O
conto abaixo é da autoria de Malba Tahan.
Para
maiores informações sobre o autor, favor acessar: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/bibliotecas/bibliotecas_bairro/bibliotecas_m_z/malbatahan/index.php?p=5255.
Boa
leitura!
OS
TRINTA E CINCO CAMELOS
Poucas
horas havia que viajávamos sem interrupção, quando nos ocorreu uma aventura
digna de registro, na qual meu companheiro Beremiz, com grande talento, pôs em
prática as suas habilidades de exímio algebrista.
Encontramos,
perto de um antigo caravançará meio abandonado, três homens que discutiam
acaloradamente ao pé de um lote de camelos. Por entre pragas e impropérios,
gritavam possessos, furiosos:
—
Não pode ser!
—
Isto é um roubo!
—
Não aceito!
O
inteligente Beremiz procurou informar-se do que se tratava.
—
Somos irmãos — esclareceu o mais velho — e recebemos como herança esses 35
camelos. Segundo a vontade expressa de meu pai, devo eu receber a metade, o meu
irmão Hamed Namir uma terça parte, e ao Harim, o mais moço, deve tocar apenas a
nona parte. Não sabemos, porém, como dividir dessa forma 35 camelos. A cada
partilha proposta, segue-se a recusa dos outros dois, pois a metade de 35 é 17
e meio! Como fazer a partilha, se a terça parte e a nona parte de 35 também não
são exatas?
—
É muito simples — atalhou o “homem que calculava”. — Encarregar-me-ei de fazer
com justiça essa divisão, se permitirem que eu junte aos 35 camelos da herança
este belo animal, que em boa hora aqui nos trouxe.
Neste
ponto, procurei intervir na questão:
—
Não posso consentir em semelhante loucura! Como poderíamos concluir a viagem,
se ficássemos sem o nosso camelo?
—
Não te preocupes com o resultado, ó “bagdali”! — replicou-me, em voz baixa,
Beremiz. — Sei muito bem o que estou fazendo. Cede-me o teu camelo e verás, no
fim, a que conclusão quero chegar.
Tal
foi o tom de segurança com que ele falou, que não tive dúvida em entregar-lhe o
meu belo jamal, que imediatamente foi reunido aos 35 ali presentes, para serem
repartidos pelos três herdeiros.
—
Vou, meus amigos — disse ele, dirigindo-se aos três irmãos — fazer a divisão
justa e exata dos camelos, que são agora, como vêem, em número de 36.
E
voltando-se para o mais velho dos irmãos, assim falou:
—
Deves receber, meu amigo, a metade de 35, isto é, 17 e meio. Receberás a metade
de 36, ou seja, 18. Nada tens a reclamar, pois é claro que saíste lucrando com
esta divisão.
Dirigindo-se
ao segundo herdeiro, continuou:
—
E tu, Hamed Namir, devias receber um terço de 35, isto é, 11 e pouco. Vais
receber um terço de 36, isto é, 12. Não poderás protestar, pois tu também
saíste com visível lucro na transação.
E
disse, por fim, ao mais moço:
—
E tu, jovem Harim Namir, segundo a vontade de teu pai, devias receber uma nona
parte de 35, isto é, 3 e pouco. Vais receber um terço de 36, isto é, 4. O teu
lucro foi igualmente notável. Só tens a agradecer-me pelo resultado.
Numa
voz pausada e clara, concluiu:
—
Pela vantajosa divisão feita entre os irmãos Namir — partilha em que todos os
três saíram lucrando — couberam 18 camelos ao primeiro, 12 ao segundo e 4 ao
terceiro, o que dá um total de 34 camelos. Dos 36 camelos sobraram, portanto,
dois. Um pertence, como sabem, ao “bagdali” meu amigo e companheiro; outro, por
direito, a mim, por ter resolvido a contento de todos o complicado problema da
herança.
—
Sois inteligente, ó estrangeiro! — confessou, com admiração e respeito, o mais
velho dos três irmãos. — Aceitamos a vossa partilha, na certeza de que foi
feita com justiça e equidade.
E
o astucioso Beremiz — o “homem que calculava” — tomou logo posse de um dos mais
belos camelos do grupo, e disse-me, entregando-me pela rédea o animal que me
pertencia:
—
Poderás agora, meu amigo, continuar a viagem no teu camelo manso e seguro.
Tenho outro, especialmente para mim.
E
continuamos a nossa jornada para Bagdá.
(Malba
Tahan, Seleções - Os melhores contos – Conquista, Rio, 1963)
Fonte:
http://contosbemcontados.blogspot.com.br/2008/06/os-trinta-e-cinco-camelos-malba-tahan.html.
Esse conto me fez lembrar meus tempos de escola. Quase todo ano havia um conto de Malba Tahan no livro de Português. Muito bom!
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