Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair
CAPÍTULO 78
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
SINHANA
RODRIGO
JERÔNIMO
LARA
CLEMENTE
JOÃO
ANTONIO
LÁZARO
PEDRO BARROS
DELEGADO FALCÃO
CENA 1 - CASA DO RANCHO CORAGEM - SALA - INT. - DIA.
Sinhana correu ao encontro do filho e de Rodrigo, ligeiramente tocados. Sorriu ao ver a alegria que os contagiava. Adivinhou o motivo.
SINHANA - Jerônimo venceu!
Rodrigo perdera o controle, embriagado com a vitória de Jerônimo.
RODRIGO - Viva o novo prefeito de Coroado!
JERÔNIMO - (gritou, com o rosto em brasa) Viva!
SINHANA - (estreitava o filho entre os braços fortes) Deus te abençoe, filho! Graças a ele e também ao teu amigo Rodrigo!
JERÔNIMO - Oi, mãe, teu filho é importante. Consegui, não consegui?
RODRIGO - (rebuscava o bar á cata de bebidas) Se ele não vencesse... eu acho que daria o fora desta cidade. Porque agora nós vamos consertar muita coisa, botar as coisas nos eixos!
JERÔNIMO - (gracejou) Já sei o que ele vai dizer: impor a lei e a justiça...
RODRIGO - Isso mesmo: a lei e a justiça!
Os amigos riam, entornando cálices de aguardente.
JERÔNIMO - Viu a cara do Pedro Barros, seu doutor? Quando desceu do carro e entrou na delegacia? Parecia arrasado.
RODRIGO - Parecia uma jibóia que tinha acabado de engolir um boi! Olha aqui, Jerônimo. A primeira coisa que você vai fazer quando tomar posse é tirar aquela estátua da praça! Uma vergonha!
Lara assomou à porta do quarto, séria, sem dizer palavra. Jerônimo correu a desculpar-se.
JERÔNIMO - Oi... desculpe... eu não sabia que você... ainda estava aqui.
RODRIGO - Olhe, me desculpe também . (segurou a moça pelo braço, visìvelmente alto..) Vem cá... quero lhe dizer uma coisa... honestamente. Tenho sede de vingança do seu pai... mas com você... olha... não tenho nada.(cambaleava) Até gosto muito. É a cunhada do meu melhor amigo!
JERÔNIMO - Deixa ela, Rodrigo.
RODRIGO - Não. Ela tem que saber. O negócio é o seguinte. Dois pontos. Pode pensar que minha raiva por ele é gratuita. Não é não. Vou lhe dizer. Ele mandou meu pai pra cadeia. Acusou meu pai de um roubo. O velho foi julgado e condenado. E estava inocente! (fez uma pausa teatral) Sabe o que foi que ele fez? Se enforcou... Se enforcou. Eu tinha 8 anos, moça. E... nunca me esqueço... a corda pendurada. Aquele homem... Era dia de visita... eu tinha ido com minha mãe. E quem tinha sido o autor do roubo não era outro. O próprio acusador: Pedro Barros.
JERÔNIMO - (insistiu) Rodrigo, acabe com isso!
RODRIGO - Não. Ela tem que saber... porque é que eu vou fazer com que o pai dela acabe também numa fôrca...
MARIA DE LARA - O senhor é vingativo. Esta não é uma boa qualidade.
Lara pediu licença e deixou a sala.
Sinhana condenou a atitude dos dois amigos.
SINHANA - Deus é bom. Deus é justo e deu felicidade aos dois, hoje. Não tinham o direito de pisá na Lara. Ter um pai como Pedro Barros já é um castigo prela.
Rodrigo e Jerônimo voltaram a encher as taças, enquanto de Coroado chegavam ruídos de foguetes riscando o céu na noite clara. A bandinha da prefeitura entoava o hino do Flamengo, homenagem ao ex-clube do irmão do prefeito. A noite se aprofundava, os galos cantavam e os grilos, em sintonia, anunciavam o toque de recolher. Os rapazes, esticados ao comprido, dormiam profundamente, sonhando com a estátua de ôlho furado, do dono de Coroado.
CORTA PARA:
CENA 2 - CASA ABANDONADA - EXT. - NOITE.
Clemente galopou ligeiro e depois saltou do lombo do alazão.
CENA 3 - CASA ABANDONADA - SALA - INT. - NOITE.
CLEMENTE - Tu num sabe das nova? Trouxe uma garrafa de cachaça, da boa! Pra comemorá!
JOÃO - O quê? Pedro Barros bateu a bota?
CLEMENTE - Melhor que isso, turma!
JOÃO - Melhor que isso! Só se encontraro meu diamante!
CLEMENTE - (fazia mistério) Nada disso...
JOÃO - Só se a sorte virô e o mano foi eleito prefeito de Coroado! Num me diga que é isso!
CLEMENTE - Dito e feito, home!
João enrubesceu. E dando vazão á alegria, saltou com as pernas encolhidas, as mesmo tempo que berrava, para que todos ouvissem:
JOÃO - Ei! Minha gente! Vem cá todo mundo beber! O mano foi ganhador das eleição. É o novo prefeito de Coroado! Tamo com tudo, gente! Tem bebida pra todo mundo!
ANTONIO - Tamo com o cachorro da sorte! Jeromo prefeito, as coisa correm bem pra gente.
O grupo marginalizado ergueu copos de latão e flandres, em saudação á vitória do irmão do chefe. Mais um Coragem na ordem do dia...
JOÃO - (a Clemente) Como é que tu soube?
CLEMENTE - Dei um pulo na cidade. A única notícia triste vem da parte do Braz. Tão maltratando ele, na cadeia. Ouvi isto da boca de muita gente.
LÁZARO - E a gente não vai fazê nada pra salvá ele?
JOÃO - Vamo... claro que vamo! Me deixa pensá, gente... deixa pensá... tem que sê de um jeito... que a gente não pode errá.
Os garimpeiros dispersaram-se em várias direções, peitos nus, pés descalços. A noite não trazia presentes, como a luz do sol. Garimpo não dava bamburra em noite escura.
João Coragem permaneceu meditando. Obrigando-se a organizar um plano de ação, eficiente e simples, com vistas a retirar o negro das mãos do fantoche de Pedro Barros: o delegado Diogo Falcão. Á luz das velas, João Coragem começou a rabiscar traços num papel de pão. A cadeia de Coroado, as ruas de acesso. E os locais de fácil visão da delegacia. O esquema tinha de surtir efeito. Braz era valioso demais para permanecer nas mãos odientas dos homens de Pedro Barros.
CORTA PARA:
CENA 4 - COROADO - PRAÇA - EXT. - NOITE.
De todas as povoações da região chegavam sertanejos para assistirem ás festas comemorativas da vitória de Jerônimo Coragem, o prefeito mais moço de toda a zona diamantífera. Falcão impacientava-se diante da alegria da gente humilde.
O cantador havia chegado de Bom Jesus da Lapa, famoso em todo o São Francisco pelos seus repentes. Ungulino do Cariri polarizava as atenções no centro da praça, acompanhando-se à viola.
Pedro Barros achegou-se, lento, com um chicote na mão, a vergastar a calça de casimira azul.
PEDRO BARROS - Eu sinto... muito... terminar com uma festa tão bonita. Afinal de contas... eu devia ter vindo aqui pra cumprimentar o novo prefeito desta cidade. Infelizmente, as novidades que a gente trouxe, são outras, bem diferentes. Fala você, Falcão!
DELEGADO FALCÃO - É que... o novo prefeito... infelizmente, repito, é irmão de um assassino, foragido da justiça. Todo mundo sabe. E este foragido faz questão de manter esta pobre cidade em constante pânico. E o irmão dele, como prefeito, não vai poder fazer nada contra isso, porque são irmãos!
A pequena multidão ouvia atenta as argumentações do delegado. Havia inquietação entre os partidários do prefeito.
JERÔNIMO - Todo mundo sabe que eu tou contra João. (replicou, exaltado, dedo em riste, dirigindo-se mais aos homens que ali se achavam, do que ao coronel e seu aliado policial) E vou acabar com tudo quanto é pouca-vergonha, aqui. Seja da parte dele, seja da parte de quem for.
PEDRO BARROS - Muito bem. Então... seu novo prefeito... vai ajudar a gente a esperar seu próprio irmão amanhã... pra agarrar ele... quando ele chegar pra fazer o que prometeu em Coroado!
JERÔNIMO - (berrou, colérico, com a face rubra e os olhos cintilantes) Mentira dele, gente!
PEDRO BARROS - Mostra, Falcão!
A autoridade apresentou ao povo um pequeno papel amarrotado e sujo.
DELEGADO FALCÃO - Tá aqui, gente! O novo desafio de João! Não fui eu que inventei, nem falsifiquei a letra dele! Tá aqui, vejam!
Um por um os homens observaram o bilhete nas mãos do delegado. Jerônimo pegou-o e entregou-o ao promotor. Pedro Barros reiniciou a discussão.
PEDRO BARROS - Se é verdade que o novo prefeito está contra o irmão, nós todos exigimos... que ele mesmo... escolha os homens... voluntários... que queiram ajudar a agarrar o João, conforme o prometido!
Jerônimo buscou ajuda nos olhos do amigo. Diante dele dezenas de outros olhos acusadores, exigiam uma decisão urgente. Com as mãos trêmulas, o rapaz apontou a multidão.
JERÔNIMO - Quem quiser ir... que dê um passo á frente... Você. (outro sujeito apresentou-se) Você... você... você.
DELEGADO FALCÃO - Você também, Valdemar... e você, Juquinha... olha aí, gente... não tou obrigando ninguém.
PEDRO BARROS - (rodando o chicote nas mãos) Todos estão de acordo em que é preciso acabar esse clima de terror na cidade, ou não estão?
DELEGADO FALCÃO - O prefeito tem que ajudar a gente!
JERÔNIMO - Só peço que tenham cuidado com a vida dele. É de direito que ele seja preso e que aguarde julgamento. Não é direito que matem ele.
PEDRO BARROS - (berrou) Mas... eu quero ele, vivo ou morto! Se um de vocês pegá ele, tem 5 milhões. Cinco por ele morto; 10 por ele vivo. Estamos entendidos?
RODRIGO - Com que direito o senhor faz exigencias desse tipo, seu Barros? Não é autoridade policial. Não é autoridade judicial. Não é nada. Acho que Coroado tem prefeito, juiz, promotor e por último um delegado. A esse é que cabe zelar pela segurança e exigir em nome da lei. Não lhe reconheço nenhuma autoridade. E a oferta que está fazendo é um estímulo ao crime. Posso prendê-lo por isso...
Barros cerrou os dentes e procurou refúgio nas palavras do delegado, que argumentou:
DELEGADO FALCÃO - A verdade é que o coronel está sèriamente ameaçado e tem de se proteger. Vocês entendem. O João prometeu vir pegar o Braz, amanhã, ás 5 horas. A gente espera ele, rodeando a cidade, todo mundo armado. Por isso, preciso de vocês. Vamos ver se ele cumpre a palavra! Agora, vamos indo até a delegacia. Tenho umas ordens para dar a vocês...
PEDRO BARROS - Vai indo. Eu já vou já, Falcão.
Pedro Barros parecia, àquela altura, o verdadeiro xerife da cidade. Os homens espalharam-se, permanecendo apenas Barros, Rodrigo e o prefeito. O coronel aproximou-se dos inimigos.
PEDRO BARROS - Parece que a gente agora vai enfrentar a mesma luta, Jerônimo... A vida jogou a gente de um lado só!
JERÔNIMO - (blasfemou) Do seu lato eu não estou, nem que fosse do lado de Jesus Cristo!
PEDRO BARROS - (voltou-se para o promotor) E você pensa que me derrubou, Rodrigo?
RODRIGO - Ainda não. Isto é apenas o começo.
PEDRO BARROS - Sabe que se eu tivesse medo das suas ameaças já tinha mandado você pro outro mundo?
RODRIGO - Não tenho a menor dúvida. Sei que o senhor é um assassino. Há muitos anos...
PEDRO BARROS - (cortou) Estamos num jogo. Num jogo interessante. Eu, João, Jerônimo e você. Eu fico com Jerônimo.
RODRIGO - Contra você eu fico até com João, se for o caso.
PEDRO BARROS - (sorria, cínico, calculista) Você se meteu numa enrascada, doutorzinho!
Sinhana correu ao encontro do filho e de Rodrigo, ligeiramente tocados. Sorriu ao ver a alegria que os contagiava. Adivinhou o motivo.
SINHANA - Jerônimo venceu!
Rodrigo perdera o controle, embriagado com a vitória de Jerônimo.
RODRIGO - Viva o novo prefeito de Coroado!
JERÔNIMO - (gritou, com o rosto em brasa) Viva!
SINHANA - (estreitava o filho entre os braços fortes) Deus te abençoe, filho! Graças a ele e também ao teu amigo Rodrigo!
JERÔNIMO - Oi, mãe, teu filho é importante. Consegui, não consegui?
RODRIGO - (rebuscava o bar á cata de bebidas) Se ele não vencesse... eu acho que daria o fora desta cidade. Porque agora nós vamos consertar muita coisa, botar as coisas nos eixos!
JERÔNIMO - (gracejou) Já sei o que ele vai dizer: impor a lei e a justiça...
RODRIGO - Isso mesmo: a lei e a justiça!
Os amigos riam, entornando cálices de aguardente.
JERÔNIMO - Viu a cara do Pedro Barros, seu doutor? Quando desceu do carro e entrou na delegacia? Parecia arrasado.
RODRIGO - Parecia uma jibóia que tinha acabado de engolir um boi! Olha aqui, Jerônimo. A primeira coisa que você vai fazer quando tomar posse é tirar aquela estátua da praça! Uma vergonha!
Lara assomou à porta do quarto, séria, sem dizer palavra. Jerônimo correu a desculpar-se.
JERÔNIMO - Oi... desculpe... eu não sabia que você... ainda estava aqui.
RODRIGO - Olhe, me desculpe também . (segurou a moça pelo braço, visìvelmente alto..) Vem cá... quero lhe dizer uma coisa... honestamente. Tenho sede de vingança do seu pai... mas com você... olha... não tenho nada.(cambaleava) Até gosto muito. É a cunhada do meu melhor amigo!
JERÔNIMO - Deixa ela, Rodrigo.
RODRIGO - Não. Ela tem que saber. O negócio é o seguinte. Dois pontos. Pode pensar que minha raiva por ele é gratuita. Não é não. Vou lhe dizer. Ele mandou meu pai pra cadeia. Acusou meu pai de um roubo. O velho foi julgado e condenado. E estava inocente! (fez uma pausa teatral) Sabe o que foi que ele fez? Se enforcou... Se enforcou. Eu tinha 8 anos, moça. E... nunca me esqueço... a corda pendurada. Aquele homem... Era dia de visita... eu tinha ido com minha mãe. E quem tinha sido o autor do roubo não era outro. O próprio acusador: Pedro Barros.
JERÔNIMO - (insistiu) Rodrigo, acabe com isso!
RODRIGO - Não. Ela tem que saber... porque é que eu vou fazer com que o pai dela acabe também numa fôrca...
MARIA DE LARA - O senhor é vingativo. Esta não é uma boa qualidade.
Lara pediu licença e deixou a sala.
Sinhana condenou a atitude dos dois amigos.
SINHANA - Deus é bom. Deus é justo e deu felicidade aos dois, hoje. Não tinham o direito de pisá na Lara. Ter um pai como Pedro Barros já é um castigo prela.
Rodrigo e Jerônimo voltaram a encher as taças, enquanto de Coroado chegavam ruídos de foguetes riscando o céu na noite clara. A bandinha da prefeitura entoava o hino do Flamengo, homenagem ao ex-clube do irmão do prefeito. A noite se aprofundava, os galos cantavam e os grilos, em sintonia, anunciavam o toque de recolher. Os rapazes, esticados ao comprido, dormiam profundamente, sonhando com a estátua de ôlho furado, do dono de Coroado.
CORTA PARA:
CENA 2 - CASA ABANDONADA - EXT. - NOITE.
Clemente galopou ligeiro e depois saltou do lombo do alazão.
CENA 3 - CASA ABANDONADA - SALA - INT. - NOITE.
CLEMENTE - Tu num sabe das nova? Trouxe uma garrafa de cachaça, da boa! Pra comemorá!
JOÃO - O quê? Pedro Barros bateu a bota?
CLEMENTE - Melhor que isso, turma!
JOÃO - Melhor que isso! Só se encontraro meu diamante!
CLEMENTE - (fazia mistério) Nada disso...
JOÃO - Só se a sorte virô e o mano foi eleito prefeito de Coroado! Num me diga que é isso!
CLEMENTE - Dito e feito, home!
João enrubesceu. E dando vazão á alegria, saltou com as pernas encolhidas, as mesmo tempo que berrava, para que todos ouvissem:
JOÃO - Ei! Minha gente! Vem cá todo mundo beber! O mano foi ganhador das eleição. É o novo prefeito de Coroado! Tamo com tudo, gente! Tem bebida pra todo mundo!
ANTONIO - Tamo com o cachorro da sorte! Jeromo prefeito, as coisa correm bem pra gente.
O grupo marginalizado ergueu copos de latão e flandres, em saudação á vitória do irmão do chefe. Mais um Coragem na ordem do dia...
JOÃO - (a Clemente) Como é que tu soube?
CLEMENTE - Dei um pulo na cidade. A única notícia triste vem da parte do Braz. Tão maltratando ele, na cadeia. Ouvi isto da boca de muita gente.
LÁZARO - E a gente não vai fazê nada pra salvá ele?
JOÃO - Vamo... claro que vamo! Me deixa pensá, gente... deixa pensá... tem que sê de um jeito... que a gente não pode errá.
Os garimpeiros dispersaram-se em várias direções, peitos nus, pés descalços. A noite não trazia presentes, como a luz do sol. Garimpo não dava bamburra em noite escura.
João Coragem permaneceu meditando. Obrigando-se a organizar um plano de ação, eficiente e simples, com vistas a retirar o negro das mãos do fantoche de Pedro Barros: o delegado Diogo Falcão. Á luz das velas, João Coragem começou a rabiscar traços num papel de pão. A cadeia de Coroado, as ruas de acesso. E os locais de fácil visão da delegacia. O esquema tinha de surtir efeito. Braz era valioso demais para permanecer nas mãos odientas dos homens de Pedro Barros.
CORTA PARA:
CENA 4 - COROADO - PRAÇA - EXT. - NOITE.
De todas as povoações da região chegavam sertanejos para assistirem ás festas comemorativas da vitória de Jerônimo Coragem, o prefeito mais moço de toda a zona diamantífera. Falcão impacientava-se diante da alegria da gente humilde.
O cantador havia chegado de Bom Jesus da Lapa, famoso em todo o São Francisco pelos seus repentes. Ungulino do Cariri polarizava as atenções no centro da praça, acompanhando-se à viola.
Pedro Barros achegou-se, lento, com um chicote na mão, a vergastar a calça de casimira azul.
PEDRO BARROS - Eu sinto... muito... terminar com uma festa tão bonita. Afinal de contas... eu devia ter vindo aqui pra cumprimentar o novo prefeito desta cidade. Infelizmente, as novidades que a gente trouxe, são outras, bem diferentes. Fala você, Falcão!
DELEGADO FALCÃO - É que... o novo prefeito... infelizmente, repito, é irmão de um assassino, foragido da justiça. Todo mundo sabe. E este foragido faz questão de manter esta pobre cidade em constante pânico. E o irmão dele, como prefeito, não vai poder fazer nada contra isso, porque são irmãos!
A pequena multidão ouvia atenta as argumentações do delegado. Havia inquietação entre os partidários do prefeito.
JERÔNIMO - Todo mundo sabe que eu tou contra João. (replicou, exaltado, dedo em riste, dirigindo-se mais aos homens que ali se achavam, do que ao coronel e seu aliado policial) E vou acabar com tudo quanto é pouca-vergonha, aqui. Seja da parte dele, seja da parte de quem for.
PEDRO BARROS - Muito bem. Então... seu novo prefeito... vai ajudar a gente a esperar seu próprio irmão amanhã... pra agarrar ele... quando ele chegar pra fazer o que prometeu em Coroado!
JERÔNIMO - (berrou, colérico, com a face rubra e os olhos cintilantes) Mentira dele, gente!
PEDRO BARROS - Mostra, Falcão!
A autoridade apresentou ao povo um pequeno papel amarrotado e sujo.
DELEGADO FALCÃO - Tá aqui, gente! O novo desafio de João! Não fui eu que inventei, nem falsifiquei a letra dele! Tá aqui, vejam!
Um por um os homens observaram o bilhete nas mãos do delegado. Jerônimo pegou-o e entregou-o ao promotor. Pedro Barros reiniciou a discussão.
PEDRO BARROS - Se é verdade que o novo prefeito está contra o irmão, nós todos exigimos... que ele mesmo... escolha os homens... voluntários... que queiram ajudar a agarrar o João, conforme o prometido!
Jerônimo buscou ajuda nos olhos do amigo. Diante dele dezenas de outros olhos acusadores, exigiam uma decisão urgente. Com as mãos trêmulas, o rapaz apontou a multidão.
JERÔNIMO - Quem quiser ir... que dê um passo á frente... Você. (outro sujeito apresentou-se) Você... você... você.
DELEGADO FALCÃO - Você também, Valdemar... e você, Juquinha... olha aí, gente... não tou obrigando ninguém.
PEDRO BARROS - (rodando o chicote nas mãos) Todos estão de acordo em que é preciso acabar esse clima de terror na cidade, ou não estão?
DELEGADO FALCÃO - O prefeito tem que ajudar a gente!
JERÔNIMO - Só peço que tenham cuidado com a vida dele. É de direito que ele seja preso e que aguarde julgamento. Não é direito que matem ele.
PEDRO BARROS - (berrou) Mas... eu quero ele, vivo ou morto! Se um de vocês pegá ele, tem 5 milhões. Cinco por ele morto; 10 por ele vivo. Estamos entendidos?
RODRIGO - Com que direito o senhor faz exigencias desse tipo, seu Barros? Não é autoridade policial. Não é autoridade judicial. Não é nada. Acho que Coroado tem prefeito, juiz, promotor e por último um delegado. A esse é que cabe zelar pela segurança e exigir em nome da lei. Não lhe reconheço nenhuma autoridade. E a oferta que está fazendo é um estímulo ao crime. Posso prendê-lo por isso...
Barros cerrou os dentes e procurou refúgio nas palavras do delegado, que argumentou:
DELEGADO FALCÃO - A verdade é que o coronel está sèriamente ameaçado e tem de se proteger. Vocês entendem. O João prometeu vir pegar o Braz, amanhã, ás 5 horas. A gente espera ele, rodeando a cidade, todo mundo armado. Por isso, preciso de vocês. Vamos ver se ele cumpre a palavra! Agora, vamos indo até a delegacia. Tenho umas ordens para dar a vocês...
PEDRO BARROS - Vai indo. Eu já vou já, Falcão.
Pedro Barros parecia, àquela altura, o verdadeiro xerife da cidade. Os homens espalharam-se, permanecendo apenas Barros, Rodrigo e o prefeito. O coronel aproximou-se dos inimigos.
PEDRO BARROS - Parece que a gente agora vai enfrentar a mesma luta, Jerônimo... A vida jogou a gente de um lado só!
JERÔNIMO - (blasfemou) Do seu lato eu não estou, nem que fosse do lado de Jesus Cristo!
PEDRO BARROS - (voltou-se para o promotor) E você pensa que me derrubou, Rodrigo?
RODRIGO - Ainda não. Isto é apenas o começo.
PEDRO BARROS - Sabe que se eu tivesse medo das suas ameaças já tinha mandado você pro outro mundo?
RODRIGO - Não tenho a menor dúvida. Sei que o senhor é um assassino. Há muitos anos...
PEDRO BARROS - (cortou) Estamos num jogo. Num jogo interessante. Eu, João, Jerônimo e você. Eu fico com Jerônimo.
RODRIGO - Contra você eu fico até com João, se for o caso.
PEDRO BARROS - (sorria, cínico, calculista) Você se meteu numa enrascada, doutorzinho!
FIM DO CAPÍTULO 78
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...
*** O PLANO DE JOÃO DÁ CERTO E CONSEGUE RESGATAR BRAZ DA PRISÃO, DEIXANDO PEDRO BARROS E FALCÃO ATRÁS DAS GRADES!
*** PEDRO BARROS REÚNE SEUS CAPANGAS PARA IR ATRÁS DE JOÃO!
*** O PLANO DE JOÃO DÁ CERTO E CONSEGUE RESGATAR BRAZ DA PRISÃO, DEIXANDO PEDRO BARROS E FALCÃO ATRÁS DAS GRADES!
*** PEDRO BARROS REÚNE SEUS CAPANGAS PARA IR ATRÁS DE JOÃO!
NÃO PERCA O CAPÍTULO 79 DE
Toni, que legal esse capítulo! Tenso, mas muito bom! Vou aguardar o resgate de Braz Canoeiro da prisão. Bjs.
ResponderExcluirTá esquentando, Maria! Muita ação e emoção vindo por aí!
ResponderExcluirBjs!