O
texto abaixo é de autoria de Walcyr Carrasco.
Para
maiores informações sobre o autor, favor acessar: https://www.ebiografia.com/walcyr_carrasco/.
Boa
leitura!
E
A BOLSA MASCULINA?
Vou
a um encontro formal. Boto paletó e gravata. E começo a encher os bolsos:
chaves, celular, caneta, cartões de crédito e de visita, carteira, documentos
pessoais e do carro, talão, óculos de sol, lenço, iPod — ninguém é de ferro. Em
minutos meu terno estufa. O botão do paletó não fecha por causa do celular. Meu
traseiro fica quadrado devido aos documentos acomodados nos bolsos de trás. A
calça, por causa do peso, escorrega pela barriga, que salta sobre o cinto! E
minha elegância desaparece! Pior: dali a pouco tudo se confunde. Para achar
algum desses itens, vasculho o interior de minhas roupas com os dedos. Vou
pegar a caneta e retiro as chaves.
O
vestuário masculino tornou-se obsoleto, essa é a verdade. As sortudas das
mulheres têm as bolsas. A bolsa feminina equivale à caixa-preta do avião. Só se
sabe o que há lá dentro após uma investigação minuciosa. São itens variados,
que vão de maquiagem a tíquetes de passagens antigas e fotos de entes queridos
amassadas. Mas é confortável. A proprietária de uma bolsa enfia o que quiser lá
dentro. Resgata quando houver necessidade. Mesmo se for preciso espalhar o
conteúdo no sofá. E, em casos extremos, chamar o Corpo de Bombeiros!
A
bolsa masculina já esteve em moda. Não me refiro à época dos hippies barbudões
com horrendos artefatos de couro cru e sandálias nos pés. Houve um tempo em que
homens usavam bolsas elegantes. Recheadas de inutilidades, mas, apesar dessa
contradição, úteis. Grandes grifes ainda produzem bolsas masculinas. Poucos as
usam.
As
pochetes são práticas, mas ganharam fama de cafonas. Confesso: tenho horror!
Existe imagem mais brega do que a de um barrigudo com o botão aberto no umbigo
e uma pochete estufada no cinto?
Os
executivos preferem as pastas. Elas costumam oferecer compartimentos para
laptop, documentos variados, bloco de notas, remédios, três ou quatro
celulares, enfim... tudo! Tais quais as bolsas femininas, abrigam mistérios. Só
são esvaziadas de tempos em tempos, diante de uma ameaça de divórcio, por
exemplo. Com frequência, moscas, vespas e até aranhas secas são encontradas
entre a papelada.
Pastas
são sérias demais. Não combinam com um jeans informal, uma camiseta leve e
tênis. E o pior: é muito fácil esquecê-las. Ou vê-las arrebatadas pelas mãos de
um larápio. Hoje em dia, perder um laptop ou celular pode se transformar em
prejuízo irremediável. Vão embora os contatos comerciais, endereços, enfim... a
vida toda!
Alguns
preferem mochilas. Executivo de terno e gravata com mochilinha de lona nas
costas é uó. Livros, laptop, documentos, perfumes, desodorantes, cuecas limpas
e até sujas no caso de viagens rápidas lutam para se acomodar dentro da lona.
Eu já imagino: o executivo marca uma reunião com o presidente de um banco para
pedir um empréstimo. Vai pegar o laptop para mostrar o projeto. E retira uma
cueca, a escova e a pasta de dentes!
Os
papas da moda masculina vivem discutindo o número de botões de paletós, a
largura das lapelas, se as barras são para dentro ou fora. Redesenham relógios
que se tornam cada vez mais inúteis em um mundo onde se veem as horas no
celular. Mas ninguém propõe uma solução radical para a roupa do homem.
A
volta da bolsa é apenas um item. Enquanto a moda feminina evolui e se transforma
a cada ano, a masculina marca passo. Olho as vitrines dos shoppings e tudo é
semelhante ao ano passado. Fico pensando: quando algum estilista oferecerá uma
mudança radical, capaz de fazer a cabeça de todos nós e tornar o traje
masculino realmente prático e confortável?
Amei a crônica! Sempre fico penalizada ao ver os homens com os bolsos cheios de coisas que seriam facilmente carregadas numa única bolsa rsrsrs.
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