Capítulo 21 - Laços
Fabrício
olhou para Emanuela não acreditando no que estava vendo. Verônica reconheceu a
garota que estivera outro dia em sua casa.
— Ah?
Você não é a garota do outro dia? Mas... O que está fazendo aqui?
Emanuela
ia falar algo, mas foi interrompida.
— Ela
mora aqui. – disse alguém descendo as escadas.
Era
Viviane. Emanuela olhou para Vivi e percebeu que ela estava um pouco diferente.
Se antes Viviane parecia desgostar de Emanuela, agora parecia que ela a odiava.
— Oi,
amiga! Então, já está pronta? – disse Viviane, logo depois que desceu as
escadas e percebendo o rapaz. – Como conseguiu convencer o Fabrício? –
perguntou ela sorrindo.
— Eu tenho
minhas técnicas. – respondeu Verônica sorrindo e, em seguida, olhando para
Emanuela. – Então, você disse que ela mora aqui?
Viviane
olhou para Emanuela que ainda estava ali.
— É, pelo
menos por enquanto. Venham para o meu quarto, assim eu arrumo tudo enquanto
conto para vocês.
As duas
subiram as escadas, enquanto Fabrício permanecia parado como se não conseguisse
se mover.
— É uma
surpresa te encontrar aqui. Se eu soubesse, poderia ter evitado. – disse ele um
pouco frio.
— Eu... –
disse Emanuela sem jeito. – Eu peço desculpas... Pelo que aconteceu naquele
dia.
— Não
precisa. A culpa foi minha. Eu presumi algo que de fato não era verdade. Com
licença. – disse, saindo e subindo as escadas.
Emanuela
o observou subir as escadas. Mariana, que estava observando os dois há algum
tempo, aproximou-se.
— Nossa,
que coincidência mais louca. – disse ela.
Emanuela
virou-se.
— Você
ouviu?
— Hum...
Parece que eu estava certa. Vocês brigaram, não foi? O que aconteceu?
— Não foi
nada... – disse Emanuela distante.
Mariana
olhou séria para a irmã.
— Ah,
entendo.
***
Viviane
acabava de contar para Fabrício e Verônica sobre as gêmeas que agora estavam
morando na mansão.
— Então, aquela
era uma das netas do seu avô? Nossa... Que coincidência. – disse, olhando para
Fabrício e falando com Viviane. – Então, você está se dando bem com elas?
Viviane,
que estava sentada na cama, olhou irritada para Verônica.
— Do que
está falando? Para mim elas não passam de uma farsa. Umas fingidas. E eu vou
desmascará-las. No dia do meu aniversário, todos vão ter uma surpresa. E isso é
segredo. Ai de vocês se contarem para alguém.
Verônica
parecia preocupada.
— Vivi...
O que está pensando em fazer? Não faça besteiras.
— Não se
preocupe, o que eu vou fazer vai ser para o bem de todos. Todos vão me
agradecer depois. Você acredita que uma delas teve a ousadia de dar uma tapa na
minha cara?
— Qual
delas? – perguntou Verônica surpresa.
— A tal
da Emanuela. Mas ela não perde por esperar. A vingança é um prato que se come
frio.
Fabrício
que também estava no quarto e ouvia a conversa das garotas encostado à parede
também reagiu ao ouvir aquilo.
— O que disse
a ela, Vivi? – perguntou ele. – Ela não é o tipo de pessoa que bateria em
alguém por qualquer coisa.
Viviane
olhou irritada para Fabrício.
— O que está
falando? Eu fui a vítima, ok? – e olhando curiosa para Fabrício. – Mas você
fala como se a conhecesse... De onde a conhece?
— Não é
da sua conta. Vou esperar vocês lá embaixo. – disse, saindo.
Vivi olhou
em direção à porta pensativa, depois se virou em direção a Verônica.
— Mudando
de assunto... Você vem na minha festa de
aniversário, não é?
Verônica
sorriu.
— Claro
que sim! Mesmo se eu não quisesse vir, você iria até a minha casa e me
arrastaria até aqui. – disse Verônica, fazendo cara de desgosto.
— Se não
quiser vir, então, não venha.
Verônica
riu.
— Nossa,
Vivi. É claro que eu venho, sua chata. Principalmente, porque aquele seu primo
bonitão vai vir, não é?
— Provavelmente.
Verônica
sorriu.
— Então,
pode ter certeza que eu venho.
Viviane
olhou para a amiga desconfiada.
— Você
vai vir por minha causa ou por causa do meu primo?
— Por sua
causa! – disse ela de repente. – Óbvio, não?
Viviane
olhou para Verônica com desgosto.
— Não
vejo nada óbvio.
***
Fabrício
descera para a sala novamente. Era quase insuportável ficar ouvindo a conversa
da irmã com a Vivi. Olhou a sala como se estivesse procurando alguém, foi em
direção à biblioteca e percebeu que a porta estava entreaberta. Olhou para
dentro e viu alguém sentado em uma cadeira, lendo um livro que estava em cima
da mesa.
Bateu de
leve na porta, indicando que estava entrando. A pessoa olhou em direção à porta
e sorriu.
— Você é
a Mariana, acertei? – disse Fabrício, entrando.
— Sim. – disse
Mariana sorrindo, tentando esconder a surpresa. – Estava procurando a minha
irmã?
Fabrício
desviou o olhar de repente.
— Não...
Por que eu procuraria?
— Vocês
dois...?
— Vocês
dois o quê? – perguntou ele.
— Não,
nada.
Fabrício
olhou para Mariana e sentou-se perto dela, ele se inclinou a ela.
— Posso
lhe confidenciar algo?
Mariana se
sentiu um pouco nervosa. Fabrício estava perto o suficiente para que ela
pudesse sentir o cheiro do seu perfume.
— O-o
quê?
— A
verdade... – disse ele, olhando nos olhos dela.
— A-A
verdade...?
— A
verdade é que eu não entendo a sua irmã... Não tem como saber o que ela pensa,
entende?
Mariana
expirou como quem estivesse prendendo a respiração por muito tempo e voltou-se
ao livro.
— Ela
sempre foi assim. É só você ter um pouco mais de paciência.
—
Então... Você acha que eu tenho alguma chance com a sua irmã?
Mariana
olhou para Fabrício.
— Ah...
Você deveria perguntar isso a ela, não acha? Só conversando vocês dois podem se
resolver. A Manu pode parecer um pouco estranha, mas a verdade é que ela só não
consegue demonstrar muito o que sente... Mas o que aconteceu exatamente entre
vocês dois? Vocês brigaram?
— Ela não
te disse?
Mariana
balançou a cabeça negativamente. Fabrício olhou para ela, pensando se falaria
ou não. Por fim se decidiu.
— Eu a
beijei. – disse de repente.
Mariana
olhou assustada para o rapaz.
— V-você
o quê?
— Eu a
beijei. – repetiu ele. – Mas você está bem? Parece pálida de repente.
— Não foi
nada... – disse Mariana, tentando esconder a sua surpresa. – E... E o que ela
fez em seguida?
— Isso é
o mais estranho... Ela não ficou com raiva, mas também não ficou feliz. E disse
que eu tinha feito tudo por ela com essa intenção. Como se eu quisesse me
aproveitar dela, entende?
Mariana
pareceu pensativa, depois sorriu.
— Não
leve tão a sério o que a Manu fala. Ela pode parecer insensível, mas tenho
certeza que só falou isso porque se sente confusa. Às vezes... É como se ela
tivesse medo dos próprios sentimentos e emoções.
Fabrício
ficou com uma expressão de quem começava a entender.
— Ah,
então deve ser isso. – e sorrindo - Foi bom conversar com você. Me ajudou a entender algumas coisas. – e
levantando-se – Mas onde está a sua irmã mesmo?
— Pensei
que não perguntaria. – respondeu ela sorrindo – Ela está falando com o Dr.
Otávio no momento.
— Ok,
então. – disse ele, saindo.
Assim que
Fabrício saiu, Mariana respirou fundo. Parecia que não havia respirado há muito
tempo.
“Nessas
horas eu gostaria tanto de falar com alguém... Se eu estivesse no hospital,
poderia falar com o Dr. Rafael.” – pensou, suspirando novamente.
***
Emanuela
estava em frente à mesa onde o Dr. Otávio estava. Observava o ambiente ao redor,
enquanto esperava que ele terminasse um telefonema.
— Então,
Emanuela... Falei com o um responsável do setor de RH e você poderá trabalhar
como aprendiz na área Administrativa do Grupo. Poderá ficar auxiliando algum
Diretor. Se quiser, pode começar amanhã mesmo, na segunda. Quanto ao
pagamento...
— Não
precisa me pagar. – disse Emanuela, interrompendo.
— Mas se
vai trabalhar, é claro que precisa receber.
— Dr.
Otávio, eu quero trabalhar para compensar pelo menos um pouco o fato de eu vir
morar aqui com a minha irmã. Se eu receber o pagamento, o fato de eu trabalhar
se torna sem sentido. Aí sim as pessoas pensarão que eu e minha irmã estamos
nos aproveitando do senhor.
Otávio
suspirou.
— Não se
preocupe com o que as outras pessoas pensam. Mas se é assim que você quer e se
é assim que se sente melhor, então será feito dessa forma. Mas se quiser voltar
atrás na sua decisão, é só me falar.
— Claro,
seu Otávio. Então, eu vou saindo.
— Está bem.
De
repente, logo após Emanuela sair, Otávio sentiu uma pequena pressão no peito.
Pegou um fraco de comprimidos e tomou um. Sentou-se, recostando a cabeça na
poltrona, tentando descansar.
Ao sair
do escritório do Dr. Otário, Emanuela se deparou com Fabrício que saía da
biblioteca. Os dois ficaram surpresos e permaneceram em silêncio por alguns
segundos.
— Posso
falar com você um segundo? – disse Fabrício.
***
Fabrício
e Emanuela estavam no jardim.
— Então,
você está se acostumando à nova rotina?
Emanuela
virou-se para a mansão a olhando.
— Eu
cheguei há muito pouco tempo... Não dá para dizer. – e olhando para Fabrício. –
Você já soube como eu vim parar aqui?
— Sim,
Viviane me contou algo a respeito.
Emanuela
olhou para Fabrício como que querendo perguntar algo, mas hesitava.
— Você e
a Viviane... Vocês são amigos há muito tempo?
Fabrício
pensou por um instante.
— Sim...
Muito tempo... Acho que desde que tínhamos 4 ou 5 anos. Nossa família sempre
foi muito próxima da família Alcântara.
— Ah...
Entendo.
Fabrício
olhou curioso para Emanuela, que parecia estar um pouco tímida naquele momento.
— Você
está diferente.
— Ah?
Diferente? – disse um pouco surpresa.
Ele se
aproximou de Emanuela devagar e ficou bem perto do rosto dela. Emanuela sentiu
seu rosto ruborizar.
— Sim. Não
sabia que tinha esse lado. Muito diferente da última vez que nos encontramos. –
disse ele, afastando-se um pouco.
Emanuela
lembrou-se do último encontro que eles tiveram.
— Quanto
aquilo... Eu peço desculpas. – disse ela - Acho que fui um tanto rude com você.
Depois de tudo o que você fez.
— Eu
também não fui muito educado logo quando te vi aqui na mansão. Então, estamos
quites.
Súbito,
Fabrício se afastou de Emanuela e indo para um canto do jardim, retirou uma flor
e a trouxe. De repente, sem que esperasse, ele se ajoelhou apoiando-se em um dos
joelhos. Emanuela ficou com a boca aberta como se não estivesse acreditando no
que estava vendo.
— O-o que
está fazendo? – disse, olhando para os lados - Se levante, por favor.
—
Emanuela, você aceita namorar comigo? Talvez eu não tenha coragem de pedir e
nem mesmo outra oportunidade, então, estou fazendo isso agora.
Emanuela
não sabia o que fazer. Se sentia tão
envergonhada e não sabia se saía correndo ou apenas tentava se esconder.
— Por
favor, se levante. Você não precisa fazer isso. E se alguém vê? O que vão
pensar?
— Não
sairei daqui até que aceite. – disse ele resoluto.
Emanuela
ficou mais surpresa.
— Tudo
bem... Eu aceito. Mas, por favor, se
levante.
Fabrício
se levantou satisfeito. Pegou a flor e colocou na orelha de Emanuela. Depois,
olhou para frente sorrindo.
— Precisa
sorrir tanto desse jeito? – perguntou Emanuela um pouco tímida.
— Sim. Eu
estou feliz. – disse ele, sorrindo para ela.
Emanuela
olhou para o lado, tentando esconder o riso.
— Você
também está rindo. – disse ele.
— Não
estou. – ela olhou para ele séria, se
contendo. E um pouco mais séria. – Você não tem medo?
— De quê?
— Meu
mundo é desconhecido até mesmo para mim. Ele é tão complexo que nem mesmo eu
posso me entender. Tem coisas sobre mim que nem sequer tenho coragem de dizer
em voz alta. – e olhando para ele –"Tu te tornas eternamente responsável
por aquilo que cativas"... Está realmente preparado para isso?
Fabrício
olhou para Emanuela, aproximando-se lentamente, em seguida, beijou-a
ternamente.
— Isso
responde a sua pergunta? – disse ele - E quanto a você ser complexa, existe
realmente alguém que não seja assim nesse mundo? Pode parecer estranho eu dizer
isso, mas você é uma garota diferente de todas as que encontrei. Se depender de
mim, vou me agarrar a você e nunca mais vou soltá-la.
Emanuela
sorriu.
— Você
sabe que o que acabou de falar é muito clichê, não é? A maioria dos caras
quando querem conquistar uma garota falam isso... E 99,99% das vezes é mentira.
Fabrício
sorriu.
— É
mesmo? É uma pena... Por causa dessas 99,99% frases ditas como mentira, a minha
sinceridade que faz parte dos 0,01% acaba sendo prejudicada.
— Ah, por
favor... – Emanuela riu-se - Não seja tão piegas e não faça eu me arrepender
pelo que acabei de fazer.
Fabrício
olhou para Emanuela e se aproximou.
— Eu
gosto de você assim... Não a Emanuela que é fria, mas a Emanuela que sorri e não
tem medo de demonstrar o que pensa e o que sente.
Fabrício
se inclinava para beijá-la novamente, quando ouviu alguém o chamou.
Viviane e
Verônica aparecerem na porta de entrada da mansão. As duas estavam prontas e
Verônica chamou o irmão.
— Agora
tenho que ir. – disse ele para a Emanuela - Serei motorista particular por um
dia.
Ele se
afastou, enquanto Emanuela observava. De repente, ela percebeu que Viviane a
observava também.
***
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