A crônica que transcrevemos abaixo é da
autoria de Tatiana Belinky.
Para maiores informações sobre a autora,
favor acessar: http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_lit/index.cfm?fuseaction=biografias_texto&cd_verbete=5303.
Aproveitamos essa crônica, para
homenagear também a todos os professores e professoras, do primário até a
universidade.
Boa leitura!
CRÔNICA PARA
DONA NICOTA
Foi nos anos finais da década de 40. (Há
tanto tempo!) Meu primogênito Ricardo completara 6 anos de idade, e resolvemos
matriculá-lo no primeiro ano primário da Escola Americana, do já então
tradicional Mackenzie College, que ficava a três quadras da nossa casa. E
Ricardinho, que era uma criança tímida e um tanto ensimesmada, não gostou nem
um pouco da experiência de ficar "abandonado" num lugar estranho, no
meio de gente desconhecida — uma coisa para ele muito assustadora. E não houve
jeito de fazê- lo aceitar tão insólita situação. Ele se recusava até mesmo a
entrar na sala: ficava na porta, "fincava o pé", sem chorar mas
também sem ceder... Eu já estava a ponto de desistir da empreitada, quando a
professora da classe, dona Nicota, se levantou e veio falar conosco. E todo o
jeito dela, a maneira como ela olhou para o Ricardinho, o timbre e o tom da sua
voz, a expressão do seu rosto e até a sua figurinha baixinha, meio rechonchuda,
não jovem demais, muito simples e despojada, causaram imediatamente uma
sensível impressão no menino. A tensão sumiu do seu rostinho, seu corpo
relaxou, e - ora vejam! - ele respondeu com um sorriso ao sorriso da dona
Nicota!
- Vem ficar aqui comigo - ela disse. -
Você vai gostar. - E acrescentou, para minha surpresa, - Eu mesma vou levar
você para a sua casa. E amanhã cedo, eu mesma vou buscar você, para vir à
escola comigo.
Eu não sabia como agradecer. E nem foi
preciso — o que dona Nicota disse, ela cumpriu. E durante vários dias, até
semanas, ela passou pela nossa casa, pouco antes do início das aulas, e levou o
Ricardinho pela mão, a pé, até a escola e a sua sala. E o trouxe de volta, da mesma
maneira. E até quando, certo dia, o menino estava adoentado e não pôde ir à
escola, ela voltou para lhe dar uma "aula particular", em casa — para
ele não se atrasar no programa. Tudo isso na maior simplicidade, como se fosse
a coisa mais natural do mundo...
O Ricardinho adorava a dona Nicota - e
não era para menos. Dona Nicota era a mais perfeita e linda encarnação da
"professora primária" ideal - a mais nobre e fundamental das
profissões: a de ser a primeira a preparar uma criança pequena nas suas primeiras
incursões na vida real - com competência, dedicação, compreensão, paciência e
carinho. E a consciência plena de estar dando à criança uma verdadeira base
para o futuro cidadão.
Por que estou contando tudo isso a vocês, hoje? Porque, no Dia do Professor, eu
senti que não poderia prestar maior homenagem a todos os
"mestres-escolas" do Brasil do que incluí-los nesta
"crônica-tributo" a dona Nicota, exemplo e paradigma de uma modesta e
maravilhosa professora "montessoriana" e um grande ser humano.
Ricardo saiu de sob a asa de dona Nicota
lendo e escrevendo. E hoje, jornalista, tradutor e escritor, esse avô de três
netos continua se lembrando de dona Nicota, com carinho e gratidão.
Essa dona Nicota que a estas horas deve
estar dando aulas montessorianas aos anjinhos do céu.
Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/fundamental-1/cronica-dona-nicota-634218.shtml.
Que bela crônica! Lendo, lembrei com carinho de minha primeira professora. Amei essa crônica!
ResponderExcluirLinda crônica! Bem simples! Gostei!
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