segunda-feira, 16 de setembro de 2013

WEBNOVELA - LAÇOS - CAPÍTULO 19 - SEGUNDA PARTE - AUTORA: JULIANA SOUSA

Capitulo 19 -  Revelação

Otávio saía do escritório, quando encontrou Gabriele.
— Já vai sair, Dr. Otávio? – perguntou ela. – Não vai ficar para o almoço?
— Não. Tenho alguns negócios importantes para resolver. A propósito, Gabriele, você viu se chegaram alguns exames médicos ontem?
Gabriele ficou pensativa.
— Acho que estava em uma das mesinhas da sala próxima à porta de entrada. Coloquei lá enquanto fui falar com a Ane, mas quando voltei não estava. Pensei que o senhor tivesse tirado de lá.
— Não. Não peguei. – disse Otávio pensativo.
— Eu vou procurá-lo, então.
— Não precisa. De qualquer forma, estou indo pessoalmente falar com o Dr. Rodrigues.
Otávio passou pela sala principal onde encontrou Mariana, que veio ao seu encontro.
— Seu Otávio? Eu ia falar com o senhor. Mas parece que o senhor está de saída...
Otávio sorriu.
— Acho que posso conversar com você.
Sentou-se em uma das poltronas da sala.
— Minha irmã me falou sobre a prova que o senhor gostaria de marcar. – disse Mariana, sentando-se próxima a ele.
— E o que você achou da ideia?
Mariana sorriu.
— Ótima! – e um pouco mais séria. – Mas essa faculdade não é muito cara? Quer dizer, não que eu esteja sendo mal agradecida, mas eu não gostaria de causar mais problemas.
— E quem disse que está sendo um problema? Não se preocupe com isso, quando eu chamei vocês para morarem aqui, já estava nos meus planos mandá-las para a faculdade. Então, assim que tivermos tempo, conversarei melhor com você para marcarmos uma data mais adequada.
— Obrigada, seu Otávio. – disse Mariana sorrindo.
***
Emanuela fora falar com Rogério que parecia já estar adaptado com o novo trabalho.
— E aí, Emanuela, o que está achando de morar aqui? – disse, enquanto podava uma pequena árvore.
— Bem, até agora não tem sido muito ruim... Mas acho que tudo aqui é um pouco exagerado. Não sei se vou me acostumar.
— É claro que vai. Afinal, você só está tendo aquilo que lhe é de direito.
Emanuela ficou intrigada com o que o Rogério lhe disse.
— O que me é direito? Como assim?
Rogério engoliu em seco.
— Não é nada. Quer dizer, vocês agora não são netas do Dr. Otávio? É isso que eu quis dizer.
Mais uma vez, Emanuela tivera a impressão de que Rogério já sabia mais do que aparentava.
— Rogério, você conheceu o meu verdadeiro pai?
Rogério virou-se de repente.
— Por que pergunta isso? – perguntou ele, tentando ser natural.
— Estava curiosa. Você deve tê-lo conhecido. Afinal, você conheceu minha mãe antes de ela engravidar, não foi?
— Sim, claro.
— E como ele era? – perguntou Emanuela, observando a reação de Rogério.
— Não sei, quer dizer, não lembro muito bem, eu sempre estava muito ocupado.
— E se você visse uma fotografia?
Rogério olhou para Emanuela e sorriu.
— Por que você está fazendo tantas perguntas?
— Nada. Só curiosidade mesmo. – disse, enquanto observava Rogério fazer seu trabalho.
***
Quando Emanuela voltava do jardim, Érica já saía. Ao encontrá-la, Érica sorriu.
— Obrigada por ontem. – disse ela, parando. - Você foi muito gentil.
Emanuela pensou em avisar-lhe do seu engano, mas desistiu.
— Não foi nada. – respondeu sorrindo.
Emanuela entrou na mansão e foi para a biblioteca. Viu que a irmã estava estudando em uma das mesas que havia por lá. Sentou-se ao lado da irmã.
— Você falou com o Dr. Otávio?
Mariana tirou os olhos do livro e olhou para a irmã.
— Sim. Assim que ele ficar mais livre, nós vamos conversar mais sobre isso. Pelo menos foi o que ele me disse.
As duas ficaram em silêncio por alguns minutos.
— Encontrei com aquela mulher. – disse Emanuela – A Érica.
— E? – Mariana perguntou, sem tirar os olhos do livro.
— Ela me agradeceu por algo que eu não fiz ontem à noite...
— Ah... – Mariana pareceu lembrar-se. – É que eu a encontrei ontem na cozinha, parecia que estava bebendo uísque ou coisa parecida... Estava um pouco bêbada, então eu a ajudei a ir para o quarto.
— Entendo.
— Engraçado como as pessoas quando estão bêbadas falam demais. Ela dizia que eu era gentil, diferente da minha irmã.
Emanuela ficou confusa.
— Mas eu nem a conheço... Como ela pode tirar essas conclusões de mim?
Mariana riu.
— Foi o que eu pensei também, mas depois eu percebi que ela falava da Viviane. E era disso que eu queria falar com você... Você não tem a impressão de que todas as pessoas dessa família já sabem que somos netas do Dr. Otávio, menos a gente?
— É... Eu entendo o que está falando.
— Pois é... Isso me leva a pensar se o nosso avô não está fazendo apenas um teste.
— Um teste?
— Sim, como um test drive. Como se ele estivesse vendo como somos, se ele gostar, ele nos diz que somos netas dele, se ele não gostar, não diz e nos descarta.
Emanuela sorriu.
— Mari, você imagina demais... Mas devo confessar que me sinto um pouco desconfortável com isso. Tanto pelo fato de ele esconder, quando pelo fato de nós escondermos isso. Sinto como se estivesse enganando todo mundo.
— Eu também... Em geral, na ficção, as pessoas guardam o segredo até o fim e no final, o segredo é revelado e as pessoas envolvidas tem uma grande reação. Mas no nosso caso é o contrário. Você já imaginou quando ele nos contar? Como devemos reagir? Como se estivéssemos surpresas ou como se já soubéssemos de tudo? Será que eles vão pensar que o enganamos de propósito?
Emanuela suspirou.
— Eu não sei, Mari... Eu realmente não sei. – disse Emanuela pensativa.
— E também há outra coisa em que tenho pensado...
— Em quê? – perguntou Emanuela um pouco curiosa.
— Se somos realmente netas do Dr. Otávio... Por que ele nos procurou apenas agora?
— Ele pode ter tido conhecimento disso há pouco tempo.
— É... Pode ser... Mas algo me diz...
— Que isso por ter algo a ver com a morte da Rebeca. – completou Emanuela.
Mariana riu.
— Como sempre você consegue ler meus pensamentos.
— Não é que eu li... Eu também pensei nisso. Se somos netas de um homem muito rico, isso quer dizer que também somos herdeiras... Então, é óbvio que alguém pode ter matado Rebeca por causa disso.
— Mas por que matariam Rebeca? Se nós somos as herdeiras, não é mais óbvio tentar nos matar?
Emanuela pensou por alguns segundos.
— Tem razão... Mas eu lembro que no dia em que Rebeca morreu, eu tinha saído... E você...
Mariana suspirou.
— Eu não me lembro. Se pelo menos eu pudesse me lembrar de alguma coisa daquele dia.
— Não importa. – disse Emanuela pensativa. – O fato é que se o que estamos pensando está certo, então, alguém dessa família realmente não gosta da nossa presença.
— Você quer dizer não gosta da nossa existência, não é?
Mariana olhou preocupada para Emanuela, que, naquele momento, pensava nas reações estranhas de Rogério.
***
Érica naquela hora já estava na estava no escritório de Marcos. Observava-o falando ao telefone.
— O meu advogado já entrou em contato com o advogado da empresa. – disse ele, colocando o telefone no gancho. – É quase certo que não encontrarão provas concretas contra mim.
— E o que vai fazer agora? – perguntou ela.
— Vou esperar. É verdade que alguns vão ficar contra mim, mas sem provas suficientes eles não podem me tirar do cargo de vice-presidente do grupo.
Ele sentou-se na poltrona.
— Acho que está quase na hora de voltar, não é mesmo, querida Érica?
Érica mordeu os lábios. Odiava o maldito hábito de ele a chamar de querida.
***
Fabrício se deteve olhando para o apartamento. Pensava na irmã, e no pai. Neste último, imaginava como havia sido a sua reação quando a irmã lhe falara que ele havia se mudado. De repente, a campainha tocou. Fabrício foi atender.
— Olá! – disse a irmã, entrando com algumas sacolas nas mãos. – Trouxe algumas coisas para você. – avisou, enquanto entrava procurando a cozinha e, logo depois, colocando em cima da mesa algumas mercadorias que tinha comprado.
— Não precisava ter comprado. – disse ele.
Verônica olhou para ele e pegou em seu queixo.
— É claro que precisava. – disse enquanto olhava o rosto do irmão. – É impressão minha ou você já emagreceu?
Olhou em volta e viu a geladeira. Abriu-a.
— Enlatados. Enlatados. – disse, enquanto revirava a geladeira. Tirou um pacote de pipocas de microondas. – Vem cá, o que isso está fazendo aqui?
Fabrício riu.
— O quê? Virou agente sanitária?
Viviane fez um muxoxo.
— Você sempre reclamando... – e um pouco mais séria. – O que está achando de morar sozinho?
— Eu não sei exatamente... Eu me mudei para cá ontem e não sei como é a sensação de morar sozinho porque você já está aqui. – disse, olhando com desaprovação para a irmã - Mas posso dizer que a vizinhança é calma e eu posso estudar com tranquilidade...
— Sei. – disse ela com uma expressão de incredulidade no rosto.
— E... – disse ele um pouco hesitante. – E o que o nosso pai disse quando você falou que eu saí de casa?
— Eu não disse. – falou ela naturalmente.
Fabrício não acreditava.
— Você não disse? E ele não percebeu minha falta?
Verônica riu.
— Estava brincando, bobo. É claro que eu disse.
— E ele? – perguntou, querendo parecer menos, interessado que estava.
Verônica suspirou.
— Você quer realmente saber?
Fabrício concordou.
— Ele disse que a sua vida já não interessava a ele. Que você poderia fazer o que quisesse que ele não iria mais se importar.
Fabrício ficou sério.
— Não sei por que eu ainda esperava que fosse diferente.
Verônica olhou para o irmão com tristeza.
— Você deveria fazer as pazes com ele... Afinal, ele é o seu pai. – e tirando um envelope da bolsa. – Eu já vou indo. Fique com isso.
— Eu não posso aceitar. Você está se arriscando demais. O nosso pai pode descobrir.
— Não se preocupe. Isso são algumas economias pessoais.
Fabrício riu.
— O quê? Andou guardando debaixo do colchão?
— Quase isso... – respondeu ela sorrindo, enquanto se dirigia para a porta. – Se cuida.
***
 Rebeca estava sentada na cama do hospital com uma roupa que havia sido dada por algumas enfermeiras. De repente, duas enfermeiras entraram em seu quarto. Era Lúcia, a enfermeira que cuidara de Rebeca todo o tempo em que estivera ali e outra colega.
— Oi, essa é Norma. – disse apresentando a outra. – Ela que vai lhe emprestar o apartamento.
— É um apartamento pequeno, mas acho que você vai gostar muito. – disse Norma.
— Obrigada. Você é muito generosa.
— Não precisa me agradecer, já que foi um pedido pessoal do Dr. Fabiano. De qualquer forma, pode ficar o tempo necessário até você se recuperar totalmente. – disse sorrindo.
— Eu prometo que vou lhe recompensar de alguma forma. – disse.
Norma e Lúcia sorriram.
— Parece que você recebeu alguns presentes. – disse Lúcia, enquanto olhava uma pequena mala.
— As pessoas aqui são muito generosas. Algumas enfermeiras me deram roupas e calçados. Fiquei até sem graça em aceitar tantos presentes.
De repente, o Dr. Rafael entrou. Logo depois, entrou também Fabiano.
— Tem alguém que gostaria de falar com você antes de ir. – disse Rafael, enquanto se retirava junto com as enfermeiras.
— Então, você está de alta. – disse um pouco sem jeito, logo depois que os três saíram. – Espero que recupere logo a sua memória.
— Eu também.
— Obrigada por aquele dia... Eu estava precisando conversar.
— Sem problema. – disse ela sorrindo. – Mas acho que não devemos prolongar muito a nossa conversa, as pessoas podem pensar coisas que não devem e eu não quero prejudicá-lo.
Fabiano pareceu ficar sem jeito.
— Tem razão. Então, eu vou indo. – disse, enquanto saía.
Rebeca permaneceu do jeito que estava. Não havia tristeza ou alegria em sua expressão. Talvez medo. Não se lembrava do seu passado, nem sabia o que aconteceria no seu futuro. A única coisa que tinha certeza é que estava viva.
“Talvez isso seja o suficiente.” – pensou.
***
Já era o final da tarde, quando Otávio Jr. chegou à mansão. Subiu para o seu quarto, estava extremamente cansado.  A esposa que havia chegado há pouco tempo, pois fora visitar a sua mãe, o seguiu. Logo ao entrarem no quarto, Camila percebeu que o marido estava com um péssimo humor.
— O que aconteceu?
— Aconteceu que eu não pensei que o tio Marcos fosse tão esperto. Acho que o subestimei. – disse ele, sentando-se em uma poltrona, enquanto afrouxava a gravata.
— Como assim? – perguntou ela.
— Hoje, o advogado pessoal dele entrou em contato conosco. E, infelizmente, o maldito tem razão. Apesar de todos os esforços em uma nova auditoria, não temos provas suficientes nem para afastá-lo do cargo que ele ocupa.
— O que você vai fazer?
Otávio Jr. pareceu pensar por um momento.
— Temos que colocar o outro plano em ação. – e um pouco mais baixo - Sequestrar uma das netas do meu pai e colocar a culpa no tio Marcos.
— Mas, já? – perguntou ela confusa.
— Claro que não. – disse ele, levantando-se. – Antes, é necessário que seja revelado publicamente que elas são de fato netas dele, filhas do Jorge. Depois, é preciso um motivo. Sem um motivo, a polícia não vai acreditar que o tio Marcos é culpado do sequestro que vamos armar. E, por último, uma conexão entre o sequestrador e o tio Marcos.
— O motivo poderia ser a mudança do testamento.
O rosto de Otávio Jr. se iluminou.
— Tem razão, o velho, com certeza, vai ou já fez alguma mudança no testamento. – e sentando-se novamente. – Seria bom se o meu pai revelasse logo que Jorge é o pai das duas... Mas como?
Camila ficou pensativa.
— Não se preocupe, eu me encarrego disso.
***
Viviane chegou à mansão e logo subiu para o quarto. Gabriele ainda tentou falar com ela, mas parecia que ela não tinha ouvido. As gêmeas estavam na sala, quando viram Viviane ignorar a mãe. Mariana se aproximou de Gabriele.
— Ela deve estar cansada. – disse ela.
Gabriele sorriu.
— Tem razão. – disse ela, saindo em direção à sala de jantar.
O Dr. Otávio chegou momentos depois. Parecia muito pensativo. Passou pelas duas como se não as tivesse visto.
— O que deve ter acontecido hoje? – perguntou Emanuela, olhando para Mariana.
— Eu não sei. Mas como diria uma amiga minha: “Talvez os planetas não estejam nos seus devidos lugares”.
No quarto, Viviane pegou a bolsa e tirou alguns papéis. Neles estavam escritos os resultados dos exames clínicos do seu avô.
— No final, não consegui falar com ninguém sobre isso... – disse um pouco deprimida. – Será que eu posso estar errada?
***
No dia seguinte, um sábado, o Dr. Tarcísio foi chamado logo pela manhã, pelo Dr. Otávio.  Os dois pareciam ter algo muito importante para conversar. As três meninas e Gabriele tomavam o café da manhã.
— Rute. – disse a senhorita Sônia, falando com uma das empregadas que estava na sala onde as quatro tomavam o café da manhã. – Por favor, leve um pouco de café para o Dr. Otávio e o Dr. Tarcísio.
— Sônia, deixa que eu levo. – disse Viviane, tirando a bandeja da mãe da governanta.
O Dr. Otávio e o Dr. Tarcísio conversavam a portas trancadas no escritório.
— O que o senhor queria falar comigo de tão urgente, Dr. Otávio?
— Quero mudar meu testamento o mais rápido possível.
— Mas por que tanta pressa? – perguntou Tarcísio curioso.
Otávio olhou com seriedade para o advogado.
— A minha saúde não vai muito bem... Ontem, conversei com o médico. Ele disse que eu preciso fazer uma cirurgia no coração o mais rápido possível.  As chances de sobrevivência... São realmente baixas.
Dr. Tarcísio não sabia o que falar.
— E se não fizer a cirurgia? – perguntou Tarcísio preocupado.
— Se eu não fizer... Eu posso ter complicações e talvez eu só tenha um pouco mais que seis meses.
De repente, o Dr. Tarcísio e o Dr. Otávio ouviram um barulho de bandeja e xícaras caindo no chão.

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