O
texto abaixo é de autoria de Luís Fernando Veríssimo.
Para
maiores informações sobre o autor, favor acessar: https://www.ebiografia.com/luis_fernando_verissimo/.
Boa
leitura!
VIDA
EM MANCHETES
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Viu só? Caiu outro avião.
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É. Desta vez foram 85 mortos.
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Já tomei uma decisão: nunca mais entro em avião.
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Bobagem.
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Bobagem é morrer.
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Então não entra mais em carro, também. Proporcionalmente, morrem mais pessoas
em acidentes de...
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Mas não entrar em automóvel eu já tinha decidido há muito tempo! Você não notou
que eu ando mais magro? É de tanto caminhar.
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Você caminha por onde?
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Como, por onde? Pela calçada, ué.
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Dá todo dia no jornal. “Ônibus desgovernado sobe na calçada e colhe pedestre.
Vítima tinha jurado nunca mais entrar em qualquer veículo.” A chamada ironia do
destino.
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Quer dizer que calçada...
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É perigosíssimo...
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O negócio é não sair de casa.
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E, é claro, mandar cortar a luz.
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Por que cortar a luz?
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Pensa num dedo molhado e distraído na tomada do banheiro. “Caiu da escada
quando trocava lâmpada. Fratura na base do crânio.”
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Está certo. Corto a luz.
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“Tropeça no escuro e bate com a têmpora na quina da mesa. Morte instantânea.” E
você vai cozinhar com quê?
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Gás.
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Escapamento. “Vizinhos sentiram cheiro de gás e forçaram a porta: era tarde.”
Ou: "Explosão de botijão arrasa apartamento.”
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Fogareiro a querosene.
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“Tocha humana! Morreu antes que...”
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Comida enlatada fria.
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Botulismo.
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Mando comprar comida fora.
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Espinha de peixe na garganta. Ossinho de galinha na traquéia. “Comida
estragada, diarréia fatal!”
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Não preciso de comida. Vivo de injeções de vitamina...
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Hepatite...
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... e oxigênio
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Poluição. “Autópsia revela: pulmão tava pior que saco de café.” Estrôncio 90
francês.
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Vou viver no campo, longe da poluição, do trânsito...
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Picada de cobra. Coice de Mula. Médico não chega a tempo.
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Não saio mais da cama!
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Está provado: 82 por cento das pessoas que morrem, morrem na cama. Não há como
escapar.
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Mas eu escapo. A mim eles não pegam. Tenho um jeito infalível de escapar da
morte.
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Qual é?
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Eu vou me suicidar.
Coitado, que medroso e influenciável! E o outro, mui amigo kkkkkk. Gostei muito de ler.
ResponderExcluirRi muito com essa crônica kkkkkkkkkk
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