Por sugestão de nosso amigo Toni Figueira, autor da belíssima versão de Irmãos Coragem publicada nesse blog, reproduzimos abaixo a mensagem de Renata Dias Gomes, co-autora da novela Uma Rosa com Amor, escrita quase no final da primeira exibição.
Essa reprodução fica como nossa homenagem à escritora e seus companheiros que foram injustamente demitidos pela direção do SBT.
A eles, a nossa solidariedade.
Boa leitura!
Uma Rosa com Amor
A sensação é de vazio. Uma Rosa com Amor vai chegando ao final – no texto. no ar ainda tem muita coisa pra rolar – e ainda não pensei em como vai ser acordar e não ter que pensar na próxima aventura de Serafina Rosa Petroni.
Escrever novelas é um pouco como brincar de Deus. Praticamente um ano vivendo intensamente com companhias que não existem. E decidindo seus destinos, punindo, premiando, vivendo as emoções do outro. E o outro não existe.
Impossível não me apegar aos personagens, suas histórias, seus dramas internos. Cada frase pensada, escrita, falada. Como é gostoso ver a vida pensada na frente do computador tomar forma. E agora? A Serafina vai decidir sua vida com o Claude. E eu? Aqui nessa mesma cadeira só me resta pensar em outras vidas para levar.
Uma Rosa com Amor foi especial. Quando recebi o telefonema do Tiago Santiago convidando para colaborar com ele na novela, não imaginei que pudesse ser uma experiência tão maravilhosa. Como aprendi com ele! Tiago é generoso, criativo, organizado, motivador, maravilhoso como chefe e como autor. Recebi dele uma chance única de viver intensamente o processo de criação da novela e tentei aproveitar cada segundo, cada nova função. Nunca trabalhei tanto e nunca fui tão feliz.
Um presente ter na equipe Miguel Paiva. Eu cresci lendo as tirinhas da Radical Chic e de repente ele estava ali,na minha frente, discutindo rumos dos mesmos personagens.
Presente também foi poder escrever pro Claudinho Lins e pro Toni Garrido que me viram quando eu tinha o tamanho da minha filha, para Carla Marins que marcou minha adolescência como a Joyce de História de Amor, pra dona Etty Fraser maravilhosa e Jussara Freire, indiscutivelmente uma das maiores atrizes do Brasil.
Mas nada pode ser comparada a emoção de escrever para Betty Faria. Como atriz, Betty fez a Lucinha de Pecado Capital e não precisava ter feito mais nada e já teria entrado pra história. Mas Betty fez mais e ainda foi Tieta!
Como atriz ou como amiga, Betty sempre esteve presente na minha família. Eu a conhecia das histórias que meu pai contava e dos filmes de super 8 da família. Sempre linda, sorridente, marcando presença nos chás da minha vó ou nas clássicas festas de ano novo. Foi Betty quem representou as amigas da minha vó no documentário produzido pelo SBT. Mesmo sem conhecê-la pessoalmente, sempre tive a sensação que estava por ali, por perto. Não posso nem dizer que escrever para Betty foi a realização de um sonho porque acho que em sonhos não seria tão generosa comigo. Betty Faria pra mim sempre foi mais que um ídolo, um mito.
Foi com Uma Rosa com Amor que descobri a delícia do emocionar. Sempre gostei de tramas políticas, sociais e Uma Rosa com Amor não é isso. Mas provoca torcidas, reações, paixões; emociona!
Como é gostoso escrever novela, chegar aos cantos mais remotos do país – e do mundo!- e ver como a mesma história bate diferente em cada lugar, em cada família, em cada pessoa. Indescritível o prazer de ver o envolvimento do público com a história e os personagens. O sorriso, a lágrima, a emoção. Novela é indústria, tem obrigação de dar lucro e retorno ao investidor, mas é feita por artistas. Comunica, leva sonhos ,também os meus sonhos, à casa de cada um. E com toda ansiedade da entrega diária dos capítulos é possível mexer com as pessoas.
Fui uma adolescente que queria mudar o mundo com a minha arte. Não desisti. Mas mudei. Diria que hoje quero tocar o mundo com a arte.
Renata Dias Gomes
JE, gostei dessa mensagem da Renata, ela escreve muito bem! Legal!
ResponderExcluirMuito obrigado, JE, por postar esse texto que achei muitobem redigido e muito bonito!
ResponderExcluirAbraço!