O
conto abaixo é de autoria de Chico Anysio.
Para
maiores informações sobre o autor, favor acessar: https://www.ebiografia.com/chico_anysio/.
Boa
leitura!
A
BORBOLETA CINZENTA
Dentre
milhões de borboletas coloridas, houve um tempo em que havia uma borboleta
inteiramente cinzenta. Todas as outras tinham nas asas os mais lindos tons de
vermelho, laranja, roxo, amarelo, azul e dourado. Uma única borboleta era toda
cinzenta. Absolutamente cinzenta.
—
Cinzinha, por que você é assim, toda cor de cinza?
—
Ora. O que é que tem ser cor de cinza?
—
Nada. É que eu acho engraçado. Nós temos cores maravilhosas nas asas. Não são
coloridas? E você é toda cinza…
—
É, sou.
Dizia
"é, sou", fingindo não se importar. Mas por dentro Cinzinha bem que
lamentava a cor cinza e triste das suas asas.
Daí,
a inveja começou a crescer dentro dela. Uma inveja enorme das borboletas
coloridas. Fazia de conta que não ligava, mas à noite Cinzinha chorava por causa
do triste e feio tom das suas asas. Já nem gostava quando a chamavam de
Cinzinha.
—
Meu nome é Bórbola!
Nem
adiantava o que a mãe dizia, querendo ajudá-la a aceitar as asas cinzentas:
—
Nenhuma outra borboleta é cinzenta assim… só você. Não entende, Cinzinha? Só
você é assim.
—
Mas eu não gosto. E meu nome é Bórbola.
Um
dia, o dia amanheceu feio e nublado. Cinzinha, que não tinha amigas, saiu
sozinha para o seu passeio diário. Pousou numa parede, dali voou para uma rosa,
parou num fio de corda esticado num quintal e, de repente, entrou numa igreja.
—
Engraçado…
O
que ela achava engraçado era o fato de o padre da igreja ser preto. Cinzinha,
até então, nunca vira um padre que não fosse branco, italiano ou holandês.
Aquele era preto. E tinha um sorriso aberto. Ria a cara toda, quando ria. Era
diferente dos outros padres, mas muito, muito feliz.
Pousada
na imagem de Nossa Senhora, Cinzinha começou a entender que a cor das suas asas
era como a cor do rosto do padre: não tinha a menor importância.
Era
como se o padre também tivesse asa cinzenta. E a inveja começou a sair da
borboleta cor de cinza.
Na
mesma hora, o dia, que nascera feio, foi embonitando.
As
nuvens foram indo para a Europa, o sol saiu. Então, os raios do sol começaram a
entrar na igreja.
Passavam
pelo vitrô e faziam um caminho de cores que começava a colorir as asas de
Cinzinha. A cada segundo, ela mais inveja tirava de dentro. Quanto mais inveja
perdia, mais cores lhe vinham às asas.
Na
hora em que saiu da igreja, sem ódio ou inveja, já não tinha as asas cinzentas,
mas com todos os tons de vermelho, azul, roxo, verde, violeta e dourado.
Dizem
que Cinzinha anda triste porque é, hoje, apenas uma borboleta igual às demais,
mas eu não acredito nisso. Nenhuma é, hoje, mais colorida do que ela.
Muito bom esse conto!
ResponderExcluirLindo texto do genial Chico Anysio. Amei ler!
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