quarta-feira, 12 de outubro de 2011

SESSÃO SAUDADE - ESPECIAL DIA DA CRIANÇA - COLABORAÇÃO: MARIA DO SUL


MINHA INFÂNCIA NOS ANOS SESSENTA

Nasci na década de 50, mas minhas memórias mais fortes, são da década de 60, por isso gostaria de compartilhar as lembranças que tenho dessa época:
Naquele tempo, a vida de uma criança, era muito diferente da vida de uma criança do terceiro milênio!  O lazer infantil era simples sem tecnologia.  Eu, meus irmãos, primos e amiguinhos brincávamos muito ao ar livre.  As meninas pulavam corda, amarelinha, que aqui chamávamos de sapata, brincavam de roda, ovo-podre, e outras brincadeiras das quais eu muito gostava! Os meninos jogavam bola, às vezes nem bola tinham, mas improvisavam uma com trapos e papel dentro de uma meia velha, brincavam de pega-pega e outras brincadeiras que nem sei o nome, afinal eu era menina, rsrsrs. Existiam as brincadeiras de meninas e de meninos, na escola uma professora tentava mudar isso, fazendo os meninos brincarem de roda com as meninas, mas isso durava enquanto ela estava junto, quando ela voltava para a sala das professoras, os meninos começavam a debandar.
Eu como todas as meninas da época, gostava de brincar de casinha, com minha irmã, minhas primas e umas meninas vizinhas. Ficávamos horas entretidas com panelinhas, copinhos, pratinhos e outros objetos que se prestassem para esse fim, como tampinhas de lata de fermento, medidor de remédios, etc. e todas as latinhas, caixinhas e vidrinhos que iriam para o lixo, e que em nossas mãos, tinham mil e uma utilidades, servindo de panelas, mesas, mamadeiras das bonecas, que eram tratadas com muito carinho, ganhando roupinhas feitas de retalhos de tecidos que as mães guardavam quando costuravam nossas roupas. Eu tive duas bonecas, uma ganhei quando tinha uns dois anos, e outra, que fechava os olhos e tinha “cabelo de verdade” da Estrela, essa, só ganhei depois de muito pedir, quando fui com minha mãe fazer as compras de Natal e vi uma passarela que começava na entrada da loja e acabava no fundo, com mais de cinquenta bonecas de todos os tipos e tamanhos, deixando-me em desespero!   Minha mãe tentou me engambelar, propondo outros brinquedos mais baratos, mas, eu fiquei com idéia fixa, (e os olhos também) nas bonecas, até que ela sem saída, incentivada pela vendedora, comprou a de menor preço com “cabelo de verdade” e “olhos que fechavam”.  Aquela compra não programada aumentou muito o valor das prestações e meu pai não gostou muito dessa novidade!   Voltei pra casa feliz, e essa foi a última vez em que fui as compras de Natal com minha mãe.
No Natal, os presentes, eram simples: roupas ou tecido para roupas, calçados, guarda-chuva, sempre algo de que necessitávamos. Brinquedo no Natal era raro, eu tinha uma vizinha, D. Antônia, que era a Mamãe Noel das crianças de nossa rua, e como eram várias crianças, os presentes eram baratos: piões, cestinha de plástico, carrinhos de plástico, cornetinha, e outras coisinhas simples que ela comprava num armazém das redondezas. Mas nos alegravam tanto!  Acho que todas aquelas crianças, hoje adultas, lembram com carinho de Dona Antônia!
Nos aniversários, presente era o menos importante, ninguém esperava muita coisa, era muito comum receber um sabonete Gessy, que a gente guardava com cuidado e muitas vezes repassava pra outro aniversariante, meses depois, rsrsrs. Também se ganhava talco, numas caixinhas quadradas, que depois de vazias, serviam pra fazer cestinhas de páscoa, ganhavam-se também tiaras e prendedor para cabelos, meias, roupas íntimas, livrinhos de histórias, chocolate. Nos aniversários, o comum era um bolo com merengue, geralmente feito pela mãe do aniversariante, docinhos de abóbora ou batata, de coco, de leite condensado (cru), o meu preferido!  Salgadinhos, não usávamos muito, pelo menos nos aniversários, de que me lembro. Minha mãe fazia às vezes uma salada, sem maionese, (que nem conhecíamos). Muitas mães serviam também sagu com vinho, que era muito apreciado! O bom do aniversário era a reunião com a criançada da vizinhança, todos se divertiam muito nessa ocasião! E comiam com prazer o bolo e os docinhos.
A alimentação das crianças era menos industrializada, criança comia gemada, ovo quente, amendoim torrado, bife assado na chapa do fogão de lenha, pão com manteiga ou doce. Meu prato preferido era arroz, feijão, purê de batata, bife e alface, e como bebida, limonada. Refrigerantes, os poucos que existiam na época, eram para os dias de festa.  Eu não conhecia cachorro-quente, pizza, brigadeiro. Batata frita, a mãe fazia, muito de vez em quando, quando a carne estava pouca. E de merenda para a escola, levávamos pão com um bife que sobrara do almoço, ou pão com doce. Eu às vezes trocava com uma coleguinha a goiabada do meu pão por um doce de laranja do pão dela. Às vezes levávamos banana, laranja ou bergamota e em caso de faltar merenda, passávamos num boteco e comprávamos 200 gramas de biscoitos ou alguma cocada ou rapadurinha.
Quando algum alimento fazia mal, tomávamos Leite de Magnésia e fazíamos a dieta recomendada pelo médico: Chá da Índia (chá preto) com bolachinhas, e maçã ralada. O brabo era adoecer em época de aniversário, rsrsrs. 
Na escola, nos primeiro anos, tínhamos dois cadernos, um “de linhas” e outro “de quadrinhos”, um lápis preto, uma borracha (opcional), uma lâmina de barbear usada, para apontar o lápis, lápis de cor, quando dava, uma caixa com doze cores, quando não encontrávamos a de doze, a de seis cores quebrava o galho. Um dia uma colega quase matou a turma de inveja, ao chegar com uma caixa de vinte e quatro lápis de cor, dos grandes! Mas isso era raridade. Eu tinha uma pasta verde, pra levar o material, mas muitas crianças usavam uma bolsa de pano feita pelas mães.
Em tempos de férias, o lazer era visitar os primos, brincar na praça, (eu adorava andar na gangorra, no escorregador e nos balanços) e muito raramente, quando vinha algum parque de diversões, andar nos carrinhos e nos cavalinhos. Em casa, ficava ouvindo rádio, nas horas em que o pai não estava ouvindo notícias e a mãe novelas, era um rádio só para todos. Mas, quando eu estava dodói, de cama, meu pai me emprestava o rádio e eu ouvia o dia inteiro!
Naquele tempo, eram raros os programas de rádio para crianças, mas lembro com saudades de uma novelinha para crianças que passava às 18 h na Rádio Farroupilha, com vários personagens fixos, com historinhas que começavam segunda-feira e terminavam na sexta-feira. O personagem principal era o Cafuru, que quando alguém estava em perigo, virava o Super Ra-Ga-Le (a astúcia da raposa, a agilidade do gato e a força do leão) que logo, dava um jeito nos vilões! Também recordo o Clube Infantil Trevi, aos domingos pela manhã, na Rádio Cultura de Pelotas, onde crianças apresentavam-se como calouros, e quando conseguiam cantar, ganhavam pacotes de café e de massas Trevi, a patrocinadora do programa. Meu pai nunca me deixou cantar lá, snif, snif. E, foi lá que começou a carreira musical de Kleiton e Kledir. Lembro também de outro programa legal, à tardinha, com historinhas e musiquinhas infantis. Eu gostava muito de ouvir a cantora mirim Maria Regina (Cordovil) que cantava entre outras, a música A Primavera Chegou.
Naquele tempo, muito pouca gente tinha televisão, e as pessoas dormiam cedo. Eu, quando criança, ás 20,30h já estava na cama!  E era assim a vida de uma menina, do sul do Brasil, na década de 60, sem mordomias, sem tecnologia, mas também sem depressão. Lembro com saudade dessa época!

3 comentários:

  1. Maria; amei seu relato!!!!! Como vc. consegue lembrar disso tudo? Não me lembro de nada; quais brinquedo tive; só me lembro que eu colocava uma latinha amarrada na sandália para fingir que era sapato alto kkk e me lembro também que uma vez meu pai me deu uma lata de talco muito cheiroso e tbém em um aniversário meu ganhei uma imagem de São Cosme e Damião( porque sou de gêmeos); então saí correndo com o presente na mão; caí e quebrou tudo kkk as vezes hoje me pergunto; parece coisa do destino mesmo; porque nunca gostei de imagens; mesmo antes de ser evangélica; mas naquela época gostei do presente e fiquei triste qdo se quebrou.... Engraçado que eu só me lembro dessas passagens; não me lembro como e qdo e nem datas.....Maria; gostei muitoooooo mesmo da sua narração ! bjs.

    ResponderExcluir
  2. Mari, fiquei contente por você ter gostado. Eu na realidade lembro só de algumas passagens da infância, mas lembro também de uma ocasião em que ganhei um vidro de esmalte cor de rosa, vistoso, e, como você com a imagem, fiquei muito contente e saí correndo para mostrar para meu pai e o esmalte saltou longe, espatifou-se no chão e foi aquela choradeira! Essas coisas a gente nunca esquece, rsrsrs. Mari, muito obrigada pelo incentivo, bjs.

    ResponderExcluir
  3. Maria, curti muito e viajei no seu relato, muito rico em lembranças! Cá pra nós: vai me dizer que nunca brincou de pêra, uva, banana, maçã, e dava uns beijinhos nos meninos da vizinhança? Pô, isso era comum na minha infãncia! ahahahah
    Bjs!

    ResponderExcluir