Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 82
Participam deste capítulo
Baby - Cláudio Cavalcanti
Cyro - Tarcísio Meira
Delegado - Vinícius Salvatori
Mestre Jonas - Gilberto Martinho
Daniel - Paulo Araújo
Luana - Léa Garcia
Tula - Lúcia Alves
Bárbara - Zilka Salaberry
CENA 1 - PORTO AZUL - CABANA DE CYRO - INTERIOR - NOITE
O LUAR BANHAVA AS PAREDES DE MADEIRA DA CABANA DE CYRO VALDEZ, QUANDO O DELEGADO CHEGOU. ELE E DOIS SOLDADOS ARMADOS.
CYRO - (levantou-se da esteira onde estivera deitado) Algum problema, delegado?
DELEGADO - Temos vários. E muito sérios.
CYRO - Quais?
DELEGADO - Estou aqui com ordem de prisão para um sujeito que se encontra com o senhor!
CYRO - Um sujeito, delegado? Quem?
DELEGADO - O senhor sabe de quem estou falando: espero que me ajude a cumprir meu dever!
CYRO - E o outro problema, qual é?
DELEGADO - Ahn... talvez lhe interesse saber que encontrei a possível arma que matou Ivanzinho.
CYRO - (espantou-se) Encontrou? Com quem?
DELEGADO - Conceição. A mãe do coração de Otto Muller... é isto. Eu sei que não foi ela quem atirou. Mas tudo indica que está escondendo o culpado. A arma estava escondida na casa dela.
CYRO - E não teria sido mais fácil para o culpado dar fim à arma? Por que esconder na casa da Conceição?
DELEGADO - É uma arma cara. Com certeza, não quiseram se desfazer dela.
CYRO - E o que vai fazer?
DELEGADO - Detive a negra... para arrancar dela a confissão. É o que vou fazer.
O MÉDICO PERCEBEU ALGO ERRADO NA HISTÓRIA QUE O POLICIAL LHE CONTAVA. AS COISAS NÃO SE AJUSTAVAM MUITO BEM.
CYRO - Eu posso ir vê-la, delegado?
DELEGADO - Quando quiser. Com Baby Liberato é diferente. O promotor ordenou a prisão preventiva dele e eu estou aqui para cumprir a determinação da lei. (espiou disfarçadamente para o interior da cabana) Ele está aí, não está?
CYRO - Está, delegado. Mas eu não vou deixar o senhor levar Baby Liberato para a cadeia.
O DELEGADO EMPALIDECEU E OS SOLDADOS MOVIMENTARAM-SE AMEAÇADORAMENTE.
DELEGADO - Eu espero que o senhor não resista à minha ordem, Dr. Cyro!
CYRO - Eu já lhe disse que sinto muito... mas vou resistir!
DELEGADO - Posso prendê-lo por desacato à autoridade. E posso, além do mais, entrar aí à força para levar o prisioneiro.
CYRO - Use sua força, delegado. Faça o que quiser. Mas eu lhe digo que não vai levar Baby Liberato.
DELEGADO - O senhor está contra a lei?
CYRO - Em primeiro lugar, devo lhe dizer que acredito na inocência do rapaz. E, em segundo lugar, lhe digo que ele está muito doente. Sofreu um abalo nervoso muito forte e está sob rigoroso tratamento.
DELEGADO - Isto também não é motivo.
OS POLICIAIS TENTARAM INVESTIR CONTRA O MÉDICO, A UMA ORDEM DO DELEGADO, AFASTÁ-LO PARA PENETRAREM NO INTERIOR DO BARRACÃO.
CYRO FEZ UM GESTO COM AS MÃOS, ESTALANDO OS DEDOS.
CYRO - Fiquem onde estão! Vocês não podem dar mais nenhum passo, porque aqui... na sua frente... há uma parede de vidro.
DELEGADO - (gritava, nervoso) Andem! Obedeçam!
POLICIAL 1 - Não Podemos! Há uma parede de vidro, imensa, grossa... impossível entrar... delegado. Impossível.
BABY - (gritava, zombeteiro, do interior da cabana) Venham me prender! Quebrem as paredes de vidro!
BABY GARGALHAVA DE SATISFAÇÃO ANTE A IMPOTÊNCIA DOS POLICIAIS, QUE NÃO CONSEGUIRAM DAR UM SÓ PASSO À FRENTE.
CENA 2 - PORTO AZUL - CHOUPANA DE MESTRE JONAS - EXTERIOR - NOITE
NA HUMILDE CHOUPANA DE MESTRE JONAS, ERA DIA DE FESTA. CASAVAM-SE DANIEL E LUANA.
NA PARTE EXTERNA, OS HOMENS HAVIAM CONSTRUÍDO UM LARGO GALPÃO, COBERTO COM FOLHAS DE PALMEIRA E SUSTENTADO POR DEZENAS DE GROSSOS BAMBUS VERDES E FORTES. BANDEIROLAS COLORIDAS ENFEITAVAM A PARTE SUPERIOR, ENQUANTO DUAS ENORMES MESAS IMPROVISADAS MANTINHAM-SE PARALELAS, DANDO ESPAÇO ENTRE ELAS PARA OS PARES DANÇAREM DEPOIS DOS COMES E BEBES. TUDO PREPARADO PARA O ENLACE MATRIMONIAL.
NA PARTE EXTERNA, OS HOMENS HAVIAM CONSTRUÍDO UM LARGO GALPÃO, COBERTO COM FOLHAS DE PALMEIRA E SUSTENTADO POR DEZENAS DE GROSSOS BAMBUS VERDES E FORTES. BANDEIROLAS COLORIDAS ENFEITAVAM A PARTE SUPERIOR, ENQUANTO DUAS ENORMES MESAS IMPROVISADAS MANTINHAM-SE PARALELAS, DANDO ESPAÇO ENTRE ELAS PARA OS PARES DANÇAREM DEPOIS DOS COMES E BEBES. TUDO PREPARADO PARA O ENLACE MATRIMONIAL.
D. BÁRBARA - (brindou, erguendo o copo de vinho tinto) À saúde dos noivos!
CONVIDADOS - (em uníssono) À saúde dos noivos!
A SANFONA DE CHICO DO LARGO FUNDO ENCHIA O AMBIENTE DE ALEGRIA, ACOMPANHADA PELO REGIONAL DO RAIMUNDINHO.
A NOITE CAÍRA REPENTINA SOBRE PORTO AZUL E AS ESTRELAS FAISCAVAM NO CÉU NEGRO, ENQUANTO AS ONDAS QUIETAS MARULHAVAM A PEQUENA DISTANCIA DA CHOUPANA DO PESCADOR.
CORTA PARA:
CENA 3 - CABANA DE CYRO - INTERIOR - NOITE
NA CABANA DE CYRO, TULA ACENDEU A LUZ.
BABY - Estou com vontade de dar um pulo até lá para participar da festa.
TULA - (aproximando-se do rapaz) Se você se sente bem, eu acho que pode ir. Os homens estão, inclusive, esperando por uma palavra sua.
BABY - Você vem comigo?
TULA - Não... eu... eu... tenho... não fica bem, Baby. É a casa do seu sogro e a festa do seu cunhado.
BABY ABOTOOU O CASACO DE COURO, AJEITOU OS CABELOS LONGOS E AFASTOU-SE DA CABANA ENCRAVADA ENTRE A VEGETAÇÃO CERRADA, A ALGUNS QUILÔMETROS DE PORTO AZUL, DEFRONTE À PRAIA DOURADA. O VENTO SOPRAVA BARULHENTO E O MAR PERMANECIA ESTRANHAMENTE QUIETO.
CORTA PARA:
CENA 4 - CHOUPANA DE MESTRE JONAS - EXTERIOR - NOITE
OS PARES DANÇAVAM ANIMADAMENTE, QUANDO BABY ALCANÇOU A ENTRADA DO GALPÃO. DANIEL CORREU, SURPRESO, AO ENCONTRO DO CUNHADO.
BABY - Vocês me desculpem... não assisti à cerimônia... mas não estava em condições. Ando meio fraco...
UM PEQUENO GRUPO SE FORMARA EM TORNO DOS DOIS HOMENS. A PRESENÇA DE BABY COMEÇAVA A ESFRIAR OS ÂNIMOS.
DANIEL - (olhando os convidados) Que é isso, gente? Tamo até muito satisfeito de vê o Baby por aqui.
LUANA - (acanhada) A gente agradece muito o senhô...
BABY - Eu queria aproveitar para... dar uma palavrinha aos homens. Já que estão todos reunidos...
DANIEL ESTICOU O BRAÇO E CHAMOU MESTRE JONAS.
DANIEL - Pai... manda pará a música. Seu Baby qué falá...
JONAS REUNIU OS PRESENTES NO GALPÃO IMPROVISADO.
MESTRE JONAS - Gente... seu Baby já tá curado... com a graça de Deus... e queria dá uma palavrinha com vocês.
VÁRIOS MINEIROS E PESCADORES APROXIMARAM-SE DO RAPAZ, CUMPRIMENTANDO-O. ALGUNS JÁ ANTIGOS COMPANHEIROS E HOMENS DE CONFIANÇA DE BABY LIBERATO. EM TODOS, A EMOÇÃO ERA VISÍVEL.
BABY - Olha... no duro... que não tenho palavra! (falou, meio engasgado) Falar da minha satisfação de encontrar todos vocês aqui, reunidos, num mesmo sentimento de solidariedade... é uma coisa bacana às pampas. Eu não sei falar bonito, gente. Quero só que vocês compreendam... a minha emoção... a grande dívida de gratidão que tenho para com todos vocês... que foram despedidos porque ficaram do meu lado. Porque confiaram em mim. Eu acho que o que tenho pra lhes dar... em troca de tanta amizade... tanta fidelidade... é a certeza de que eu estou mesmo inocente.
UM MURMÚRIO PERCORREU O AMBIENTE.
BABY - (continuou) É a minha palavra de como eu não detonei aquela maldita dinamite... pra matar nossos companheiros. Gente... é verdade que eu queria morrer... mas queria ir só. Quero que vocês saibam que eu pretendia esperar que todos saíssem, que o expediente terminasse.
MESTRE JONAS - Não lembra tristeza, meu filho. Todo mundo lhe acredita.
BABY - Não, Mestre Jonas... eu preciso dizer isso para que meus companheiros saibam. Bebi um pouco demais, é verdade. E esse foi todo o meu erro. Quando acordei... o mal já estava feito. E não fui eu que fiz... creiam. (quase não conseguia conter a emoção) Eu sei que vocês confiam em mim e só tenho a dizer pra vocês uma coisa: se eu queria morrer, naquela ocasião, agora eu não quero mais. Porque eu tenho a maior prova de que um sujeito pode ter... de amizade... de fraternidade. Hoje, eu me sinto orgulhoso disso. Me sinto privilegiado. Era só, minha gente. O resto... (fez um gesto largo com os braços) estamos aí. Continue a festa, Mestre Jonas.
MESTRE JONAS - (gritou para o conjunto regional) Vamo simbora, Chico da Sanfona!
OS PARES VOLTARAM A DANÇAR NO CHÃO DE AREIA BATIDA, ENQUANTO BABY E OS PARENTES DE SUA ESPOSA ENTRAVAM NA CABANA.
Que cena essa da parede de vidro! Cyro é poderoso! Gostei muito desse capítulo.
ResponderExcluirPois é. Se a censura deixasse, acho que ele faria muito mais... seria como a volta de Cristo à terra.
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