Capitulo 19 - Revelação
Otávio
saía do escritório, quando encontrou Gabriele.
— Já vai
sair, Dr. Otávio? – perguntou ela. – Não vai ficar para o almoço?
— Não.
Tenho alguns negócios importantes para resolver. A propósito, Gabriele, você
viu se chegaram alguns exames médicos ontem?
Gabriele
ficou pensativa.
— Acho
que estava em uma das mesinhas da sala próxima à porta de entrada. Coloquei lá
enquanto fui falar com a Ane, mas quando voltei não estava. Pensei que o senhor
tivesse tirado de lá.
— Não.
Não peguei. – disse Otávio pensativo.
— Eu vou
procurá-lo, então.
— Não
precisa. De qualquer forma, estou indo pessoalmente falar com o Dr. Rodrigues.
Otávio
passou pela sala principal onde encontrou Mariana, que veio ao seu encontro.
— Seu
Otávio? Eu ia falar com o senhor. Mas parece que o senhor está de saída...
Otávio
sorriu.
— Acho
que posso conversar com você.
Sentou-se
em uma das poltronas da sala.
— Minha
irmã me falou sobre a prova que o senhor gostaria de marcar. – disse Mariana,
sentando-se próxima a ele.
— E o que
você achou da ideia?
Mariana
sorriu.
— Ótima!
– e um pouco mais séria. – Mas essa faculdade não é muito cara? Quer dizer, não
que eu esteja sendo mal agradecida, mas eu não gostaria de causar mais
problemas.
— E quem
disse que está sendo um problema? Não se preocupe com isso, quando eu chamei
vocês para morarem aqui, já estava nos meus planos mandá-las para a faculdade.
Então, assim que tivermos tempo, conversarei melhor com você para marcarmos uma
data mais adequada.
—
Obrigada, seu Otávio. – disse Mariana sorrindo.
***
Emanuela
fora falar com Rogério que parecia já estar adaptado com o novo trabalho.
— E aí, Emanuela,
o que está achando de morar aqui? – disse, enquanto podava uma pequena árvore.
— Bem,
até agora não tem sido muito ruim... Mas acho que tudo aqui é um pouco exagerado.
Não sei se vou me acostumar.
— É claro
que vai. Afinal, você só está tendo aquilo que lhe é de direito.
Emanuela
ficou intrigada com o que o Rogério lhe disse.
— O que
me é direito? Como assim?
Rogério
engoliu em seco.
— Não é
nada. Quer dizer, vocês agora não são netas do Dr. Otávio? É isso que eu quis
dizer.
Mais uma
vez, Emanuela tivera a impressão de que Rogério já sabia mais do que
aparentava.
—
Rogério, você conheceu o meu verdadeiro pai?
Rogério
virou-se de repente.
— Por que
pergunta isso? – perguntou ele, tentando ser natural.
— Estava
curiosa. Você deve tê-lo conhecido. Afinal, você conheceu minha mãe antes de
ela engravidar, não foi?
— Sim,
claro.
— E como
ele era? – perguntou Emanuela, observando a reação de Rogério.
— Não
sei, quer dizer, não lembro muito bem, eu sempre estava muito ocupado.
— E se
você visse uma fotografia?
Rogério
olhou para Emanuela e sorriu.
— Por que
você está fazendo tantas perguntas?
— Nada.
Só curiosidade mesmo. – disse, enquanto observava Rogério fazer seu trabalho.
***
Quando Emanuela
voltava do jardim, Érica já saía. Ao encontrá-la, Érica sorriu.
—
Obrigada por ontem. – disse ela, parando. - Você foi muito gentil.
Emanuela
pensou em avisar-lhe do seu engano, mas desistiu.
— Não foi
nada. – respondeu sorrindo.
Emanuela
entrou na mansão e foi para a biblioteca. Viu que a irmã estava estudando em
uma das mesas que havia por lá. Sentou-se ao lado da irmã.
— Você
falou com o Dr. Otávio?
Mariana
tirou os olhos do livro e olhou para a irmã.
— Sim. Assim
que ele ficar mais livre, nós vamos conversar mais sobre isso. Pelo menos foi o
que ele me disse.
As duas
ficaram em silêncio por alguns minutos.
—
Encontrei com aquela mulher. – disse Emanuela – A Érica.
— E? –
Mariana perguntou, sem tirar os olhos do livro.
— Ela me
agradeceu por algo que eu não fiz ontem à noite...
— Ah... –
Mariana pareceu lembrar-se. – É que eu a encontrei ontem na cozinha, parecia
que estava bebendo uísque ou coisa parecida... Estava um pouco bêbada, então eu
a ajudei a ir para o quarto.
—
Entendo.
—
Engraçado como as pessoas quando estão bêbadas falam demais. Ela dizia que eu
era gentil, diferente da minha irmã.
Emanuela
ficou confusa.
— Mas eu
nem a conheço... Como ela pode tirar essas conclusões de mim?
Mariana
riu.
— Foi o
que eu pensei também, mas depois eu percebi que ela falava da Viviane. E era
disso que eu queria falar com você... Você não tem a impressão de que todas as
pessoas dessa família já sabem que somos netas do Dr. Otávio, menos a gente?
— É... Eu
entendo o que está falando.
— Pois
é... Isso me leva a pensar se o nosso avô não está fazendo apenas um teste.
— Um
teste?
— Sim,
como um test drive. Como se ele
estivesse vendo como somos, se ele gostar, ele nos diz que somos netas dele, se
ele não gostar, não diz e nos descarta.
Emanuela
sorriu.
— Mari,
você imagina demais... Mas devo confessar que me sinto um pouco desconfortável
com isso. Tanto pelo fato de ele esconder, quando pelo fato de nós escondermos
isso. Sinto como se estivesse enganando todo mundo.
— Eu
também... Em geral, na ficção, as pessoas guardam o segredo até o fim e no
final, o segredo é revelado e as pessoas envolvidas tem uma grande reação. Mas
no nosso caso é o contrário. Você já imaginou quando ele nos contar? Como
devemos reagir? Como se estivéssemos surpresas ou como se já soubéssemos de
tudo? Será que eles vão pensar que o enganamos de propósito?
Emanuela
suspirou.
— Eu não
sei, Mari... Eu realmente não sei. – disse Emanuela pensativa.
— E
também há outra coisa em que tenho pensado...
— Em quê?
– perguntou Emanuela um pouco curiosa.
— Se somos
realmente netas do Dr. Otávio... Por que ele nos procurou apenas agora?
— Ele
pode ter tido conhecimento disso há pouco tempo.
— É...
Pode ser... Mas algo me diz...
— Que
isso por ter algo a ver com a morte da Rebeca. – completou Emanuela.
Mariana
riu.
— Como
sempre você consegue ler meus pensamentos.
— Não é
que eu li... Eu também pensei nisso. Se somos netas de um homem muito rico,
isso quer dizer que também somos herdeiras... Então, é óbvio que alguém pode
ter matado Rebeca por causa disso.
— Mas por
que matariam Rebeca? Se nós somos as herdeiras, não é mais óbvio tentar nos
matar?
Emanuela
pensou por alguns segundos.
— Tem
razão... Mas eu lembro que no dia em que Rebeca morreu, eu tinha saído... E
você...
Mariana
suspirou.
— Eu não
me lembro. Se pelo menos eu pudesse me lembrar de alguma coisa daquele dia.
— Não
importa. – disse Emanuela pensativa. – O fato é que se o que estamos pensando
está certo, então, alguém dessa família realmente não gosta da nossa presença.
— Você
quer dizer não gosta da nossa existência, não é?
Mariana
olhou preocupada para Emanuela, que, naquele momento, pensava nas reações
estranhas de Rogério.
***
Érica
naquela hora já estava na estava no escritório de Marcos. Observava-o falando
ao telefone.
— O meu
advogado já entrou em contato com o advogado da empresa. – disse ele, colocando
o telefone no gancho. – É quase certo que não encontrarão provas concretas
contra mim.
— E o que
vai fazer agora? – perguntou ela.
— Vou
esperar. É verdade que alguns vão ficar contra mim, mas sem provas suficientes
eles não podem me tirar do cargo de vice-presidente do grupo.
Ele
sentou-se na poltrona.
— Acho
que está quase na hora de voltar, não é mesmo, querida Érica?
Érica
mordeu os lábios. Odiava o maldito hábito de ele a chamar de querida.
***
Fabrício
se deteve olhando para o apartamento. Pensava na irmã, e no pai. Neste último,
imaginava como havia sido a sua reação quando a irmã lhe falara que ele havia
se mudado. De repente, a campainha tocou. Fabrício foi atender.
— Olá! –
disse a irmã, entrando com algumas sacolas nas mãos. – Trouxe algumas coisas para
você. – avisou, enquanto entrava procurando a cozinha e, logo depois, colocando
em cima da mesa algumas mercadorias que tinha comprado.
— Não
precisava ter comprado. – disse ele.
Verônica
olhou para ele e pegou em seu queixo.
— É claro
que precisava. – disse enquanto olhava o rosto do irmão. – É impressão minha ou
você já emagreceu?
Olhou em
volta e viu a geladeira. Abriu-a.
—
Enlatados. Enlatados. – disse, enquanto revirava a geladeira. Tirou um pacote
de pipocas de microondas. – Vem cá, o que isso está fazendo aqui?
Fabrício
riu.
— O quê?
Virou agente sanitária?
Viviane
fez um muxoxo.
— Você
sempre reclamando... – e um pouco mais séria. – O que está achando de morar
sozinho?
— Eu não
sei exatamente... Eu me mudei para cá ontem e não sei como é a sensação de
morar sozinho porque você já está aqui. – disse, olhando com desaprovação para
a irmã - Mas posso dizer que a vizinhança é calma e eu posso estudar com tranquilidade...
— Sei. –
disse ela com uma expressão de incredulidade no rosto.
— E... –
disse ele um pouco hesitante. – E o que o nosso pai disse quando você falou que
eu saí de casa?
— Eu não
disse. – falou ela naturalmente.
Fabrício
não acreditava.
— Você
não disse? E ele não percebeu minha falta?
Verônica
riu.
— Estava
brincando, bobo. É claro que eu disse.
— E ele?
– perguntou, querendo parecer menos, interessado que estava.
Verônica
suspirou.
— Você
quer realmente saber?
Fabrício
concordou.
— Ele
disse que a sua vida já não interessava a ele. Que você poderia fazer o que
quisesse que ele não iria mais se importar.
Fabrício
ficou sério.
— Não sei
por que eu ainda esperava que fosse diferente.
Verônica
olhou para o irmão com tristeza.
— Você
deveria fazer as pazes com ele... Afinal, ele é o seu pai. – e tirando um
envelope da bolsa. – Eu já vou indo. Fique com isso.
— Eu não
posso aceitar. Você está se arriscando demais. O nosso pai pode descobrir.
— Não se
preocupe. Isso são algumas economias pessoais.
Fabrício
riu.
— O quê?
Andou guardando debaixo do colchão?
— Quase
isso... – respondeu ela sorrindo, enquanto se dirigia para a porta. – Se cuida.
***
Rebeca
estava sentada na cama do hospital com uma roupa que havia sido dada por algumas
enfermeiras. De repente, duas enfermeiras entraram em seu quarto. Era Lúcia, a
enfermeira que cuidara de Rebeca todo o tempo em que estivera ali e outra
colega.
— Oi,
essa é Norma. – disse apresentando a outra. – Ela que vai lhe emprestar o
apartamento.
— É um
apartamento pequeno, mas acho que você vai gostar muito. – disse Norma.
—
Obrigada. Você é muito generosa.
— Não
precisa me agradecer, já que foi um pedido pessoal do Dr. Fabiano. De qualquer
forma, pode ficar o tempo necessário até você se recuperar totalmente. – disse
sorrindo.
— Eu
prometo que vou lhe recompensar de alguma forma. – disse.
Norma e
Lúcia sorriram.
— Parece
que você recebeu alguns presentes. – disse Lúcia, enquanto olhava uma pequena
mala.
— As
pessoas aqui são muito generosas. Algumas enfermeiras me deram roupas e
calçados. Fiquei até sem graça em aceitar tantos presentes.
De
repente, o Dr. Rafael entrou. Logo depois, entrou também Fabiano.
— Tem
alguém que gostaria de falar com você antes de ir. – disse Rafael, enquanto se
retirava junto com as enfermeiras.
— Então,
você está de alta. – disse um pouco sem jeito, logo depois que os três saíram.
– Espero que recupere logo a sua memória.
— Eu
também.
—
Obrigada por aquele dia... Eu estava precisando conversar.
— Sem
problema. – disse ela sorrindo. – Mas acho que não devemos prolongar muito a
nossa conversa, as pessoas podem pensar coisas que não devem e eu não quero
prejudicá-lo.
Fabiano
pareceu ficar sem jeito.
— Tem
razão. Então, eu vou indo. – disse, enquanto saía.
Rebeca
permaneceu do jeito que estava. Não havia tristeza ou alegria em sua expressão.
Talvez medo. Não se lembrava do seu passado, nem sabia o que aconteceria no seu
futuro. A única coisa que tinha certeza é que estava viva.
“Talvez
isso seja o suficiente.” – pensou.
***
Já era o
final da tarde, quando Otávio Jr. chegou à mansão. Subiu para o seu quarto,
estava extremamente cansado. A esposa que havia chegado há pouco tempo,
pois fora visitar a sua mãe, o seguiu. Logo ao entrarem no quarto, Camila
percebeu que o marido estava com um péssimo humor.
— O que
aconteceu?
—
Aconteceu que eu não pensei que o tio Marcos fosse tão esperto. Acho que o
subestimei. – disse ele, sentando-se em uma poltrona, enquanto afrouxava a
gravata.
— Como
assim? – perguntou ela.
— Hoje, o
advogado pessoal dele entrou em contato conosco. E, infelizmente, o maldito tem
razão. Apesar de todos os esforços em uma nova auditoria, não temos provas
suficientes nem para afastá-lo do cargo que ele ocupa.
— O que
você vai fazer?
Otávio
Jr. pareceu pensar por um momento.
— Temos
que colocar o outro plano em ação. – e um pouco mais baixo - Sequestrar uma das
netas do meu pai e colocar a culpa no tio Marcos.
— Mas,
já? – perguntou ela confusa.
— Claro
que não. – disse ele, levantando-se. – Antes, é necessário que seja revelado
publicamente que elas são de fato netas dele, filhas do Jorge. Depois, é
preciso um motivo. Sem um motivo, a polícia não vai acreditar que o tio Marcos
é culpado do sequestro que vamos armar. E, por último, uma conexão entre o sequestrador
e o tio Marcos.
— O
motivo poderia ser a mudança do testamento.
O rosto
de Otávio Jr. se iluminou.
— Tem
razão, o velho, com certeza, vai ou já fez alguma mudança no testamento. – e
sentando-se novamente. – Seria bom se o meu pai revelasse logo que Jorge é o
pai das duas... Mas como?
Camila
ficou pensativa.
— Não se
preocupe, eu me encarrego disso.
***
Viviane
chegou à mansão e logo subiu para o quarto. Gabriele ainda tentou falar com
ela, mas parecia que ela não tinha ouvido. As gêmeas estavam na sala, quando
viram Viviane ignorar a mãe. Mariana se aproximou de Gabriele.
— Ela
deve estar cansada. – disse ela.
Gabriele
sorriu.
— Tem
razão. – disse ela, saindo em direção à sala de jantar.
O Dr.
Otávio chegou momentos depois. Parecia muito pensativo. Passou pelas duas como
se não as tivesse visto.
— O que
deve ter acontecido hoje? – perguntou Emanuela, olhando para Mariana.
— Eu não
sei. Mas como diria uma amiga minha: “Talvez os planetas não estejam nos seus
devidos lugares”.
No
quarto, Viviane pegou a bolsa e tirou alguns papéis. Neles estavam escritos os
resultados dos exames clínicos do seu avô.
— No
final, não consegui falar com ninguém sobre isso... – disse um pouco deprimida.
– Será que eu posso estar errada?
***
No dia
seguinte, um sábado, o Dr. Tarcísio foi chamado logo pela manhã, pelo Dr.
Otávio. Os dois pareciam ter algo muito importante para conversar. As
três meninas e Gabriele tomavam o café da manhã.
— Rute. –
disse a senhorita Sônia, falando com uma das empregadas que estava na sala onde
as quatro tomavam o café da manhã. – Por favor, leve um pouco de café para o
Dr. Otávio e o Dr. Tarcísio.
— Sônia, deixa
que eu levo. – disse Viviane, tirando a bandeja da mãe da governanta.
O Dr.
Otávio e o Dr. Tarcísio conversavam a portas trancadas no escritório.
— O que o
senhor queria falar comigo de tão urgente, Dr. Otávio?
— Quero
mudar meu testamento o mais rápido possível.
— Mas por
que tanta pressa? – perguntou Tarcísio curioso.
Otávio
olhou com seriedade para o advogado.
— A minha
saúde não vai muito bem... Ontem, conversei com o médico. Ele disse que eu
preciso fazer uma cirurgia no coração o mais rápido possível. As chances de sobrevivência... São realmente
baixas.
Dr.
Tarcísio não sabia o que falar.
— E se
não fizer a cirurgia? – perguntou Tarcísio preocupado.
— Se eu
não fizer... Eu posso ter complicações e talvez eu só tenha um pouco mais que
seis meses.
De
repente, o Dr. Tarcísio e o Dr. Otávio ouviram um barulho de bandeja e xícaras
caindo no chão.
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