O
texto abaixo é da autoria de Rubem Braga.
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maiores informações sobre o autor, favor acessar: https://www.ebiografia.com ›
rubem_braga.
Boa
leitura!
O
CAJUEIRO
O
cajueiro já devia ser velho quando nasci. Ele vive nas mais antigas recordações
de minha infância: belo, imenso, no alto do morro atrás da casa. Agora vem uma
carta dizendo que ele caiu.
Eu
me lembro do outro cajueiro que era menor e morreu há muito tempo. Eu me lembro
dos pés de pinha, do cajá-manga, da grande touceira de espadas-de-são-jorge
(que nós chamávamos simplesmente “tala”) e da alta saboneteira que era nossa
alegria e a cobiça de toda a meninada do bairro porque fornecia centenas de bolas
pretas para o jogo de gude. Lembro-me da tamareira, e de tantos arbustos e
folhagens coloridas, lembro-me da parreira que cobria o caramanchão, e dos
canteiros de flores humildes, “beijos”, violetas. Tudo sumira; mas o grande pé
de fruta-pão ao lado da casa e o imenso cajueiro lá no alto eram como árvores
sagradas protegendo a família. Cada menino que ia crescendo ia aprendendo o
jeito de seu tronco, a cica de seu fruto, o lugar melhor para apoiar o pé e
subir pelo cajueiro acima, ver de lá o telhado das casas do outro lado e os
morros além, sentir o leve balanceio na brisa da tarde.
No
último verão ainda o vi; estava como sempre carregado de frutos amarelos,
trêmulo de sanhaços. Chovera: mas assim mesmo fiz questão de que Carybé subisse
o morro para vê-lo de perto, como quem apresenta a um amigo de outras terras um
parente muito querido.
A
carta de minha irmã mais moça diz que ele caiu numa tarde de ventania, num
fragor tremendo pela ribanceira; e caiu meio de lado, como se não quisesse
quebrar o telhado de nossa velha casa.
Diz
que passou o dia abatida, pensando em nossa mãe, em nosso pai, em nossos irmãos
que já morreram. Diz que seus filhos pequenos se assustaram; mas foram brincar
nos galhos tombados.
Foi
agora, em fins de setembro. Estava carregado de flores.
Setembro,
1954.
Linda crônica!
ResponderExcluirTriste fim do cajueiro! Gostei de ler.
ResponderExcluirTenho essa leitura gravada na memória desde 1988 , nunca esqueci da minha professora Hilda de português , leu na sala de aula...
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