O texto
abaixo é da autoria de Dalton Trevisan.
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maiores informações sobre o autor, favor acessar: https://www.ebiografia.com/dalton_trevisan/.
Boa
leitura!
ENCONTRO
Mata-sete
de estradas, andarilho por aí, um capim doce na boca. Aos berros, chutando
pedras. Descanso à sombra das árvores (mordido pelas formigas) e cuspo três
vezes nos marcos do caminho. Cruzo de tardinha a ponte sobre o pequeno rio.
Chorões nas margens, os guris pescam e fumam, de papo pro ar.
Avanço
na rua de eucaliptos e, à sombra, mesas com manchas de vinho nas toalhas
brancas. Uma casa antiga de pedras; no campo, homens em linha ceifam o trigo
com suas longas foices.
Bato
palmas, uma velha põe a cabeça na janela. Digo que venho de longe, do outro
lado do oceano. Tenho sede, minhas botas de sete-léguas por um copo d'água.
Com
um sorriso, ela me convida a sentar. Em vez de água, traz um jarro de fresco
vinho tinto. Vaidosa, um xale de renda sobre a cabeleira branca. Enquanto bebo,
deliciado, me conta da próxima colheita, que se anuncia próspera. E não sei o
que sobre a torre do relógio na praça da igreja.
Esbaforidas
chegam duas meninas gêmeas, as netas da velha e qual é uma? qual é outra? Agora
já sei: uma, Bianca e a outra, Bruna.
Em
surdina surge da cozinha uma garota de vestidinho branco (é sua filha mais
nova, diz a velha, quando ela foi buscar mais néctar), esbelta e pálida,
grandes olhos claros.
Bebo
aos poucos o generoso vinho e, enquanto as sombras se insinuam nos cantos, mais
brilham os olhos da moça quieta na porta, o pé esquerdo fora do chinelo. Ergo o
meu copo e saúdo, ó fruteira de pêssego e romã no fino cristal de Murano!
Ela
acena de leve a cabeça. Nem uma só palavra - e tudo foi dito. Entendi que viera
de tão longe só para vê-la. E nunca mais esquecer.
O
último gole, dobram os sinos no campanário sobre a estrada de sombra. Prometo
voltar um dia para a festa da neve sobre o jardim de cerejeiras - e perna pra
que te quero.
Na
curva do rio olho para trás. A garota ainda na porta. Os olhos agora
invisíveis, que adivinho quentes, como a estrada por onde marcho de coração
alegre.
Lindo conto, gostei de ler.
ResponderExcluirGostei do conto..
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