O
texto abaixo é de autoria de Antônio Maria.
Para
maiores informações sobre o autor, favor acessar: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa7522/antonio-maria.
Boa
leitura!
CAFÉ
COM LEITE
É
preciso amar, sabe? Ter-se uma mulher a quem se chegue, como o barco fatigado à
sua enseada de retorno. O corpo lasso e confortável, de noite, pede um cais. A
mulher a quem se chega, exausto e, com a força do cansaço, dá-se o
espiritualíssimo amor do corpo.
Como
deve ser triste a vida dos homens que têm mulheres de tarde, em apartamentos de
chaves emprestadas, nos lençóis dos outros!
Como é possível deixar que a pele da amada toque os lençóis dos outros!
Quem assim procede (o tom é bíblico e verdadeiro) divide a mulher com quem
empresta as chaves.
Para
os chamados “grandes homens”, a mulher é sempre uma aventura. De tarde, sempre.
Aquela mulher, que chega se desculpando; e se despe, desculpando-se; e se
crispa, ao ser tocada, e cerra os olhos, com toda força, com todo desgosto,
enquanto dura o compromisso. É melhor ser-se um “pequeno homem”.
Amor
não tem nada a ver com essas coisas. Amor não é de tarde, a não ser em alguns
dias santos. Só é legítimo quando, depois, se pega no sono. E há um complemento
venturoso, do qual alguns se descuidam. O café com leite, de manhã. O lento
café com leite dos amantes, com a satisfação do dever cumprido.
No
mais, tudo é menor. O socialismo, a astrofísica, a especulação imobiliária, a
ioga, todo ascetismo da ioga... tudo é menor. O homem só tem duas missões
importantes: amar e escrever à máquina. Escrever com dois dedos e amar com a
vida inteira.
Gostei de ler essa crônica. Legal!
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