O
texto abaixo é de autoria de Mário Prata.
Para
maiores informações sobre o autor, favor acessar: https://www.ebiografia.com/mario_prata/.
Boa
leitura!
BIDU
Tem
palavras que somem. Expressões desaparecem. Para onde foram?
Cartear
marra é uma delas. Usadíssima nos anos 60, não vejo ninguém mais carteando
marra. Quantas vezes nós, adolescentes, nos bailinhos, ao vermos alguém de
outra cidade querendo dançar com as nossas meninas, chegávamos perto: não vem
cartear marra aqui, não. Cartear marra era querer ser metido a gostoso.
Hoje,
décadas depois, vou ao dicionário. Cartear significa também chutar. E marra,
coragem. Portanto a expressão estava correta: fingir coragem. E, cá entre nós,
naquele tempo todo mundo carteava marra.
Outra
genial: par de besta. Tipo assim: o cara veio com par de besta pra cima de mim
e eu sai na porrada. E eu nunca entendia porque o sujeito com um par de besta
(o animal, claro), significava que era todo valentão. O que é que a besta tinha
a ver com valentia?
Mas
hoje, descobri. O primeiro significado da palavra besta é uma arma, uma espécie
de arco para atirar setas. Portanto, o cara que vinha com par de besta, vinha
armado, vinha para agredir, para ofender.
Por
outro lado, e ainda mais bestial, o interessante é que o sujeito metido a besta
era o metido a gostoso, a bonitão, a conquistador. Aqui, no caso, nunca entendi
o porque da besta. Se você for metido a besta, me explique.
E
tinha uns mais valentões que vinham com par de besta cartear marra. Geralmente
eram mais fortes que nós e a gente se danava (a palavra não é bem esta) em
verde e amarelo. E eles tiravam as nossas minas para dançar. Justamente a que
estava de tomara-que-cai e havia nos prometido dar-tábua nele. Depois ela me
explicaria: queria o quê? Que eu tomasse chá de cadeira? Você já imaginou o que
significa levar-tábua e tomar chá-de-cadeira? Nem que a vaca tussa você sabe. E
o gostosão com a nossa menina nos achando bola-murcha.
Mas
uma que eu nunca entendi mesmo – até hoje – é mixar o carbureto. Passei a manhã
de hoje olhando dicionários, dando uns telefonemas e nada. Se alguém aí souber
a origem, me diga. A expressão era usada – e muito mesmo – quando a coisa –
qualquer coisa – não dava certo. Se dizia: mixou o carbureto. Será que a origem
seria acabar o gás? Pode ser?
E
o cara que era café-com-leite, lembra? Também não tem o menor sentido.
Café-com-leite era aquele sujeito quer não contava, que não sabia fazer nada.
Podia estar a mais num time de futebol, podia dançar com as minas. Café com
leite era quase um bobo.
Naquela
época não tinha pêr-répis, a não ser se você fosse gilete. A gente saía para
encher o picuá dos outros e qualquer problema, novesfora-zero.
Mas
o que mais me irritava, na adolescência, era a minha irmã mais velha achar que
eu era inocente. Já tinha uns doze anos e ela dizia que eu era inocente. E olha
que eu já era culpadíssimo!
Me
desculpe cartear tanta marra…
Gostei muito dessa crônica, mas com algumas expressões daí, vou ter que me valer de um bom dicionário rsrs.
ResponderExcluirGostei da crônica!
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