quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 118 - AUTOR: TONI FIGUEIRA


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 118

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

JERÔNIMO
POTIRA
DELEGADO CASTRO
LÁZARO

CENA 1  -  ALDEIA  -  CHOUPANA  -  INT.  -  DIA.

Jerônimo penetrou alegre na sala de barro – chão, paredes, o próprio ar parecia tresandar a barro.

Potira aguardava-o, sentada num tamborete. O enjôo da gravidez começava a torturá-la.


JERÔNIMO  -  Índia, se alegra! João encontrou a solução pra nós!

POTIRA  -  Fala, bem, nunca te vi tão animado! Tá até corado, virge!

JERÔNIMO  -  (mostrou-lhe o diamante)  Olha só pra isto!

POTIRA  -  O que é?

JERÔNIMO  -  O diamante de João! Ele me deu. Vai ajudar a gente a dar sumiço daqui. A gente vai tentar sair do país e vender ele fora daqui. Nós estamos ricos, bem! Só João é capaz de um ato desses.

POTIRA  -  Virge mãe! É bão demais!

CORTA PARA:

CENA 2  -  MATA ADENTRO  -  EXT.  -  NOITE.


A fuga, infelizmente, para os três, não fora perfeita e os homens do delegado vasculhavam o mato, à procura deles como cães atrás de gatos.


DELEGADO CASTRO  -  Não podem estar longe.  Eles desapareceram por aqui. Procurem por todo buraco que existe. Têm de estar por aqui!

Havia algo mais importante para os soldados. Não tanto o fugitivo da lei. E sim o diamante que sabiam encontrar-se com ele.


DELEGADO CASTRO  -  (ordenou)  Aquele que vir os fugitivos, grite!

CORTA PARA:

CENA 2  -  MATA ADENTRO  -  MOITA  -  EXT.  -  NOITE.


O grupo enfurnara-se numa moita mais densa, ajudado pela noite sem lua.

Lázaro comentou, em voz baixa, ao perceber o ruído proveniente da queixada do animal que pastava.


LÁZARO  -  Esse desgraçado vai dedurar a gente.

POTIRA  -  Temo que rezá preles não descobri esse lugá!

JERÔNIMO  -  Reza, índia, reza porque aquele maldito animal tá ali pra delatar.

As primeiras vozes chegavam aos ouvidos dos fugitivos e o barulho conhecido das armas, das botinas a pisar na terra. A escuridão dominava tudo. Trevas. Apenas trevas.


LÁZARO  -  São eles! Tamo perdido!

JERÔNIMO  -  (com o olhar fixo na jovem companheira, que sofria)  Vamo abri fogo!

LÁZARO  -  Não! (ponderou, mais acostumado às lutas e às fugas)  Espera! Tenho uma idéia! Eu vou pegá o animal. Monto ele e sumo, pra despistá os desgraçado.

JERÔNIMO  -  Não, Lázaro! (previa o perigo da empreitada)  Tu não vai fazer isso! Eles te matam! Garanto que você não consegue dar um passo!

LÁZARO  -  Sou rápido, Jerônimo. Só pra levá eles pra outro lugá. (levantou-se e pulou uma ribanceira. Num salto ágil alcançou o lombo do animal)  Adeus, companheiro!

CORTA PARA:

CENA 3  -  MATAGAL  -  EXT.  -  NOITE.


DELEGADO CASTRO  -  Pare! Pare!

O cavalo transpunha bom trecho da região, com um vulto debruçado sobre o pescoço negro.

Jerônimo ouviu distintamente o pipocar das armas.


O delegado tornou a gritar, procurando coordenar os movimentos dos soldados.


DELEGADO CASTRO  -  Cuidado! Eles estão por aqui!

CORTA PARA:

CENA 4  -  MATA ADENTRO  -  MOITA  -  EXT.  - NOITE.


Jerônimo cochichava ao ouvido da mulher, estendido contra o solo.


JERÔNIMO  -  Lázaro... eles... acertaram nele!

POTIRA  -  Talvez não, Jeromo.

JERÔNIMO  -  Mataram... eu vi! (levantou-se de um salto, desvairado)  Seus... desgraçados!  (premiu o gatilho e atirou, a esmo)  Vem pegá a gente! Vem pegar se são homens! Vem seus miseráveis!

Alucinado, o rapaz continuou atirando para todos os lados, iluminando a noite com o clarão avermelhado da arma. Os estampidos enchiam o silencio da mataria. Ouviu por entre o barulho a voz grave do delegado:


DELEGADO CASTRO  -  Jerônimo Coragem... te dou um minuto pra sair desse buraco! Se você não sai... eu vou atirar pra valer!

JERÔNIMO  -  Atira! Vem! Vem que você também leva chumbo! Delegado do diabo!

DELEGADO CASTRO  -  Você está se suicidando, Jerônimo!

JERÔNIMO  -  Tou esperando o primeiro safado que tiver coragem de se aproximar daqui!

DELEGADO CASTRO  -  O tempo está passando, Jerônimo!

JERÔNIMO  -  Eu não tenho mais tempo (replicou, já com a voz alterada)  Não tenho mais nada! Vocês me tiraram tudo... o direito de tudo... Mas não me entrego!

POTIRA  -  (gemeu)  Vai sê a morte, Jeromo!

JERÔNIMO  -  Vai ser a morte pra mim e pra eles!

DELEGADO CASTRO  -  (a voz do delegado parecia estar a poucos metros. Ou seria ilusão?)  Entregue-se, Jerônimo!

JERÔNIMO  -  Mataram meu companheiro. Não deram nem o direito dele se defender. Vão fazer o mesmo com a gente, índia!

Gérson de Castro ouvira as palavras atemorizadas de Potira e advertiu com sinceridade.


DELEGADO CASTRO  -  Eu te dou minha palavra de que respeito tua vida Jerônimo. Joga tuas armas!

POTIRA  -  (gritou)  A gente se entrega, delegado!

JERÔNIMO  -  Cala a boca, índia!

POTIRA  -  (objetou com sensatez)  Eu não quero morrê, Jeromo. Eu quero vivê com você, com nosso filho... A gente tem direito!

A mestiça tentou levantar-se. Jerônimo impediu-a com a mão firme. Possante.


JERÔNIMO  -  Não faz isso, índia!

POTIRA  -  É melhor pra gente, Jeromo!

DELEGADO CASTRO  -  (gritou, resmungão)  Tempo esgotado, Jerônimo. O que você resolve?

A mestiça levantou-se aproveitando-se de um descuido do amante.


POTIRA  -  Eu vou me entregá! Jeromo... se entrega também.

JERÔNIMO  -  Eles te matam, índia!

POTIRA  -  (gritou, comunicando-se com o policial)  Me dá sua palavra, delegado?

DELEGADO CASTRO  -  Venha, Potira. Te dou minha palavra.

Com um gesto enfurecido ela se libertou do rapaz e correu para a clareira.


JERÔNIMO  -  Maluca!

Um dos homens do delegado fez pontaria. O tiro ecoou na mataria. Gerson de Castro pulou, esbofeteando o soldado.


DELEGADO CASTRO  -  Seu louco! Dei minha palavra!

A índia levou a mão ao peito e caiu nas proximidades do esconderijo. Uma mancha vermelha tingiu-lhe a blusa, enquanto, no chão, uma poça rubra aumentava a cada segundo.

Jerônimo puxou-a para o interior do mato. Enlouquecido.


JERÔNIMO  -  Índia! Índia! Índia, o que foi isso? Mataram ela! A índia tá morta! (levantou o corpo da mulher nos braços e rugiu para os soldados à sua frente)  A índia tá morta... a índia morreu! Mata a mim também, desgraçados. Assassinos! Me mata também! Bandidos! Mataram a minha índia! Me mata também!

O rapaz atirava a esmo na escuridão da noite.


DELEGADO CASTRO  -  (advertiu-o)  Pare de atirar, Jerônimo! Pare!

O rapaz perdera o juízo. Inteiramente desvairado.


JERÔNIMO  -  Mata a mim também! Mata a mim também!

Uma chuva de balas atingiu-o mortalmente. Num último esforço Jerônimo Coragem olhou a face pálida da mulher a quem amava. As forças fugiam-lhe. Seus joelhos se vergaram.  Mas o corpo inanimado da mestiça permanecia seguro. Os tiros haviam cessado. Apenas o silencio e o resfolegar do homem que morria.


Jerônimo encostou os lábios na pele morena da mulher e caiu por terra, sobre o seu corpo.



FIM DO CAPÍTULO  118


A
ANTOLÓGICA
MORTE DE
JERÔNIMO E POTIRA



e no próximo capítulo...

***  Desvairado, João chora sobre o corpo dos irmãos.

*** Coroado parou para assistir a chegada dos corpos de Jerônimo e Potira

*** Diante da população de Coroado, João partiu o diamante em mil pedaços!

 NÃO PERCA O PENÚLTIMO CAPÍTULO DE

E VEM AÍ...
ESTRÉIA DIA 01 DE FEVEREIRO

Um comentário:

  1. Toni que triste esse capítulo! Que final infeliz esse de Potira e Jerônimo! E tudo poderia ter sido diferente, se o velho Sebastião não tivesse feito tanto mistério sobre a origem de Potira. Uma pena! Bjs

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