O
texto abaixo é da autoria de João Anzanello Carrascoza.
Para
maiores informações sobre o autor, favor acessar: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa405419/joao-anzanello-carrascoza.
Boa
leitura!
UMA
LIÇÃO INESPERADA
No
último dia de férias, Lilico nem dormiu direito. Não via a hora de voltar à
escola e rever os amigos. Acordou feliz da vida, tomou o café da manhã às
pressas, pegou sua mochila e foi ao encontro deles. Abraçou-os à entrada da
escola, mostrou o relógio que ganhara de Natal, contou sobre sua viagem ao
litoral. Depois ouviu as histórias dos amigos e divertiu-se com eles, o coração
latejando de alegria. Aos poucos, foi matando a saudade das descobertas que
fazia ali, das meninas ruidosas, do azul e branco dos uniformes, daquele burburinho
à beira do portão. Sentia-se como um peixe de volta ao mar. Mas, quando o sino
anunciou o início das aulas, Lilico descobriu que caíra numa classe onde não
havia nenhum de seus amigos. Encontrou lá só gente estranha, que o observava
dos pés à cabeça, em silêncio. Viu-se perdido e o sorriso que iluminava seu
rosto se apagou. Antes de começar, a professora pediu que cada aluno se
apresentasse. Aborrecido, Lilico estudava seus novos companheiros. Tinha um
japonês de cabelos espetados com jeito de nerd. Uma garota de olhos azuis,
vinda do Sul, pareceu-lhe fria e arrogante. Um menino alto, que quase bateu no
teto quando se ergueu, dava toda a pinta de ser um bobo. E a menina que morava
no sítio? A coitada comia palavras, olhava-os assustada, igual a um bicho-do-mato.
O mulato, filho de pescador, falava arrastado, estalando a língua, com sotaque
de malandro. E havia uns garotos com tatuagens umas meninas usando óculos de
lentes grossas, todos esquisitos aos olhos de Lilico. A professora? Tão
diferente das que ele conhecera... Logo que soou o sinal para o recreio, Lilico
saiu a mil por hora, à procura de seus antigos colegas. Surpreendeu-se ao
vê-los em roda, animados, junto aos estudantes que haviam conhecido horas
antes. De volta à sala de aula, a professora passou uma tarefa em grupo. Lilico
caiu com o japonês, a menina gaúcha, o mulato e o grandalhão. Começaram a
conversar cheios de cautela, mas paulatinamente foram se soltando, a ponto de,
ao fim do exercício, parecer que se conheciam há anos. Lilico descobriu que o
japonês não era nerd, não: era ótimo em Matemática, mas tinha dificuldade em
Português. A gaúcha, que lhe parecera tão metida, era gentil e o mirava
ternamente com seus lindos olhos azuis. O mulato era um caiçara responsável,
ajudava o pai desde criança e prometeu ensinar a todos os segredos de uma boa
pescaria. O grandalhão não tinha nada de bobo. Raciocinava rapidamente e, com
aquele tamanho, seria legal jogar basquete no time dele. Lilico descobriu mais.
Inclusive que o haviam achado mal-humorado quando ele se apresentara, mas já
não pensavam assim. Então, mirou a menina do sítio e pensou no quanto seria bom
conhecê-la. Devia saber tudo de passarinhos. Sim, justamente porque eram
diferentes havia encanto nas pessoas. Se ele descobrira aquilo no primeiro dia
de aula, quantas descobertas não haveria de fazer no ano inteiro? E, como um
lápis deslizando numa folha de papel, um sorriso se desenhou novamente no rosto
de Lilico.
Fonte:
http://revistaescola.abril.com.br/fundamental-1/licao-inesperada-634273.shtml.
Gostei desse texto, uma ótima leitura para crianças e adultos!
ResponderExcluirGostei da crônica.
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