segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

WEBNOVELA - LAÇOS - CAPÍTULO 35 - PRIMEIRA PARTE - AUTORA: JULIANA SOUSA

Fabrício ficou parado, durante alguns segundos, sem reação ao ver que Emanuela estava ali na sua frente, naquela boate.
— Você... Aqui. – disse meio sem jeito.
— Então, esse é o seu novo trabalho?
Fabrício olhou para os lados, se certificando que Fernandes ou algum dos seus capangas não estivessem por perto.
— Vamos para outro lugar para conversarmos. É perigoso se ficar aqui. – disse, enquanto a pegava pelo braço e a levava para fora.
Os dois foram para uma pequena lanchonete que ficava a pouca distância da boate.
— O que você tem para explicar? – começou Emanuela com o olhar preocupado, assim que se sentou junto a uma mesa do estabelecimento.
No fundo, ela já sabia que algo estava errado. Não poderia acreditar que Fabrício estivesse trabalhando para Fernandes por livre e espontânea vontade. Fabrício parecia constrangido, não sabia por onde começar.
— Bem... Como eu poderia... – ele tentou explicar.
— Fernandes te forçou a isso, não foi? – disse ela, olhando a expressão de surpresa no olhar do namorado. – E pelo que vejo, ele deve ter usado alguma coisa para te chantagear.
— Como... Você sabia?
Emanuela suspirou.
— Não preciso adivinhar, quando conheço Fernandes tão bem. Ele e os jogos sujos dele.
Fabrício ainda parecia constrangido. Ser exposto daquela maneira na frente da namorada esmagava o seu orgulho.
— Sinto como se fosse o maior imbecil deste planeta.
— Não se sinta. – disse Emanuela, respondendo imediatamente – Fernandes é muito bom em manipular as pessoas. Qualquer um que não o conhece bem seria facilmente enganado. – e olhando nos olhos de Fabrício. – Quero que me diga exatamente o que aconteceu para você chegar nessa situação. Tudo, desde o começo.
Fabrício hesitou no começo, mas acabou contando tudo, enquanto Emanuela ouvia pacientemente. Depois que terminou, ele observou atentamente a namorada.
— Então foi assim... – comentou como para si mesma, um pouco pensativa.
Fabricio não sabia o que a namorada diria. Talvez quisesse terminar o namoro ali mesmo sem qualquer explicação.
— Não se preocupe, vou tentar ajudar. – disse Emanuela, de repente, surpreendendo Fabrício.
Ele balançou a cabeça negativamente.
— Não, Manu. Eu tenho que resolver isso sozinho. É meu orgulho que está em jogo. Além disso, não posso envolver mais pessoas em um problema que eu mesmo criei.
Emanuela ficou calada por uns instantes. Observou o punho fechado de Fabrício sobre a mesa. Delicadamente colocou a mão dela sobre a dele.
— Fabrício... – disse, fazendo uma pequena pausa. - Eu entendo que tenha o seu orgulho. Mas a vida não é assim. Muitas vezes, precisamos da ajuda das outras pessoas, porque não vão ser raras as vezes onde estaremos lutando contra algo que está acima de nossas forças.
— Mas mesmo assim...
— Acredite, eu também tenho aprendido isso. Ninguém é totalmente independente. O fato é que aceitar a ajuda das pessoas exige muito mais coragem do que rejeitar essa ajuda. E isso faz parte do processo de amadurecimento de uma pessoa. Então, aceite a minha ajuda e dos seus amigos. Fernandes faz parte de uma máfia e não é qualquer pessoa que pode derrotá-lo, mas eu conheço algumas de suas fraquezas.
Fabrício suspirou. Emanuela tinha a capacidade de sempre lhe mostrar que estava errado, quando de fato estava.
— Obrigado. – disse meio sem jeito.
Emanuela riu-se.
— Mas dar um carro de marca e 500.000 para me salvar realmente foi... Como eu posso dizer... Inesperado.
— Tirando a parte de eu não ter lido o contrato, eu teria feito tudo de novo. – disse ele sorrindo, enquanto se inclinava até ela – Por que você vale mais do que todos os carros de marca que existem e todo o dinheiro do mundo.
Emanuela sorriu meio sem jeito.
— Lá vem você com essas frases piegas de novo. – disse, enquanto empurrava com o dedo a testa dele.
— O quê? Não gosta quando eu sou romântico?
— Você sabe que não é isso. – disse sorrindo.
***
Ao sair da lanchonete e se despedir de Fabrício, Emanuela encontrou Rosália. A jovem senhora parecia um pouco preocupada.
— Então, você falou com o garoto? – disse ao saber que Emanuela havia se encontrado com ele – Fico tão chocada ao ver um menino tão novo se envolvendo no mau caminho.
— Não se preocupe, Rosália, eu vou pensar em algo. Apesar de que ainda não tive nenhuma boa ideia. Até pensei em fazer um acordo com o Fernandes. Ele sempre gostou desse tipo de coisa.
Rosália balançou a cabeça negativamente.
— Não. Não pense em fazer acordos com aquele homem. Ele sempre vai levar a melhor e será só uma oportunidade para arrastar você para aquele mundo também. Talvez...
Rosália ficou pensativa por alguns instantes.
— Talvez o quê? – perguntou Emanuela interessada.
— Se houvesse uma maneira de obter uma ordem superior... Sim, isso daria certo. Poderia dar certo.
— Que tipo de ordem superior?
— Uma ordem superior de Sargento ou Tenente da polícia. Você sabe que o Fernandes tem acordos com eles. Se os homens realmente quiserem pegar Fernandes, eles até podem.
Emanuela concordou.
— Rosália, você me deu uma boa ideia.
***
Camila estava sentada na sua cama, enquanto observava atentamente uma foto em suas mãos amarelada pelo tempo.
— Em breve, teremos nossa vingança, não se preocupe. – disse, enquanto olhava para a foto – Em breve, você e eu poderemos descansar. Depois que tudo terminar, não terei qualquer objetivo para ficar aqui, então vou me encontrar com você...
Camila pegou a foto e colocou em um diário amarelado pelo tempo. Em seguida, guardou em uma pequena caixa com fechadura e, depois de trancar, colocou em uma das gavetas de sua cômoda também fechada com chave. Depois disso, pegou o telefone celular e discou um número.
— Alô? Quero que você investigue algo para mim... Verifique se ela está morta, viva ou o que aconteceu com ela. Tudo sobre essa pessoa. O que você puder encontrar. Pode fazer isso rápido? – disse, fazendo uma pequena pausa – Não se preocupe com dinheiro. Quero que descubra tudo sobre Tânia Bravo.
***
Emanuela estava reunida com a irmã, Viviane e Verônica no quarto de Vivi e, depois de ter chegado à mansão, havia contado tudo o que havia descoberto para as outras.
— Como meu irmão pôde cair em algo assim? – disse Verônica inconformada. – Se ele tivesse me dito mais cedo, isso não teria chegado a esse ponto.
— O Fabrício falar de livre e espontânea vontade? – disse Viviane, rindo – Você sabe muito bem que ele é muito orgulhoso. E estou até admirada que Emanuela tenha conseguido fazê-lo falar e, além disso, aceitar ajuda. Como esperado do cérebro das gêmeas.
Mariana semicerrou os olhos, enquanto olhava para Viviane.
— Essa sua brincadeira já perdeu a graça.
— Não é nenhuma brincadeira, eu falei sério.
— Gente, o caso é sério aqui. – disse Verônica ralhando – Meu irmão está nas mãos da máfia. Vocês sabem o que é isso? Eles podem matá-lo e desaparecer com o corpo se quiserem. Tal como acontece nos noticiários.  – disse preocupada.
— Se acalma Verônica. A esta altura, o Cérebro já deve ter pensado em alguma coisa. – disse, mostrando a língua infantilmente para Mariana, que retribuiu com o mesmo gesto.
Verônica olhou apreensiva para Emanuela.
— Então, você tem algum plano?
— Sim. A única forma de fazer Fernandes desistir de Fabrício e de toda essa brincadeira de mau gosto é tendo uma influência maior do que a dele. E isso inclui pessoas que tenham contatos políticos.
Mariana estava confusa.
— Como um político entraria no meio disso?
— Bem... Se alguém denunciasse Fernandes por chantagem, a polícia o protegeria, não é? Já que ele tem acordos com ela. Então, a única forma de fazer a polícia realmente vir atrás de Fernandes seria uma ordem superior, que, por sua vez, viria de algum político. Como a polícia não quer ter a máfia como inimiga, obrigatoriamente, ela faria um esforço de aconselhar Fernandes a soltar Fabrício e não causar problema para as duas partes.
Viviane bateu palmas.
— Como esperado, como esperado.
— Tem razão. – comentou Verônica.
— Não entendo como você pode ter os mesmos genes que a tonta da Mariana. – observou Vivi.
— Eu não sou tonta. – replicou Mariana.
— Bem, mas isso é teoricamente. – continuou Emanuela - Mesmo que conheçamos algum político influente, não é como se ele pudesse nos ajudar em troca de nada. Apenas grandes empresários tem apoio politico, porque normalmente sempre existe uma troca de favores.
Verônica parecia pensativa.
— Meu pai pode ajudar nisso. – disse, atraindo a atenção de olhares. – Embora eu me envergonhe disso, meu pai já ajudou a patrocinar muitas campanhas políticas. É uma forma de conseguir apoio na câmera de vereadores, assembleia e até no congresso. Vocês sabem, lobby, esses tipos de coisas...
— Nossa. Isso é incrivelmente... – comentou Mariana, não tendo coragem de completar.
— Corrupto. – completou Verônica um pouco envergonhada. – Mas, infelizmente, é assim que acontece no mundo das grandes corporações.
— Em todo caso, não estamos aqui para julgar os atos do pai da Verônica. O nosso objetivo agora é salvar o Fabrício. – comentou Emanuela.
As três concordaram.
— Então, quando podemos falar com seu pai? – perguntou Emanuela.
— Podemos marcar um horário amanhã para falarmos com ele.
— Mas, Verônica, seu pai mora na sua casa... Como assim marcar um horário? – disse Viviane.
— Eu sei, mas eu quase não o vejo. Então, mesmo no domingo, ele trabalha em um escritório. Acho que posso pedir a ele para nos receber.
Emanuela concordou.
***
No outro dia, Viviane acordou cedo e ligou para Gabriel. Demoraram umas duas horas para que Gabriel chegasse à mansão.
— Então, você veio! – disse ela ao vê-lo.
— Você me acorda 6:00 da manhã de um domingo... Depois de ter tirado meu sono, não podia fazer outra coisa a não ser vir.
— Que bom, então. Vamos. – disse ela, se dirigindo a porta de saída.
— Espera. Eu acabei de chegar. Para onde vamos?
— Você vai descobrir. Siga-me. – disse, enquanto ele a seguia um pouco contra a vontade.
Os dois se dirigiram ao local onde eram estacionados os carros. Viviane parou em frente a um deles.
— Este é meu.
— Você me chamou aqui para exibir seu carro novo?
Viviane suspirou impaciente.
— Claro que não. Você pode ter vários desses, por que eu me exibiria para você? – e um pouco mais séria. – A verdade é que...
— É que o quê?
Viviane suspirou, era como se hesitasse falar o que sentia.
— Depois do acidente, eu tenho um probleminha em dirigir... – disse, olhando para o carro. – Eu não contei para ninguém, mas, eu acho que tenho medo. Por isso eu queria que você me ajudasse a superar isso.
Gabriel parecia confuso.
— Eu? Não, espera. Por que eu? E sua amiga Verônica?
— Então... Ela sempre está muito ocupada ultimamente. E o outro amigo que eu tenho além dela, é você. Acho. Porque até agora, eu não “saquei” o nosso relacionamento. Acredito que seria algo como amizade. E tirando a Verônica, você seria a pessoa mais tirana que eu conheço.
Gabriel riu, não sabendo se ficava irritado ou apenas achava graça daquilo.
— Tirana?
— Sim. Você não seria do tipo que passa a mão na minha cabeça e tenta me acalmar. Você diria algo como: “Deixa de ser mimada garota e pisa nesse acelerador!”. Algo assim. Neste momento, preciso de alguém desse tipo.
— Ok, embora eu também ainda não tenha “sacado” o que somos um para o outro exatamente, não custa nada ajudar com isso. E já que perdi meu sono de domingo...
Gabriel e Viviane entraram no carro. Ele conduziu o carro para fora, em uma rua próxima à mansão. Depois saiu e disse para Viviane pegar o local do motorista, enquanto ele ficava do lado de fora.
— Pronto, agora é sua vez.
Viviane entrou no lado do motorista e se preparou. No entanto, assim que ligou o carro e pegou na direção, as imagens do acidente vieram à sua cabeça. Gabriel que estava do lado de fora apenas observava.
— E então?
— Eu... Não consigo. – disse meio sem jeito - É como se fosse acontecer tudo de novo. – sorriu um pouco sem graça.
Gabriel suspirou.
— Você devia pedir ajuda profissional, sério. Eu não sou psicólogo. Se continuar assim, apenas vai piorar. É a melhor alternativa. – disse ele, se afastando do carro a pé.
Viviane desceu do carro e correu em direção a ele. Ela pegou no braço dele.
— Por favor, Gabriel. Hum? Eu sei que você não é psicólogo, mas, por alguma estranha razão, eu me sinto mais segura perto de você. Vamos tentar, certo? Eu prometo que eu vou conseguir.
Gabriel notou que a mão de Viviane estava gelada e ela estava tremendo. Era evidente que ela estava apavorada. Mas conhecendo-a durante algum tempo, sabia que não iria admitir.
— Você tem certeza? Acho que não é um problema tão fácil de superar assim.
— Não é como se eu não tivesse tentado outras vezes sozinha, mas eu sei que se você estiver aqui, eu consigo. – disse determinada.
Gabriel olhou nos olhos de Viviane, ela realmente parecia determinada.
— Tudo bem, mas se não conseguirmos, você vai ter que pedir ajuda profissional, ok?
— Certo. – disse sorrindo, o que deixou Gabriel meio sem jeito. Obviamente, ele pensou que já tivesse superado seus sentimentos iniciais por ela, mas parece que estava enganado.
Os dois voltaram para o carro. Dessa vez, Gabriel ia ao lado dela. Viviane respirou fundo umas duas vezes. Pegou na direção do carro e ligou. Gabriel podia ver sua respiração pesada e o esforço que fazia. Demorou alguns segundos até que pisasse lentamente no acelerador. De repente, aquelas imagens surgiram e ela deu uma freada brusca.
— Você está bem? – perguntou Gabriel, vendo a palidez no rosto dela. – Acho que é melhor...
— Está tudo bem. – disse sem olhar para o rapaz – De novo.
Viviane tentou mais duas vezes sem êxito. Ela parecia exausta.
— De novo. – disse pela quarta vez, tentando sem sucesso.
— Acho que precisamos desistir. – disse Gabriel por fim.
— Não! Se eu desistir agora, vai se tornar cada vez mais difícil. Eu preciso conseguir fazer isso hoje. – disse resoluta.
Gabriel sorriu.
 — Ok, então, vá em frente. Mesmo se eu falar para não ir, você vai mesmo assim. É a garota mais teimosa que eu já conheci. – disse, fazendo Viviane rir daquele meio-elogio.
Viviane respirou fundo novamente e se preparava para dar a partida mais uma vez, quando sentiu que Gabriel a segurou gentilmente pelo pulso, enquanto a olhava fixamente. Ela respirou fundo mais uma vez e continuou. Quis parar, mas a mão quente de Gabriel lhe dava a sensação de que tudo estaria bem.
Aos poucos, ela dirigia novamente. Um pouco lento até que atingiu uma boa velocidade. Por fim, parou o carro depois de andar alguns quarteirões.
— Eu consegui! Gabriel! Eu consegui! – exclamou entusiasmada, enquanto Gabriel a observava contente. – Eu realmente consegui, não é?
Gabriel sorriu. De fato, ela tinha conseguido.
— Agora que minha tarefa terminou, eu posso aproveitar meu domingo.
Viviane sorriu.
— Obrigada. – disse com um sorriso radiante – Muito obrigada mesmo. Eu sabia que eu conseguiria se tivesse alguém como você aqui. Eu não estava enganada.
De repente, Gabriel redescobriu o porquê de ter gostado de Viviane até aquele momento. Não importa o quanto ela era mimada e muitas vezes irritante, ela também poderia ser sincera com as outras pessoas. Era por isso que ele gostava tanto dela. Sim, ele realmente ainda gostava dela.

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