigos,
parentes, colegas de trabalho e até daqueles que embora não conheçamos, parecem
estar perto de nós, caso do nosso homenageado.
Resta-nos
o consolo da permanência de suas obras literárias em que aflora o homem
preocupado com o próximo e com o mundo que o cerca.
Cidadão
sóbrio que, em sua sabedoria, reconheceu o fracasso político do socialismo.
Obrigado,
Ferreira Gullar, por nos deixar páginas tão humanas em nossa literatura!
Descanse
em paz!
Com o objetivo de homenageá-lo, reproduzimos
abaixo um dos poemas famosos do autor: Não Há Vagas.
NÃO HÁ VAGAS
O preço do
feijão
não cabe no
poema. O preço
do arroz
não cabe no
poema.
Não cabem no
poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário
público
não cabe no
poema
com seu salário
de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no
poema
o operário
que esmerila seu
dia de aço
e carvão
nas oficinas
escuras
– porque o
poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem
estômago
a mulher de
nuvens
a fruta sem
preço
O poema,
senhores,
não fede
nem cheira.
Lindo esse poema! Já estamos sentindo saudade desse autor de coisas tão belas. Merecida homenagem!
ResponderExcluirLindo poema, pena que era comunista!
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