Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 18
Participam deste capítulo
Ester - Gloria Menezes
Cyro - Tarcisio Meira
Inês - Betty Faria
Baby - Claudio Cavalcanti
Paulus - Emiliano Queiroz
Orjana - Neusa Amaral
Ricardo - Edney Giovenazzi
CENA 1 - MANSÃO DE OTTO MULLER - SALÃO - INTERIOR - NOITE
NA FESTA DE ANIVERSÁRIO DE OTTO MULLER, BABY CONVERSAVA, AFASTADO, COM O DR. RICARDO. BEBIA UMA DOSE DUPLA DE UÍSQUE, OLHANDO O RELÓGIO A CADA INSTANTE. PENSAVA NA BELA GAROTA À SUA ESPERA DENTRO DO AUTOMÓVEL.
BABY - Meu pai quer fazer de mim o presidente da Companhia, quando Otto é o homem talhado para isso.
RICARDO - Não acho! Acho sim, que Otto vai lutar com todas as armas e... vai acabar vencendo. Por isso, rezo pro seu pai não morrer. Seria um desastre total!
O GARÇOM PASSAVA COM A BANDEJA DE BEBIDAS. BABY RECOLHEU OUTRO COPO DE UÍSQUE.
BABY - Então... à saúde do velho! Não nasci pra luta por um cargo, por dinheiro, por uma posição qualquer... Acho idiota tudo isso. Pra mim, ser presidente da Companhia ou não ser nada é exatamente a mesma coisa. Porque só tem sentido na vida a gente não se amarrar a nada... Liberdade! Liberdade!
CORTA PARA:
CENA 2 - MANSÃO DE OTTO MULLER - RUA - EXTERIOR - NOITE
INÊS TINHA-SE CANSADO DE AGUARDAR O NAMORADO DENTRO DO CARRO E DECIDIRA SAIR UM POUCO. E ATRAÍDA PELA BALBÚRDIA, GENTE, CARROS, LUZES, ACABOU SURGINDO NO PORTÃO DA MANSÃO, VESTIDA COM SIMPLICIDADE – SANDÁLIAS, BLUSA DE MALHA E UMA SAIA CURTA, RODADA, SEM MEIAS OU QUALQUER TIPO DE JOIA. NO CABELO, APENAS UM ARRANJO SIMPLES, QUE O REUNIA, EM COQUE, ATRÁS DA CABEÇA.
O PORTEIRO BARROU-A À ENTRADA. RICARDO A RECONHECEU DE LONGE, ENQUANTO A MOÇA SE JUSTIFICAVA.
INÊS - Tou procurando um rapaz que entrou aqui...
RICARDO - (apontou para a porta) Aquela moça... não é possível... parece a filha de um pescador que eu conheço!
BABY - (volveu o pescoço e caiu em si) Nossa! Eu esqueci Inês! (depositou o copo no canto de uma pilastra e correu na direção da jovem) Meu bem!
INÊS - (de cara amarrada) Você enchendo a cara com essas grã-finas e eu lá dentro do carro feito uma palhaça!
BABY - Desculpe, amorzinho. Eu me distraí.
BABY ABRAÇOU-A DIANTE DA CARA ESPANTADA DO PORTEIRO. VÁRIAS PESSOAS OLHAVAM ADMIRADAS A CENA. BABY E A JOVEM, INDIFERENTES A TUDO E A TODOS, DISCUTIAM NA PORTA.
INÊS - (zangada) Que é que tão olhando? Será que eu tou com o vestido rasgado?
BABY - Vamos embora! Eu já tava mesmo de saída... vamos.
ENTRARAM NO CARRO.
BABY - (ligou o carro e engrenava uma primeira) Pra onde é que a gente vai?
INÊS - Pra casa.
BABY - Já? Puxa! Ainda é cedo!
INÊS - Até chegar a Porto Azul já será meia-noite (bateu com a unha no mostrador verde do relógio do carro) Tou dando a desculpa de estudar de noite, mas tenho medo que o pai vá na escola e descubra a mentira.
BABY - E daí?
INÊS - Daí... ele me mata de pancada. Só.
INÊS ACONCHEGOU-SE AO RAPAZ, AGARRANDO-O PELA CINTURA, AO TEMPO EM QUE ELE A ENVOLVIA COM O BRAÇO DIREITO PELO OMBRO.
BABY - Por quê?
INÊS - Se souber que eu tava com você, então! Ele me mata mais depressa...
BABY - Não entendi.
INÊS - Todo mundo diz que você não presta. Todo mundo sabe que você não namora moça prá casá.
BABY - E só quem namora moça pra casar é que presta?
INÊS - É.
BABY - Quem namora para dar amor, para dar carinho, felicidade... e pra receber amor, carinho e felicidade... não presta?
INÊS - (falou, sincera) Não!
BABY - Então, você também não presta! (concluiu sorrindo e beijando a namorada).
O CARRO SEGUIA EM DISPARADA PELAS RUAS VAZIAS DA CIDADE, ENTREGUE À NOITE.
INÊS - (baixou a cabeça) É. Eu também não presto. Só que eu fui iludida.
BABY - Iludida? Por quem? Não por mim!
INÊS - Não. Por mim mesma. Por um demônio que eu tenho dentro de mim, que me levou até você. E, agora, não tem mais jeito.
BABY FREOU O CARRO COM ESTARDALHAÇO. OS PNEUS RANGENDO NO ASFALTO.
INÊS FOI LANÇADA À FRENTE, MAS O EXÍMIO MOTORISTA NÃO A DEIXOU DESPRENDER-SE DO SEU CORPO. AGARROU-A MAIS FORTEMENTE, COMPRIMINDO OS SEUS LÁBIOS DE ENCONTRO AOS DELA. O BUSTO DA MOÇA ESMAGANDO-SE CONTRA O SEU PEITO.
BABY - Demônio bacana!
BEIJAVA-A, ENQUANTO SUAS MÃOS ACARICIAVAM A CONCHA DE UNS SEIOS DUROS E SOLTOS.
CORTA PARA:
Inês (Betty Faria) e Baby (Claudio Cavalcanti) |
CENA 2 - HOTEL CENTRAL - APARTAMENTO DE CYRO - INTERIOR - NOITE
CYRO MOSTRAVA-SE IMPACIENTE NO APARTAMENTO DO HOTEL E ORJANA SENTIA A PREOCUPAÇÃO QUE MORTIFICAVA O FILHO. AS CENAS DA LUXUOSA RESIDÊNCIA AINDA SE MANTINHAM VIVAS EM SUA MEMÓRIA E A VOZ DE ESTER NÃO LHE SAÍA DOS OUVIDOS.
ORJANA - Meu filho, você está tão agitado...
CYRO - Não é nada, mãe... não é nada...
A DECISÃO VEIO DE REPENTE E O MÉDICO, TORNANDO A VESTIR O PALETÓ DO SMOKING, DESAPARECEU LÉPIDO, PORTA A FORA.
ORJANA - Espere! Aonde você...
A MULHER PAROU, SABENDO QUE ELE NÃO A OUVIRIA.
CORTA PARA:
CENA 3 - MANSÃO DE OTTO MULLER - JARDIM - EXTERIOR - NOITE
NO JARDIM DA MANSÃO, O AROMA DAS FLORES AGIA COMO EXCITANTE. CYRO HAVIA CHEGADO HÁ ALGUNS INSTANTES E OUVIA A MÃE DE OTTO, CATARINA, INTERPRETAR A SERENATA DE SCHUBERT, ACOMPANHADA AO PIANO PELO FILHO. OLHOU O RELÓGIO. MEIA-NOITE E 25.
O VULTO BRANCO SURGIU POR ENTRE AS ROSEIRAS. CYRO ESTREMECEU. ERA ELA. O RAPAZ ADIANTOU-SE, TOMANDO A MULHER NOS BRAÇOS FORTES. ENVOLVENDO-A TODA.
CYRO - Pensei que não viesse!
ESTER - É uma loucura. Eu não devia ter vindo!
CYRO - Você sabia que eu a esperava?
ESTER - Sabia... a voz outra vez... sua voz me avisou... a cada vez eu posso resistir menos a isso...
CYRO BEIJOU-LHE A FACE, O QUEIXO DELICADO, O PESCOÇO. E NUM CRESCENDO DE EXCITAÇÃO, JUNTOU-LHE OS LÁBIOS COM OS SEUS, LÁBIOS VERMELHOS QUE SE OFERECIAM SEM REAÇÃO.
ESTER - (afastou-se um pouco) Não está direito o que estou fazendo...
CYRO - Por que não? Você disse que era desquitada.
ESTER - E sou!
CYRO - Então? Por que veio morar aqui? Por que voltou pra ele?
ESTER - Eu não voltei pra ele! Eu o odeio!
CYRO - Eu não entendo!
ESTER - (segurou-lhe as mãos entre as suas) É uma história muito longa... e não temos tempo. Ninguém deve nos ver, aqui. Eu vim, mesmo, porque sei... sei que você vai-se embora.
CYRO - E se eu resolvesse não ir mais?
ESTER - Por minha causa?
CYRO - Sim.
ESTER - Não, não! Você não deve fazer isso!
CYRO - Você prefere não me ver mais?
ESTER - Não é que eu prefira! Eu não tenho escolha!
CYRO - Tem sim. Eu estou certo de que tem. Se você quiser, se nós quisermos...
ESTER - Não, não! Você não sabe, você não entende...
CYRO - Não entendo mesmo por que você se deixa dominar por um homem que não é mais seu marido e a quem você odeia. Não entendo como pode continuar vivendo na casa dele.
ESTER - (acariciou-lhe a face) Não procure entender e me esqueça.
CYRO - É só o que tem a me dizer?
ESTER - (fez uma pausa, refletindo, e aos poucos ergueu os olhos para o rosto dele) Não. Quero que você saiba que eu sinto muito... sinto muito ter encontrado você, agora, quando não me creio capaz de amar ninguém... como você merece ser amado. É uma pena, mas o meu destino está traçado.
CYRO - Tolice! Nós é que fazemos o nosso destino!
ESTER - Você acha?
CYRO - Claro! Eu posso mudar o meu; você pode mudar o seu...
ESTER - Era bom se conseguisse acreditar nas suas palavras. Mas não posso. (separou-se mais dele) Adeus, Cyro! Tenho de voltar para o quarto... alguém pode me ver aqui.
ELE TORNOU A BEIJÁ-LA DEMORADAMENTE. UM BEIJO DE POSSE TOTAL. ESTER AINDA ESTAVA TONTA, AO CORRER, SUSPENDENDO O VESTIDO COMPRIDO, NA DIREÇÃO DA PARTE TRASEIRA DA MANSÃO. IA ENTRAR NA CASA QUANDO A MÃO FORTE A SEGUROU, COM FIRMEZA, DETENDO SEUS MOVIMENTOS.
ESTER - (ficou petrificada) Que é isso? Solte-me!
O HOMEM EMERGIU DAS SOMBRAS ONDE ESTAVA ESCONDIDO, CONFUNDINDO-SE COM AS ÁRVORES E AS FOLHAGENS DO JARDIM. ESTER IA GRITAR, MAS O VULTO COLOCOU UMA DAS MÃOS SOBRE SUA BOCA E SURGIU À LUZ BAÇA. ESTER TINHA OS OLHOS ESBUGALHADOS DE TERROR.
ERA PAULUS.
O PROCURADOR DO EX-MARIDO SORRIA SINISTRAMENTE, ENQUANTO A MULHER SOLTAVA-SE COM UM SAFANÃO E SAÍA CORRENDO PARA O INTERIOR DA CASA.
CORTA PARA:
CENA 4 - PORTO AZUL - PRAIA BONITA - EXTERIOR - NOITE
O CARRO CONTINUAVA ESTACIONADO EM FRENTE À PRAIA, BATIDA POR UM VENTO CORTANTE. INÊS TREMIA. NÃO TANTO DE FRIO. AS MÃOS DO RAPAZ CONTINUAVAM EXPLORANDO SEU CORPO. APENAS A RESPIRAÇÃO OFEGANTE DAVA CONTA DA EXISTENCIA DE PESSOAS DENTRO DO MODERNO AUTOMÓVEL. DEITADOS SOBRE O BANCO BABY E INÊS SE ESQUECIAM DO MUNDO.
INÊS OLHOU O MOSTRADOR VERDE DO RELÓGIO DO CARRO E ERGUEU-SE COMO IMPULSIONADA POR UMA MOLA.
INÊS - Já vou, Baby! Veja a hora!
BABY - Espera, amor... Por que essa pressa?
INÊS - Pressa?! Já passa da meia-noite e meia! Eu tinha de chegá às 10 horas. Lá em casa deve está todo mundo dormindo.
BABY - Melhor!
INÊS - Escute. Você é rico, seu pai é dono de minas. Você pode namorar qualquer grã-fina. Por que cismou comigo?
BABY - (falou, sincero) Porque gosto de você e não gosto de grã-fina. Detesto gente da minha classe. Me dá nojo. Gosto de você porque é selvagem... seu corpo tem cheiro de terra... e cheiro de mar.
TENTOU BEIJÁ-LA NOVAMENTE; ELA SE ESQUIVOU, EMPURRANDO-LHE A CABEÇA COM DELICADEZA. ALISOU-LHE O ROSTO MORENO.
BABY - E você? Não gosta de mim?
INÊS - Não sei... Talvez! Sim. Tem vez que gosto... tem vez que me dá raiva!
BABY - (intrigado) Raiva? Por que?
INÊS - Porque sei que você só qué se diverti comigo. Mais nada. E mesmo assim eu não consigo me livrá... da vontade de vê você. Uma vontade danada!
DESTA VEZ ELE A BEIJOU E ELA CORRESPONDEU. UM BEIJO LONGO. DE MÃOS ENTRE OS CABELOS E CORPOS EXCITADOS.
INÊS ABRIU A PORTA E SAIU CORRENDO PELA PRAIA. O VENTO GELADO INVADIU O INTERIOR DO CARRO. BABY ARREPIOU-SE E FECHOU A PORTA. PELO VIDRO DA JANELA, VIU INÊS SE PERDER NA ESCURIDÃO.
FIM DO CAPÍTULO 18
...e na próxima terça, capítulo inédito!
Pobre Inês, acho que vai sofrer também, Baby é muito irresponsável! E, Paulus, vai infernizar a vida de Ester! Quanta ação nessa novela. Gostei muito desse capítulo.
ResponderExcluirAgora é que a coisa se complicou mesmo. Vamos ver no que vai dar...
ResponderExcluirPaulus é um sujeito muito perigoso e falso. Ester tem de abrir os olhos com ele! Amigos, já estou chegando às 300 laudas escritas, e nem cheguei à metade, mas estou curtindo muito, assim como vcs!
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