O texto
abaixo é de autoria de Antônio Torres.
Para
maiores informações sobre o autor, favor acessar: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B4nio_Torres.
Boa
leitura!
PRECONCEITO
DE LINGUAGEM
Na
Romênia, segundo dizem os jornais franceses, que agora muito se interessam por
tudo quanto diz respeito aos moldo-valáquios, na Romênia há certas palavras que
em todas as outras línguas cultas têm significação nobre e que entre os romenos
têm significação pejorativa. Chamar, por exemplo, a algum romeno marquês, ou
condessa a alguma romena, é cometer injúria e grande. Entre eles, não se diz príncipe
em romaico, porque esta palavra tem a significação analógica de jogral; de
sorte que adotaram lá a palavra francesa prince, para designar qualquer membro
da família real. A palavra rei também é injuriosa. Tanto assim que, na tradução
do livro bíblico dos Reis, escrevem os romenos Livro dos Imperadores!
Em
português há também palavras de significação primitivamente honesta e que
entretanto agora não podem ser pronunciadas diante de pessoas de respeito. No
norte de Minas, por exemplo, como no Norte de todo o país, chamar dama a uma
senhora é arriscar a pele. Dama, lá por aquelas plagas, é “mulher perdida”.
A
palavra moça pode ser pronunciada diante de quem quer que seja. “Esta menina
está ficando moça” — “Sua filha é uma bela moça” — são expressões correntes.
Entretanto, querendo alguém referir-se à amásia de alguém diz: “A moça de
Fulano”!
Rapariga!
É uma das palavras mais lindas da nossa língua. Em Minas, entretanto, rapariga
aplica-se mais às mulheres do serviço doméstico, isto é, amas, cozinheiras,
arrumadeiras, etc. Aqui, já vai tendo significação pejorativa: casa de
raparigas é o mesmo que bordel. Ora, é um absurdo isso. Rapariga é simplesmente
feminino de rapaz. Seria encantador poder toda gente dizer, como ainda há dias
ouvi dizer a um espírito eminente, que me dá a honra da sua amizade: “V. não
imagina que rapariga valente é minha mulher”.
Mãe!
Não se discute a beleza desta suavíssima palavra. Pois também a palavra mãe vai
assumindo significação equívoca. Em certas locuções é um vocábulo pelo menos
suspeito. Os jornais já começam a substituí-lo por progenitora. É incrível! Que
qualquer palavra possa derrancar com o tempo compreende-se; mas a palavra mãe?
O noticiário elegante tem receio de dizer: “Faz anos hoje a Sra. Dona Fulana,
muito digna mãe do nosso amigo Sr. Beltrano”. Em vez de mãe, escrevem
progenitora, que é uma palavra erudita, seca, como todas as coisas eruditas,
fria e pernóstica. Mãe é alguma coisa tépida, doce, nobre como o colo materno.
Progenitora é simplesmente uma delicadeza de moleque bem-falante.
Mãe,
colegas, mãe! Devemos escrever “a mãe do Sr. Fulano”, da mesma forma que
escrevemos “O pai do Sr. Beltrano” e “o filho de Dona Sicrana”. Ninguém diz na
intimidade — “vou beijar minha progenitora”, mas simplesmente — “vou beijar
minha mãe”.
É
para desejar que os jornais abandonem de uma vez a palavra progenitora, que é,
etimologicamente, muito mais grosseira do que mãe. Progenitora compõe-se do
prefixo pro e da raiz genite, de gigno, gignis, genui, genitum, gignere, que
quer dizer gerar. De maneira que, posta em bom vernáculo, progenitora é a pró
ou antegeradora do Sr. Fulano. Não sei onde está a delicadeza desta expressão….
Por conseguinte, de uma vez para sempre, estabeleçamos que os homens têm
virtuosas e dignas mães, e não ridículas e pernósticas progenitoras.
Muito interessante essa crônica! Gosteii..
ResponderExcluirAmei essa crônica, muito interessante!
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