O
texto abaixo é de autoria de Carlos Eduardo Novaes.
Para
maiores informações sobre o autor, favor acessar: enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa644/carlos-eduardo-novaes.
Boa
leitura!
A
INFORMAÇÃO VESTE HOJE O HOMEM DE AMANHÃ
Pelé
tinha razão ao pedir pelos microfones – no dia em que marcou seu milésimo gol –
que se cuidasse mais das criancinhas. Realmente é necessário mais cuidado com
elas. Eu conheço muita criancinha que já nada lendo a Playboy.
Não,
meus caros, as criancinhas não mais aquelas. Estão perdendo rapidamente a
infância. E a prosseguir nesse ritmo, daqui a pouco com cinco anos já serão
adolescente. Há pouco tempo, remexendo o passado, dei de cara com um pião,
velho companheiro de brincadeiras de rua. Sem saber o que fazer com ele resolvi
dar de presente para o filho do porteiro. O garoto pegou-o, examinando-o sem
muita animação e me perguntou insensível:
-
O que é isso?
Seu
pai que se aproximava respondeu: um pião. E esquecendo-se por um momento de
suas funções na portaria apanhou o brinquedo, agachou-se e numa animação quase
infantil ficou tentando solta-lo. O filho, em pé, olhou-o fixo, virou-se para
mim e assumindo um ar critico comentou:
-
Olha aí – disse apontando para o pai abaixado- parece um débil mental.
Segundo
educadores, as mudanças decorrem do fato de as crianças da década crescerem
muito bem informadinhas. Um jornal publicou uma matéria baseada em pesquisa
realizada entre crianças de 3 a 15 anos (se é que hoje ainda se pode chamar um
cidadão de 15 anos de criança) cujo titulo era: “Como se está fazendo o homem
de amanhã”. Eu particularmente creio que o homem do amanhã continua sendo feito
com os mesmos ingredientes com que se fazia o homem de ontem, ou seja: um homem
e uma mulher, que devem ser temperados com uma pitada de amor antes de levados
ao forno. Mas não é isso que interessa. Num determinado trecho, a reportagem
dizia: “O menino André Luiz, de quatro anos, viu pela TV a chegada do homem a
lua. Achou o fato natural, pois estava informado sobre os preparativos e podia
descrever perfeitamente o módulo lunar. Sabia de cor o nome dos astronautas e
discutia sobre as possibilidades de o homem chegar a marte”. Os senhores estão
sentido o drama? André Luiz sabia mais sobre o espaço do que qualquer
datilografo da NASA.
A
pesquisa revela também que as novas crianças preferem novelas e outros tipos de
programa aos feitos especialmente para classe. Outro dia fui a casa do vizinho
pedi gelo, e ao chegar assisti a maior discussão entre ele e o filho de cinco
anos diante da televisão. Meu vizinho querendo ver desenhos animados e seu
filho interessado no National Geographic.
Antigamente
os campos eram bem definidos: as crianças de um lado e os adultos do outro.
Agora não há mais fronteiras. As crianças invadiram e tomam de assalto mundo
dos adultos. Eu me lembro do dia em que, com quatro ou cinco anos, meu pai me
levou ao Jóquei Clube. Paramos ali junto ao padoque e pela primeira vez vi um
cavalo de perto. Excitado com a novidade, depois de um esforço – se vocês me
permitem: cavalar -, o máximo que consegui perguntar ao meu pai era o que o
cavalo comia. Pois bem, ontem voltei com meu sobrinho de seis anos ao
hipódromo. Recostamos no padoque perto de um cavalo castanho e eu me recordei
da cena com o meu pai. Imaginando que o garoto poderia me fazer a mesma
pergunta, antecipei-me com um certo orgulho e fui logo lhe informando que “o
cavalo come aveia, alfafa e cenoura”. Quando acabei de falar, o menino me
lançou um olhar enfastiado e disse:
-
O que o cavalo come, eu já sei, tio. Agora estou interessado em saber é quanto
ela vai pagar na ponta.
Bem assim, as crianças de hoje sabem muito mais do que eu, de vez em quando fico chocada rsrs. Amei ler!
ResponderExcluirMuita boa essa crônica, bem verdadeira!
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