Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 89
Participam deste capítulo
Baby - Cláudio Cavalcanti
Cyro - Tarcísio Meira
Ricardo - Edney Giovenazzi
Comendador Liberato - Macedo Netto
Dr. Max - Álvaro Aguiar
Cesário - Carlos Eduardo Dolabella
Júlia - Ida Gomes
CENA 1 - CASA DE CESÁRIO - SALA - INTERIOR - DIA
CESÁRIO, AFUNDADO NUMA POLTRONA, RECORDAVA OS ACONTECIMENTOS DO LAGO. A MORTE DA ESPOSA. OLHOS CERRADOS, MÃOS CRISPADAS. LEMBRAVA-SE CLARAMENTE DO DIÁLOGO.
FLASHBACK
ELE CHEGARA COM O BARCO, REMANDO COM VAGAR.
CESÁRIO - Depressa! Que demora!
JÚLIA - Esperou tanto tempo assim?
CESÁRIO - Um dia inteiro!
JÚLIA - Suba logo! (apontou para a margem oriental do lago) O pessoal está nos esperando do lado de lá.
ENTRARA NO BOTE, TOMOU OS REMOS DAS MÃOS DA MULHER. JÚLIA SORRIA FELIZ, ACARICIANDO OS PUNHOS GROSSOS DO MARIDO.
JÚLIA - Estou com os braços doendo. Nunca remei tanto em minha vida. Só uma vez, quando era mocinha....
PARARA UM POUCO AS REMADAS ENÉRGICAS. ESTAVAM NO CENTRO DAS ÁGUAS QUIETAS.
CESÁRIO - (perguntou, à queima-roupa) Sabe nadar?
JÚLIA - (sorriu) Que nada! Se este barco afundar, estou perdida!
TUDO ACONTECERA NUM MINUTO. PUSERA OS REMOS DE LADO E COM MOVIMENTOS ENÉRGICOS FIZERA O BARCO DANÇAR, A PRINCÍPIO LENTAMENTE. SEGUNDOS DEPOIS, ERA COMO SE UM VENDAVAL SOPRASSE SOBRE A FRACA EMBARCAÇÃO. JÚLIA ESBUGALHARA OS OLHOS, CIENTE DAS INTENÇÕES DELE.
JÚLIA - Cesário, pare com esta brincadeira! Eu não sei nadar! Pare com isso, Cesário! Pare com isso, miserável! Você quer me matar?! Quer me matar?!
A VISÃO ERA CLARA. O BOTE VIRARA E AFUNDARA EM POUCOS MINUTOS. A MÃO DE JÚLIA, POUCO A POUCO, DESAPARECERA NA QUIETUDE DAS ÁGUAS. EM SEGUIDA, BASTARAM A CESÁRIO ALGUMAS BRAÇADAS FIRMES ATÉ A ILHOTA E UM LONGO DESCANSO NA GRAMA SECA. O RESTO, TODO MUNDO SABIA. MAIS TARDE... BEM... MAIS TARDE ERA SÓ BOTAR A MÃO NA BOLADA. ERA PARA ISSO QUE SERVIA O CASAMENTO COM COMUNHÃO DE BENS. MILIONÁRIO, JOVEM E O MUNDO PARA GASTAR DINHEIRO.
CORTA PARA:
CENA 2 - PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO - QUARTO DO COMENDADOR - INTERIOR - DIA
TODO O LADO DIREITO DO COMENDADOR ESTAVA PARALISADO E A BOCA REPUXADA GROTESCAMENTE. BABY FALAVA COM O PAI, OLHANDO AFLITO PARA O PONTEIRO DO RELÓGIO. OS MINUTOS CORRIAM.
BABY - Como é que está? Não fique nervoso. Cyro vem já.
LIBERATO MOSTROU-LHE A MÃO DIREITA, INERTE.
BABY FRICCIONOU-LHE O BRAÇO. TENTANDO REATIVAR A CIRCULAÇÃO. O COMENDADOR GEMEU.
COMENDADOR - Queria lhe dizer...
BABY - Não diga nada, deixe que eu falo...
COMENDADOR - É importante. A fortuna Liberato...
BABY - Não se preocupe com isso, agora. Eu já disse que coloco à sua disposição.
COMENDADOR - Não. É sua. Faça o que quiser.... é sua...
BABY - (fitou-o fundo) Olha lá... você pode se arrepender... Pode estar num momento de descontrole emocional... e eu não quero que pense que vou me aproveitar do seu estado.
COMENDADOR - Faça o que quiser... o que quiser!... Mas não deixe... Otto Muller botar a mão nela! Nunca!
BABY - Fique sossegado. Quanto a isso, não deixo mesmo. Mas também não quero pra mim!
CYRO ACABAVA DE CHEGAR.
CYRO - Vamos lá ver isso, comendador!
BABY COLOCOU-O A PAR DO QUE OCORRIA. O MÉDICO NOTOU A BOCA REPUXADA DO COMENDADOR.
BABY - Será grave?
CYRO - preciso de uma ambulância. Ele tem de ser removido para o hospital. Imediatamente!
BABY - O que é, Cyro? É grave?
CYRO - É, Baby. Mas pode ser salvo... isto é... ele não vai morrer disso! Está hemiplégico. Dê-me um telefone. Vou falar com Max. (Ricardo fez a ligação com o hospital e mandou chamar o diretor) Alô! Aqui é Cyro Valdez! Max, preciso que você mande uma ambulância aqui, à casa do comendador, com urgência. Ótimo. Ficarei à espera.
CORTA PARA:
CENA 3 - AMBULANCIA - INTERIOR - DIA
OS DOIS MÉDICOS SENTAVAM-SE NO BANCO INTERNO DA AMBULÂNCIA, OBSERVANDO O PACIENTE ESTIRADO NA MACA.
MAX - ... só não me conformo é com o seu desaparecimento atual. Você é um cientista.... não devia vender peixe na praça de porto Azul.
CYRO - Não tenha receio, Max. Depois de vender peixe, eu faço uma boa assepsia antes de atender um doente.
MAX - Você devia separar as coisas...
Cyro - Eu separo... a meu modo.
O VEÍCULO BALANÇOU AO ULTRAPASSAR UM BURACO. AUGUSTO LIBERATO GEMEU ALTO.
MAX - E se ele precisar de uma nova operação?
CYRO - Se ainda puder entrar em seu hospital, pode me chamar que irei operá-lo.
MAX - Nós o chamaremos.
CORTA PARA:
CENA 4 - HOSPITAL - EXTERIOR - DIA
CYRO SALTOU À PORTA DO HOSPITAL, ONDE RICARDO JÁ O ESPERAVA EM SEU SEDAN. O MÉDICO DESPEDIU-SE DOS COLEGAS E ENTROU NO AUTOMÓVEL.
CYRO - Ele deve escapar, Ricardo... mas não ficará bom de todo. Baby o encontrou no antigo quarto de Elisa...
RICARDO - Foi. Ultimamente, ele não saía dali. O que você conclui disso?
CYRO - Que ele tem verdadeira paixão pela mulher que o traiu há 25 anos atrás. Ela voltou... e ele sentiu obrigação de puni-la através de Baby, a quem ele estima como a um filho...
RICARDO - Você acha que ele estima Baby?
CYRO - Tenho certeza. E não foi a paixão por Elisa que o derrubou. Foi o remorso pelo que fez com Inês e Baby.
RICARDO - (manobrou o volante numa curva fechada) Por que as pessoas fazem coisas tão difíceis, Cyro?
CYRO - Pergunte... a si mesmo, meu pai!
RICARDO ESTREMECEU, CRISPANDO AS MÃOS NO VOLANTE. MAS NÃO VOLTOU O ROSTO, NEM UM MÚSCULO DA FACE REVELOU AOS OLHOS ATENTOS DO CIENTISTA A EMOÇÃO QUE SE APOSSARA DELE.
RICARDO PISOU MAIS FORTE NO ACELERADOR. O PONTEIRO DO VELOCÍMETRO CORREU CÉLERE POR SOBRE OS NÚMEROS DA QUILOMETRAGEM.
FIM DO CAPÍTULO 89
Mais um capítulo muito bom! Espero que o comendador, melhore, pelo jeito não é tão mau como parecia. Ricardo é pai de Cyro, que legal!
ResponderExcluirNossa, imagine o que Otto não vai aprontar, quando souber que tudo agora é de Baby...
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