Capítulo
30
Fabrício
não conseguia acreditar no que estava vendo.
— O que o
senhor está fazendo aqui? – perguntou com certa irritação na voz, olhando para
o pai que permanecia na sua frente.
O Dr.
Eduardo olhou passivo para o filho.
—É assim
que você fala com o seu pai?
Fabrício
pareceu ficar um pouco envergonhado e abriu a porta para que Eduardo entrasse,
voltou a sentar-se no estofado e ligou a televisão.
— Se veio
aqui para me fazer voltar para casa, o senhor perdeu seu tempo. Não tenho
nenhum interesse nisso.
Dr.
Eduardo permaneceu em pé.
— E você
pretende ficar bancando o rebelde até quando? Não tem nem como se sustentar. Vai
chegar a hora que o dinheiro que tem vai acabar. – disse, mantendo a sua
seriedade habitual.
Fabrício
desligou a televisão e levantou-se.
— E o que
o senhor quer? – disse olhando para o pai. – Quer que eu volte para aquela casa
e a ser controlado pelo senhor, tendo que dar satisfações de tudo o que eu
faço? Não sou mais uma criança para isso. – e sentando-se novamente. – Não.
Obrigado.
O Dr.
Eduardo permaneceu calado por um instante.
— Estou
lhe dando uma última oportunidade. Apenas diga onde foi parar aquele dinheiro e
também o seu carro e poderá voltar para casa. E terá todas as mordomias que
você sempre teve.
Fabrício
riu irritado.
— Eu já
disse. Não vou dizer. Por que insiste tanto nisso? – e olhando para o pai. – Afinal, por que o
senhor está aqui mesmo?
Nesse
momento, Verônica apareceu na porta, que ainda estava aberta.
—Oi, Fabrício!
– e percebendo que o clima não parecia muito bom. – Vocês já estão discutindo
de novo? – perguntou ela, olhando para ambos.
Fabrício
e Eduardo permaneceram calados.
— Não sei
por que vim para cá. – disse Eduardo, saindo. – Eu fiz isso apenas por que sua
irmã insistiu muito, mas acho que foi uma completa perda de tempo. – completou,
saindo.
Fabrício
permaneceu calado, enquanto a irmã o observava.
— Eu não
acredito... – disse ela, entrando. – Você sabe quanto trabalho deu para eu trazê-lo
para cá? – disse, parecendo decepcionada. – Pensei que você fosse aproveitar
essa oportunidade e fazer as pazes com ele.
— Não
pedi para você fazer isso! – disse Fabrício, interrompendo-a. – Por que você
faz essas coisas inúteis?
Verônica
pareceu magoada.
— O quê?
Eu quero que vocês se dêem bem e você chama isso de coisa inútil? Vocês são pai
e filho, não deveriam se tratar assim!
Fabrício
levantou-se.
— Para
Verônica! – disse, indo para a cozinha e sendo acompanhado pela irmã.
— Por
quê? Não acha que essa briga já foi longe demais? Se a mamãe estivesse viva,
ela se sentiria muito triste.
Fabrício
olhou para a irmã.
— Mas a
mamãe não está viva e você devia é parar de se meter na vida dos outros!
Verônica
pareceu surpresa, ia dizer algo, mas ficou calada por um instante.
— Tem
razão. Eu sou a intrometida aqui. – disse ela, quebrando o silêncio e, logo
depois, saindo.
Fabrício
foi atrás da irmã.
— Você
sabe que eu não quis dizer isso... Estou irritado, não precisa fazer cena. –
disse – Sei que você quer muito que a gente se dê bem e tudo... Mas não dá
Verônica. Nosso pai é muito controlador.
Verônica
riu-se.
— Por
quê? – perguntou – Por que ele quer saber onde foi parar aquele dinheiro?
Fabrício
permaneceu em silêncio.
— Você
não acha que ele tem o direito de saber? – continuou. – Ele não está pedindo o
dinheiro de volta... Só quer saber o que você fez com ele.
— E por
que essa insistência?
Verônica
riu, não acreditando na pergunta do irmão.
— Será
que você não percebe? O papai só está preocupado com você... Será que ainda não
percebeu mesmo?
Fabrício
ficou confuso.
— Do que
está falando?
— Pensa
Fabrício... Você transferiu todo aquele dinheiro para alguma coisa que não
sabemos o que é e que você também não quer dizer. Seu carro desapareceu e você
nem sequer fez o B.O. de roubo ou sei lá o quê... Mas tirando isso... Esse
dinheiro saiu da nossa conta para uma conta que não sabemos qual é. Entende o
que quero dizer?
Por um
momento, Fabrício ficou pálido. Não tinha certeza para qual conta havia mandado
o dinheiro, afinal, no momento da transferência estava muito nervoso para notar
certos detalhes. Poderia ser uma conta que não se poderia rastrear, mas se esse
não fosse o caso, poderia haver complicações para o seu lado.
— Não se
preocupe... – disse ele, tentando disfarçar o receio – Tenho certeza que não
vai haver nenhuma complicação.
— É isso
que eu espero, Fabrício. – disse ela, saindo.
***
No dia
seguinte, Viviane foi à faculdade, estava atrasada e saiu sem tomar o café da
manhã. No intervalo, encontrou-se com Verônica.
— E aí,
Viviane! – disse Verônica, sentando-se ao lado de Viviane, que comia na
lanchonete.
— O que
foi?
Verônica
pareceu intrigada.
—O que
foi o quê?
Vivi
olhou para a amiga curiosa.
— Por que
você está assim? Parece que as coisas não estão muito bem...
Verônica
suspirou.
— Não sei
como você consegue adivinhar...
A garota
riu.
— É
fácil. Você raramente me chama de Viviane. – e olhando para a amiga. – Mas o
que aconteceu?
Verônica
suspirou novamente.
— Ontem,
consegui levar o meu pai no apartamento do Fabrício. Você sabe o trabalho que
me deu para eu levá-lo lá? Resultado: os dois discutiram de novo.
— E o que
você queria? Fabrício e o seu pai têm o mesmo temperamento. Não é à toa que eles
são pai e filho. – e com o tom de voz um pouco mais baixo. — Mas, me diz uma
coisa, ainda é por causa daquele dinheiro? – perguntou intrigada.
Verônica
balançou a cabeça afirmativamente.
—
Eu não sei por que o Dr. Eduardo não deixa esse assunto de lado... – continuou
Vivi. - Afinal, aquele valor não é lá essas coisas...
— Para
você, minha querida. – objetou Verônica. – Se ele tivesse aparecido com algo,
comprado alguma coisa, tudo bem, eu ficaria calada. Mas um dinheiro desses
sumir do nada? E o carro dele? Eu, sinceramente, estou preocupada com meu
irmão. E, além disso, acho que meu pai sabe de alguma coisa... Ele se deixou
convencer muito fácil a encontrar meu irmão.
Viviane
olhou curiosa para a amiga.
— O que
está pensando?
― Estava
pensando em algo... O meu irmão fez transferência e não o saque...
― Claro,
né, amiga. Quem vai sacar tanto dinheiro assim? Só se você estivesse se
envolvendo com a máfia ou algo do tipo.
― Aí é
que está. O meu irmão pode ser muito esperto para algumas coisas, mas é um
inútil para outras. E se ele se envolveu sem querer em algo ilegal?
― Está
dizendo que ele transferiu dinheiro para uma conta suspeita? – e pensativa –
Mas mesmo que fosse algo ilegal, o que eu acredito que não é, a conta suspeita
seria em algum paraíso fiscal. Então, não teria como seu irmão se comprometer
com nada. Mas, por favor, Fabrício pode ser idiota às vezes, mas não a esse
ponto.
Verônica
suspirou.
― Tem
razão. Nem sei mais o que estou pensando. Mas o fato dele esconder tanto onde
ele gastou esse dinheiro, faz tudo ficar mais suspeito.
— Você...
Você não está realmente pensando que Fabrício se envolveu com algo perigoso,
está?
— Eu não
sei... – disse preocupada. – Eu confio no meu irmão, só não confio muito nas
pessoas com quem ele anda. Tem vezes que o Fabrício é muito ingênuo.
Viviane
balançou a cabeça afirmativamente.
— Isso eu
também acho.
De
repente, Verônica olhou para o relógio e levantou-se.
— Nossa,
a aula já está perto de começar. Vou indo na frente. Ainda tem um material que
eu tenho que pegar. – disse, saindo. – Beijinho.
Verônica
se despediu de Viviane e saiu. A maioria dos alunos também se dirigia para as
salas. Vivi levantou-se também, quando alguém se aproximou. Era Emily.
— Olha
quem vejo... Se não é a herdeira bastarda do Grupo Demontieux.
— O que
você quer? – perguntou Viviane sem qualquer interesse.
Emily
sorriu.
— Nada.
Na verdade, só quero reafirmar que o Gabriel é meu, então, se mantenha longe
dele.
Viviane
riu.
— Você é
louca, garota? Como é que você tem tempo para pensar nessas maluquices? Você
vem do nada e fala isso. Não, definitivamente, você não é normal. Eu já disse
que... – Viviane parou no meio da frase, lembrando-se do que tinha combinado
com Verônica. – Quer saber? Eu não estava nem aí pra isso, mas já que você
insistiu tanto, eu decidi que vou ficar com o Biel.
Emily
ficou de boca aberta.
— Bi...
Biel? Como você ousa chamá-lo assim? Que intimidade é essa?
Viviane
riu.
— Ah,
você não sabia? – disse sorrindo. – Eu e ele fomos prometidos logo quando
nascemos... Isso não é romântico?
Para
surpresa de Vivi, Emily não pareceu ficar muito irritada. Ao contrário, riu.
— Você
acha mesmo que a família Arantes vai permitir que você tenha qualquer tipo de
relacionamento com o Gabriel? Você?
Viviane
ficou séria.
— E o que
é que tem?
— Você? –
Emily sorriu com satisfação. – Esse é o problema, você não tem nada... Você foi
a herdeira do Grupo... No passado. Hoje tudo indica que não passa de uma
bastarda. Não sabe nem quem é o pai... E a sua mãe...
— O que
tem a minha mãe? – perguntou Viviane, parecendo um pouco irritada.
Emily se
aproximou de Viviane e sussurrou-lhe ao ouvido.
— A sua
mãe com certeza é uma vadia que deve ter dado
para qualquer um para segurar a fortuna do seu pai.
Viviane
sentiu o sangue ferver. De repente, quando percebeu já tinha dado uma tapa no
rosto de Emily, deixando a marca dos dedos. Viviane parecia extremamente
irritada.
— Nunca
mais fale assim da minha mãe! Ela não merece ser mencionada por alguém tão
baixa quanto você!
As
pessoas ao redor tinham parado para ver a discussão das duas. De repente,
Gabriel que estava passando foi atraído pela confusão. Ao ver as duas, foi ao
encontro de Emily.
— O que
está acontecendo aqui?
Emily
olhou para Gabriel.
—
Gabriel. – disse ela, mostrando o rosto. – Olha o que ela fez? Essa menina está
totalmente desequilibrada! Só por que eu sou sua amiga. Ela está fora de
controle!
— Mas o
que aconteceu? – perguntou ele novamente e olhando para Viviane. – Por que,
Viviane? Tudo bem que você não goste muito de mim, mas daí descontar nos meus
amigos... Não acha que está passando um pouquinho dos limites?
— Não é
nada disso! Você não sabe o que ela disse. Essa garota é muito baixa. – Viviane
tentou explicar.
Gabriel
olhou sério para Viviane.
— Não
importa. Acho que acima de tudo as pessoas devem conversar civilizadamente. É
verdade que eu fiz brincadeiras com você que podem ter passado dos limites, mas
jamais partiria para a agressão física. E minhas brincadeiras sempre foram
direcionadas a você, nunca a outras pessoas.
— Mas,
Gabriel, você não está entendendo! Essa garota é uma fingida. Ela está
inventando isso... Não percebe? Ela está manipulando tudo.
— Emily
já havia me dito que você não tinha gostado dela por nós sermos amigos... Mas eu
realmente não acreditei. – e olhando para Emily. – Venha, vamos colocar algum
gelo nisso... – disse, enquanto levava Emily para outro lugar.
— Eu vou
te processar garota, por agressão física. – disse Emily, saindo com Gabriel.
Aos
poucos, as pessoas foram se afastando. Algumas cochichavam enquanto olhavam
para Viviane. De repente, Verônica surgiu afobada.
— O que
foi, Vivi? – disse, se aproximando. – Vim correndo porque disseram que você
estava batendo em alguém...
Viviane
estava séria.
— Não foi
nada. – disse suspirando. – Vou para casa... Acho que não estou me sentindo
muito bem. – disse, deixando Verônica confusa.
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