A crônica abaixo é da autoria de Juca
Kfouri.
Para maiores informações sobre o autor,
favor acessar: http://www.museudatv.com.br/biografias/Juca%20Kfouri.htm.
Boa leitura!
O DIA EM QUE A CAÇA CONSOLOU O CAÇADOR
NO PACAEMBU
Dois alvinegros, Santos e Botafogo,
faziam os grandes jogos dos anos 60. Pelé x Garrincha, fora outros gigantes dos
dois timaços.
Num desses jogos, em São Paulo, os
cariocas fizeram uma exibição inesquecível e, estranhamente, pouco badalada nos
embates entre os dois melhores times do país naquela época. Aliás, sempre que
se fazem referências aos jogos entre Botafogo e Santos daqueles tempos, só são
lembradas as vitórias santistas, as goleadas de Pelé & Cia. Pois o Pacaembu
estava lotado para ver mais uma.
Pelé e Mané estavam em campo, mas o
diabo estava era no corpo que vestia a camisa sete, não a dez. O
lateral-esquerdo Dalmo, do Santos, viveu uma tarde de terror. Garrincha pegava
a bola e, andando, levava Dalmo até dentro da grande área, onde o zagueiro não
podia fazer falta.
O Pacaembu não acreditava no que via: um
ponta andar desde a intermediária até a área sem que o lateral tentasse tirar a
bola, temeroso do drible desmoralizante. Até que Dalmo percebeu que tinha
virado motivo de chacota dos torcedores, muitos dos quais nem santistas eram,
mas que iam ao campo na certeza do espetáculo.
E Dalmo resolveu bater antes de chegar à
grande área. Bateu uma vez, Garrincha caiu, o árbitro marcou a falta e
repreendeu o paulista. Bateu outra vez, Garrincha voltou ao chão, o árbitro
marcou a falta e ameaçou Dalmo de expulsão, porque naquele tempo o cartão
amarelo não existia.
A terceira falta de Dalmo foi a mais
violenta, como se ele estivesse pensando: "Arrebento essa peste, sou
expulso, mas ele não joga mais".
Pensado e feito. Enquanto o gênio das
pernas tortas estava estirado no bico direito da área dos portões principais do
Pacaembu, o árbitro determinava a expulsão de Dalmo, cercado por botafoguenses
justamente irados com seu gesto.
Eis que, como um acrobata, Garrincha
levanta-se, afasta seus companheiros, bota o braço esquerdo no ombro de Dalmo e
o acompanha até a descida da escada para o vestiário, que, então, ficava
daquele lado.
Saíram conversando, como se Garrincha
justificasse a atitude, entendesse que, para pará-lo, não havia mesmo outro
jeito.
O Botafogo ganhou de 3 a 0 e saiu
aplaudido do estádio. Tinha visto uma autêntica exibição do Carlitos do
futebol, digna mesmo de Charles Chaplin, divertida, anárquica, humana,
sensível, solidária.
Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/fundamental-2/dia-caca-consolou-cacador-pacaembu-634358.shtml.
Que bela crônica! Gostei muito!
ResponderExcluirFutebol não é minha praia!
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