segunda-feira, 30 de setembro de 2013

WEBNOVELA - LAÇOS - CAPÍTULO 20 - PRIMEIRA PARTE - AUTORA: JULIANA SOUSA

Capitulo 20 -  Surpresa

Viviane se aproximou com a bandeja na mão do escritório do seu avô. Antes que pudesse bater à porta, percebeu que o avô e o advogado falavam algo que a deixou interessada. Ficou calada e aproximou o ouvido da porta, mas não pode ouvir mais nada. Abriu a porta de leve, deixando uma pequena brecha. Súbito, seu rosto empalideceu, sem que percebesse, derrubou a bandeja que estava em suas mãos e, assustada, saiu correndo, quase esbarrando em Emanuela, que estava indo para a biblioteca.
Alguém apareceu na porta do escritório. Era o Dr. Tarcísio. Ele olhou para a bandeja e as os cacos deixados pelas xícaras que haviam caído no chão.
— O que aconteceu aqui? – perguntou, enquanto Emanuela ainda olhava para trás, intrigada com o comportamento de Viviane.
— Jovem? – Tarcísio chamou a atenção de Manu.
Emanuela percebeu que o advogado falava com ela.
— O que aconteceu? – perguntou ele um pouco confuso.
— Ah... Não foi nada... Só um acidente.
O Dr. Tarcísio fechou a porta intrigado. De repente, Gabriele chegou um pouco assustada.
— O que aconteceu Emanuela? – perguntou, enquanto via a garota apanhar a bandeja e os cacos que havia no chão. – Por favor... Não faça isso. Deixe isso com os empregados. Você pode se machucar. – e ajudando Emanuela a levantar-se. – Você sabe o que aconteceu?
— Viviane... Ela veio entregar a bandeja com o café. Eu não sei o que aconteceu, de repente, ela derrubou a bandeja e saiu correndo.
Gabriele pareceu extremamente preocupada, saiu e Emanuela seguiu atrás dela. Subiram a escada e encontraram a senhorita Sônia descendo.
— Onde ela está? – perguntou Gabriele à jovem governanta.
— Eu a vi entrando no quarto. – respondeu Sônia imediatamente.
Gabriele e Emanuela subiram e foram à porta do quarto de Viviane. Gabriele tentou abrir, mas estava fechada.
— Vivi! – chamou preocupada. – Viviane, minha filha. Por favor, abra a porta. O que houve?
Nada se ouviu.
— Minha filha. Por favor, abra a porta para a sua mãe. Você está bem?
— Eu não quero falar com ninguém. Me deixe em paz! – Viviane respondeu do quarto.
— Abra a porta, Vivi. – insistiu Gabriele - Eu quero saber o que aconteceu, minha filha. Você está bem?
Viviane parecia chorar dentro do quarto.
Me deixa em paz! Me deixa em paz! Que droga! Por que voltou? Por quê? Faça como sempre fez, apenas me deixe sozinha! Volte para a Itália e viva a sua vida. Por que continua fazendo da minha vida um inferno?!
Emanuela percebeu que aquelas palavras foram realmente duras, pois Gabriele pareceu ficar um pouco deprimida. Ela fez um gesto como que pronta para bater à porta novamente, mas desistiu. Apenas olhou para a porta e suspirou. Emanuela pode perceber seu olhar de tristeza. Gabriela se recompôs e se preparava para sair, quando a garota a tocou no braço.
— Não vai tentar mais uma vez?
— Não... É melhor deixá-la sozinha. A minha presença só a perturbaria mais ainda. – disse, saindo.
***
O Dr. Otávio olhou para Tarcisio que acabara de fechar a porta.
— O que aconteceu? – perguntou ele.
— Não foi nada... Parece que uma das empregadas derrubou a bandeja que carregava. Mas, voltando ao assunto, o que o senhor pretende fazer depois de mudar o testamento. O senhor vai fazer a cirurgia ou não? Vai informar à sua família?
Otávio pareceu pensativo.
— Vou. Eu já pensei bastante nisso.
— Então, pretende fazer o mais rápido possível? Por que, se a situação é como o senhor me disse, quanto mais tarde, menores serão as chances...
— Eu sei. Mas, por enquanto, vou adiar dizer isso à família por mais uma semana. Passando esse domingo, no próximo, é o aniversário da Viviane, quero que seja um dia sem preocupações para ela. Depois disso, eu informo a todos tanto sobre minha cirurgia.
***
Fabiano encontrou com Rafael nos corredores do hospital. Os dois, naquele dia, estavam muito ocupados.
— Muitas cirurgias, Dr. Fabiano? – perguntou Rafael.
— E como... – disse sorrindo. – E você?
— Você sabe que eu não faço cirurgias ainda. No máximo, apenas acompanho. – e olhando para os lados. – Já está sentindo falta daquela paciente? A Rebeca?
Fabiano pareceu não se importar com a brincadeira do colega.
— Por que eu sentiria falta? Afinal, pacientes vão e vem desse hospital.
Rafael pareceu ficar um pouco mais sério.
— Mas o que ela realmente tem? Quer dizer, a amnésia dela não deveria ter durado mais que um dia...
Fabiano pareceu pensativo.
— Tem razão. A amnésia dela, se fosse devido ao traumatismo, deveria durar no máximo 24 horas.
— Isso quer dizer...?
— Isso quer dizer que na verdade é uma amnésia dissociativa retroativa. Pelo menos, foi o que o Dr. Lúcio disse.
Rafael ficou pensativo.
— Por isso que ele disse a mim que duraria alguns dias... Mas a amnésia dissociativa não é de ordem psicológica?
— Isso. – respondeu Fabiano. – E retroativa é mais raro ainda. Ela não consegue se lembrar de nada do que aconteceu antes do trauma. O Dr. Lúcio suspeita que algum trauma psicológico tenha acontecido momentos antes do acidente e que talvez seja até a causa do próprio acidente, visto que, segundo os peritos, o carro em que ela estava não aparentava ter qualquer problema.
— Então, ela poderia ter desmaiado ao volante ao passar por um trauma psicológico... – disse Rafael pensativo.
— É uma hipótese. Algo que ela viu momentos antes do acidente. Algo que lhe causou um grande trauma psicológico causou essa amnésia.
— Essa Rebeca é realmente um mistério. – comentou Rafael. – Não me admira que você esteja interessado nela.
Fabiano apenas se limitou a olhar o amigo de forma repreensiva.
— Mas Fabiano... – disse ele com um tom preocupado. – Você acha que não seria descuidado deixá-la morar sozinha? Quer dizer, você deve saber quais são os sintomas...
— Eu já resolvi isso. – disse ele, tentando se acalmar mais do que dar uma explicação ao colega. - Hoje mesmo uma enfermeira começará a cuidar dela.
***
Depois de algum tempo, Viviane abriu a porta. Assim que abriu, tomou um susto. Emanuela estava em pé, encostada na porta do quarto da frente como que esperando por ela.
— Posso conversar com você um pouco? – perguntou Emanuela, olhando para Viviane.
— Eu não tenho nada para conversar com você. – disse ela rispidamente.
— Mas eu tenho algo para dizer. – disse Emanuela.
Emanuela entrou no quarto de Viviane sem que Vivi tivesse qualquer reação.
— Já disse que não tenho nada para conversar com você e não há nada que eu queira ouvir de você.
Emanuela olhou para Viviane.
— Para o seu próprio bem, é melhor ouvir o que eu tenho a dizer.
Viviane riu-se.
— Agora está me ameaçando? Ok... Então fala logo. Não gosto de desperdiçar meu precioso tempo com vermes aproveitadores como você.
Emanuela não entendeu.
— Vermes aproveitadores como eu? Do que está falando?
— Você acha que eu não sei? Você e sua irmã estão querendo se aproveitar do meu avô.
— Eu não sei mesmo do que está falando. – disse Emanuela ainda mais confusa.
Viviane riu sarcástica.
— Ainda com esse teatrinho? Vocês podem enganar a todos com sua atuação, mas não a mim.  Além do plano ridículo de vocês, que tipo de favores vocês ofereceram ao meu avô para convencê-lo? – Vivi olhou Emanuela de cima a baixo - Não me admiraria se vocês usassem o próprio corpo...
De repente, ouviu-se um estalo seco. Emanuela acabara de dar uma tapa em Viviane. As duas permaneceram em silêncio. Viviane segurava o rosto ainda sentindo o dor causado pela tapa que Emanuela lhe dera.
— Não acha que foi longe demais? – perguntou Emanuela, tentando não parecer tão irritada quanto estava. – Mesmo que não respeite a mim nem a minha irmã, deveria pelo menos respeitar o seu avô.
Viviane olhava Emanuela com raiva.
— Se eu respeito ou não, isso não é da sua conta. Saia do meu quarto agora!
— Entendo que por alguma razão esteja com raiva... Mas não desconte as suas próprias frustrações em pessoas que não tem nada a ver com isso.
Viviane parecia confusa e irritada.
— Do que está falando?
— A sua mãe... – disse Emanuela com certa tristeza na voz. – Você não se importa nem um pouco com ela. Estou aqui há pouco tempo e já percebi o quando você a trata mal. Você acha que ela não sofre?!
Viviane sorriu sarcástica.
— A forma como eu trato a minha mãe não é da sua conta. Você como todos os outros também caíram na atuação dela. Aquela mulher deixou de ser minha mãe há muito tempo.
— Você a odeia tanto assim?
— Sim... Eu a odeio. Quero que ela sofra da mesma forma que senti quando ela me deixou aqui. Quero que ela se sinta rejeitada da mesma forma que eu me senti. E depois que ela sofrer bastante, quero que ela desapareça da minha vida! Respondi a sua pergunta? - e apontando para a porta - Agora, saia do meu quarto!
Emanuela se dirigiu para a porta. Antes de sair, olhou para Viviane.
— Falo por experiência própria... Você deveria ter muito cuidado com o que deseja. – e com o olhar vago - Às vezes, elas acontecem e não importa o quando se arrependa, não dá para voltar atrás depois. – disse, saindo.
Viviane permaneceu calada por um instante. De repente, deitou-se na cama e chorou tentando abafar o barulho com o travesseiro.
Logo ao sair, Emanuela deu de cara com Gabriele que estava parada em frente à porta de Viviane. Mariana também estava ali a esperando.
Emanuela olhou para Gabriele e percebeu uma expressão melancólica no olhar. De repente, ela pareceu perceber a presença da garota.
Me desculpe pelo comportamento da minha filha.
— Eu que peço desculpas pelo que eu fiz. Por causa do que eu fiz e do que eu disse, ela falou coisas horríveis de se ouvir.
Gabriele sorriu compreensiva.
— Não a julgue tão mal. No final das contas, eu sou culpada por isso. – disse, saindo em seguida.
Emanuela observou-a se afastando. Mariana olhou para a irmã.
— Tios que passam a maior parte do tempo trabalhando... – disse - Irmã mimada que odeia a própria mãe. Madrasta que se culpa, quando ela deveria se sentir magoada. Avô que mente para as próprias netas. – suspirou - Que família complicada. E eu pensava que ricos não tinham problemas.
Emanuela olhou para a irmã.
— Só você para pensar algo assim... O ser humano é complicado com ou sem dinheiro.
De repente, Mariana lembrou-se de algo que tinha ouvido.
— Mas Manu... Aquilo que você disse sobre ter cuidado com o que deseja e sobre falar por experiência própria... Do que exatamente estava falando?
— Ah... Foi só modo de expressão... – disse Emanuela aparentemente desconcertada - Quem nunca desejou algo que não se arrependeu depois, não é?
Mariana observou a irmã com curiosidade.
***
A enfermeira chegou ao endereço que o Dr. Fabiano lhe dera. Entrou no prédio e subiu até o 14° andar. Andou por um corredor e parou em frente ao apartamento 103. Era ali que Rebeca morava. Apertou a campainha, mas ninguém atendeu. Tentou mais algumas vezes sem sucesso. Percebeu que alguém entrava no apartamento vizinho e chamou a sua atenção.
— Com licença. – disse ela. – Tem alguém morando nesse apartamento, não tem?
— Sim. – respondeu a mulher que estava com algumas sacolas na mão. – Se não me engano, chegou ontem... Ela, por acaso, está doente?
— Por quê? – perguntou a enfermeira curiosa.
A mulher se aproximou da enfermeira.
— Ela me parecia muito abatida... – e em tom de confidência. – Parecia um pouco depressiva, como se tivesse perdido um ente querido, você sabe.
— Depressiva? – perguntou a enfermeira, ficando preocupada.
— Sim... Isso me lembra um primo meu que tentou suicídio ano passado... – disse a mulher displicente.
A enfermeira pensou por alguns instantes.
— Quem tem as chaves de todos os apartamentos? – perguntou a enfermeira de repente.
— O síndico. – respondeu a mulher. – O que...?
— Você pode me levar até ele? É urgente. A vida de uma pessoa pode estar em perigo.
Passaram-se cinco minutos desde a chamada do síndico até que a porta do apartamento de Rebeca fosse aberta. A enfermeira entrou junto com o síndico e a vizinha. Ao chegarem ao quarto, a vizinha soltou um grito. No chão, Rebeca estava caída, desacordava e em suas mãos um vidro de comprimidos vazio. A enfermeira correu e verificou a pulsação de Rebeca.
— Ela está m-morta? – perguntou a vizinha assustada.
— Não. Mas corre perigo... – respondeu a enfermeira, tentando manter a calma e olhando para o sindico. – Por favor, chame uma ambulância do Hospital Alcântara! Agora!
***
Rebeca foi levada às pressas para a emergência e foi atendida com rapidez. Fabiano logo descobriu que ela se encontrava no hospital. Duas horas se passaram até que ele pudesse entrar no quarto dela.
Quando entrou, logo percebeu que ela estava acordada.
— Você está bem? – perguntou ele. – Disseram que você sofreu uma crise alérgica por causa de um medicamento.
— Sim... Eu o comprei na farmácia. Percebi na própria pele que não podemos nos automedicar.
Fabiano deixou-se tranquilizar com um suspiro.
— Pensei que você... – disse, parando a frase no meio.
— Pensou o quê? – perguntou ela.
— Desculpa, por um momento pensei que você... Você tinha tentado suicídio.
Rebeca ficou um pouco surpresa.
— O quê? Suicídio?
Fabiano pareceu ficar sem jeito.
— Quer dizer, pessoas com amnésia geralmente podem ficar deprimidas e vir a...
— Eu entendi. – disse ela, interrompendo-o.
Os dois ficaram em silêncio por um momento.
— Sabe, Dr. Fabiano... – disse com o olhar vago - Não se lembrar de nada do que aconteceu consigo mesma é realmente assustador. Não ter no que pensar ou não reconhecer o rosto de qualquer pessoa... É realmente assustador. Mais do que isso... Assustador e solitário. – e olhando para ele - Mas, apesar de não me lembrar de nada, eu posso dizer com toda certeza, eu nunca desistiria da minha própria vida.
Fabiano sorriu um pouco envergonhado.
— Me desculpe... Nem sou seu médico. Nem deveria estar aqui. Realmente, peço desculpas.
— Então o que está fazendo aqui? – perguntou ela como que querendo saber se ele sabia a resposta para aquela pergunta.
Fabiano sorriu com o olhar distante. Sentou-se próximo a cama onde Rebeca estava deitada.
— Você me perdoaria se eu dissesse que me preocupo com você porque me lembra outra pessoa?
Rebeca sorriu.
— Não estou em condições de rejeitar qualquer ajuda ou preocupação, não importa o motivo, estou?
— Tem razão.
— E essa pessoa... – disse ela - Quem era?
— É uma história um pouco longa...
— Eu tenho tempo agora, se quiser. Como pode ver, não tenho absolutamente nada para fazer no momento. – disse.

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